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Sexta-feira, 26/7/2002
O Mistério dos Incas
Gian Danton

Uma grande quantidade de pessoas conhece tudo sobre a história da Europa ou dos EUA, mas desconhece completamente a histórias dos povos que nos deram origem. Para os que se ressentem dessa falha, uma boa pedida é o livro O Império Inca, lançado recentemente pela Time Life Livros e pela Abril Coleções.

A civilização Inca sempre intrigou os estudiosos. Afinal, o povo andino conseguiu criar um dos impérios mais importantes e extensos do mundo sem conhecer a roda. Os incas formaram uma das sociedades mais complexas e bem estruturadas de todos os tempos, com uma hierarquia rígida e um sistema social em que nenhum integrante do império jamais passava fome, mesmo nos períodos de seca, terremotos ou outras catástrofes naturais.

O exército era muito bem estruturado, com guerreiros que pareciam não sentir medo.

E no entanto, todo esse império foi vencido por menos de duzentos homens comandados por um analfabeto.

Para compreender a derrocada dos Incas é importante conhecer as circunstâncias políticas da época em que Francisco Pizarro (um filho ilegítimo sem nenhum estudo que fora para a América em busca de fortuna) chegou aos Andes.

No período em que os primeiros europeus começaram a saquear a América, os Incas eram governados por um grande guerreiro chamado Huayna Capac. Pouco tempo depois ele morreu, provavelmente vítima da varíola, uma doença trazida pelos espanhóis.

Junto com o Sapa Inca (que era como se chamavam os governantes desse povo) morreu seu sucessor e dois irmãos começaram a lutar pelo trono. Huascar (gentil colibri) foi eleito pelos nobres em Cuzco, mas o exército, acampado em Quito, preferia Atahualpa.

Embora Anahualpa reconhecesse o irmão como o novo Sapa Inca, Huascar desencadeou a crise exigindo a presença de seu irmão em Quito. Desencadeou-se uma sangrenta guerra, que Huascar foi derrotado e aprisionado.

Quando Pizarro chegou no Peru, o grande Império estava, assim, debilitado por guerras e pela varíola.

O espanhol acampou com seus poucos homens na praça principal de Cuzco. Os guerreiros que os esperavam eram tantos que uma testemunha da época escreveu que os espanhóis ficaram apavorados.

Pizarro convidou o Sapa Inca a visitá-lo. O Imperador, achando que apenas um punhado de homens não poderia inspirar um perigo real, deixou seu exército fora da cidade e compareceu apenas com sua guarda pessoal, que na verdade tinha cerca de cinco mil homens. Mas, embora fossem muitos, eles vinham sem armas, mais numa atitude cerimonial do que guerreira.

Encontraram a praça vazia, a não ser por um padre com um missal em uma mão e a cruz em outra. É que o Rei da Espanha havia dado ordens de só derramar sangue dos povos conquistados depois de ter dado a eles a chance de se converter ao cristianismo. Claro que tudo era apenas uma pantomima para justificar o massacre que se seguiria.

Os incas adoravam o sol, Inchi, e, evidentemente, a lenga-lenga do padre não logrou convencê-lo. "Tu dizes que seu deus foi levado à morte, porém o meu está sempre vivo", disse Atahualpa, mostrando o sol que se punha. Disse isso e jogou ao chão a cruz que havia recebido.

O padre dominicano se voltou para Pizarro e deu a deixa para o ataque: "Acabem com eles! Eu concedo absolvição a todos!". O que se seguiu não estava nem nos mais negros sonhos do Sapa Inca. Canhões começaram a retumbar, matando dezenas de indígenas. Os soldados atacaram a multidão apavorada, aos gritos de "Santiago!", o santo protetor dos combates. Os incas nem mesmo reagiram, tamanha foi a surpresa. O máximo que fizeram foi tentar proteger o imperador, levantando a liteira que o carregava. Como resultado tiveram suas mãos cortadas. Atahualpa só foi poupado porque Pizarro havia prometido a pena de morte para quem o molestasse. Com o Imperador aprisionado, os espanhóis iniciaram o saque do Império.

O objetivo dos espanhóis não era colonizar as novas terras, mas tirar delas todas as suas riquezas e destruir todos os traços do poderoso e organizado povo que vivia naquele lugar. Não só todo o ouro inca foi mandando para a Espanha, mas também todos os monumentos foram destruídos e a até as múmias dos antigos Sapa Incas foram encontradas e queimadas.

A população local reduziu de sete milhões para 500 mil, tantos foram os que pereceram, vítimas de doenças ou dos trabalhos forçados.

Como resultado, pouca coisa sobrou sobre esse povo que está na base de nossa origem. Hoje um brasileiro comum sabe mais sobre a Grécia antiga que sobre o Império Inca.

O livro da editora Abril é uma boa oportunidade de compreender um pouco melhor essa fantástica civilização em uma edição ricamente ilustrada, com figuras em marca d'água impressas em dourado e texto envolvente. São 168 páginas de uma agradável história da América do sul.

Se considerarmos a qualidade gráfica (encadernação em capa dura, impressão em policromia e papel cochê), o preço é uma barbada: apenas 38 reais. Só para comparar, a maioria dos livros da série O Senhor dos Anéis, embora sejam em preto e branco e papel normal, custam muito mais do que isso.

O volume faz parte de uma coleção que inclui também os títulos Egito - a Terra dos Faraós; O Esplendor dos Maias; Roma - Ecos da Glória Iimperial; Os Vikings - Intrépidos Navegantes do Norte; Astecas - Reinado de Sangue e Esplendor e Os Reinos Soterrados da China.

Para ir além



O Império Inca
Editora: Time-life e Abril Coleções

Gian Danton
Macapá, 26/7/2002

 

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