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Terça-feira, 1/10/2002 Tesouros musicais Waldemar Pavan Graças ao barateamento de custos de produção proporcionado pela expansão significativa do número de gravadoras e pelo formato cd, a história da música brasileira contemporânea está recheada de novidades e relançamentos. Nunca se gravou e regravou tanta música no país. Se por um lado, os números são motivo para vitoriosa comemoração - ao toparmos com tantas opções de escolha -, por outro, esbarramos em gargalos clássicos do tipo "será que este disco é bom?". A história começa a se complicar por aí, já que grande parte das gravadoras e artistas independentes não dispõem de grana para divulgação via imprensa escrita ou jabá-pedágio em rádio e tv. Outro gargalo de identificação são as lojas de discos, que normalmente mantêm funcionários resumidos ao conhecimento de 'localizadores fisicos de cd's'. Poucas lojas dispõem de atendentes orientados para informar sobre o conteúdo de cd's. E, para piorar a situação, a grande maioria dos estabelecimentos hoje se recusa a abrir a embalagem e tocar o cd, ou seja, presume-se que o consumidor de discos vá à loja sabendo o que quer comprar. Eu posso considerar que grande parte dos consumidores de discos saiba previamente o que comprar. Já os que querem ir um pouco além do jardim, para fugir da ditadura e da mesmice das paradas de sucesso - patrocinadas pelo jabá-pedágio -, devem se informar sobre o quê adquirir (e como), nestes tempos de grana curta... Uma das formas de se informar sobre estes desconhecidos conteúdos musicais em cd seria voce participar de uma ou de algumas tribunas musicais na internet, onde as pessoas trocam informações a esse respeito. A desvantagem do formato é o tempo gasto na leitura de mensagens (que muitas vezes não vão te interessar). Outra forma seria a leitura de todos os cadernos culturais do país, na caça de notícias sobre sobre o assunto (essa também é uma tarefa que demandaria um tempo de que a maioria das pessoas não dispõe). Para alegria geral de quem quer saber diariamente de tudo o que é publicado sobre música brasileira no Brasil (e no mundo), existe o blog canadense Brasilian Music Treasure Hunt, que reúne todas as noticias sobre música brasileira publicadas em sites especializados, jornais, revistas nacionais e internacionais. É disparado o melhor blog sobre música popular brasileira na internet; é minha mais satisfatória leitura - que com prazer tornei obrigatória - e está adicionado à lista de 'Favoritos' como minha primeira opção de visita diária. Voce se perguntará: "Um site canadense que divulga a música brasileira?". Sim, site canadense, pessoas que não são brasileiras e que trabalham ardua e diariamente na divulgação de nossa música pelo Brasil e por todo o mundo. No quesito garimpagem de preciosidades musicais desconhecidas de grande parte do público brasileiro, caberiam também à jornalista-pesquisadora norte-americana Daniella Thompson todos os titulos de honra ao mérito por seu incansável trabalho desenvolvido em prol e na divulgação da música popular brasileira das cepas culta e clássica, tanto instrumental como vocal. Seu envolvimento com música brasileira é tão intenso e legitimamente amoroso que Daniella Thompson dispõe de um blog com atualização diária e de um site, onde o assunto invariavelmente é a boa música brasileira de pequena produção, a exemplo das melhores safras dos melhores vinhos (observe que esta analogia leva em conta somente a qualidade diferenciada do conteúdo e não o preço dos cd's). Já no dominio ponto-com-ponto-br não sobra para ninguém quando o assunto é Samba e Choro. Graças à dedicação, interesse e disponibilidade de Paulo Eduardo Neves, há cinco anos a Agenda do Samba & Choro informa a população cibernética mundial o que de melhor acontece no âmbito destes dois gêneros brasileiros e suas vertentes. A exemplo do blog canadense e dos dominios de Daniella Thompson, a Agenda do Samba & Choro funciona desde sempre sem nenhum patrocionio financeiro, graças à marca registrada da dedicação com que o jovem Paulo Eduardo Neves escreve e publica dois informativos semanais (às terças e sextas-feiras), endereçados a mais de uma dezena de milhares de assinantes, que nada pagam para recebê-lo. Nestes dois informativos semanais, além das novidades musicais inerentes aos gêneros, você fica sabendo de toda a programação diária e do roteiro de bares, teatros e eventos públicos de Samba & Choro, que não são cobertos pela midia jabazeira. Melhor: antes que se aventure a ir a qualquer destes bares-eventos, você pode conferir os defeitos e virtudes através de um roteiro brasileiro de casas de espectáculos, com destaque para os estados de RJ e SP, onde quem dá a nota e faz comentários sobre atendimento, produtos e serviços é o frequentador. Nesta altura voce deve estar desconfiado que é deste roteiro que o site retira seu sustento. Ledíssimo engano: dias atrás, comentei um fato ocorrido no Café du Reve mais conhecido por Bar do Cidão. Leia então a informação sobre esse bar nos dominios Samba & Choro, seguido de comentários de frequentadores, e entenda por que nenhum dono de botequim favorece financeiramente o referido sítio. O que interessa ao site é a divulgação do artista (como artistas de Samba & Choro muito se apresentam em bares e similares fica mais que justificada a inclusão do roteiro de casas). Outro aspecto importantissimo desse site é a informação nele contida (falo sem medo de errar): é a maior base de dados de Samba e Choro do mundo, aberta gratuitamente para lazer ou pesquisa à toda a população, através da ferramenta Google customizada dentro do site. Sou frequentador assíduo - talvez o mais - dessas páginas, e sei que muitos autores de trabalhos e teses vão beber da água limpa dos arquivos Samba & Choro. Bem, agora vamos a outro ponto que pode despertar suspeitas de enriquecimento: a loja virtual de discos abrigada nos domínios Samba & Choro. Através dessa loja, você adquire o supra-sumo de Samba e Choro diretamente do artista ou das melhores gravadoras brasileiras (Kuarup, Rob Digital e Biscoito Fino); e melhor: na maioria das vezes por preço abaixo do preço praticado pelo mercado. Eu não vou mentir para voces, Paulo Eduardo Neves fatura uns piruás com essa loja virtual; mas é piruá mesmo, negócio que dá para ele pagar pequena parte das ampolas de cervejas que consome em noites cariocas. Qualquer disco que você venha a adquirir no dominio Samba & Choro é sinônimo de boa música e, para não dizer que não falei de flores, recomendo os recentes e extraordinários O Samba das Rodas, por Galloti, Teu Nome, Pixinguinha, por Marcelo Vianna (neto de Pixinguinha) e o sensacional Entidades I, do não menos que espetacular sambista Wilson Moreira, fortíssimo e nobre pilar madeira-de-lei do Samba. Outros não tão recentes, que nasceram clássicos e classudos, foram Aurora de Paz, de Elton Medeiros, parceiro constante de Paulinho da Viola, A Lua e o Conhaque, de Delcio Carvalho, parceiro constante da esplendorosa Dona Ivone Lara, e, finalmente, o excelente Coisa de Chefe, de Cláudio Jorge, que concorreu ao Grammy Latino 2002, na categoria "Melhor Disco de Samba", perdendo para "Deixa a Vida Me Levar", de Zeca Pagodinho; mas, garanto-lhe: está pau-a-pau no quesito delícias musicais (faltou a esse disco de Cláudio Jorge somente o mesmo e merecido tratamento mercadológico diferenciado que recebeu Zeca Pagodinho). Faço essa recomendação de compras via o site Samba & Choro porque sou vasculhador compulsivo de lojas de discos aqui na capital de São Paulo e esses discos que recomendo são dificílimos de serem avistados aqui (inclusive o de Cláudio Jorge, que concorreu ao Grammy Latino). Agora, imagine em outras praças menos fornidas por lojas. São músicas que não tocam no rádio e nem na tv por motivos óbvios ($$$). A internet, acredito, ainda é o melhor meio de se divulgar esses belíssimos trabalhos brasileiros à margem da midia. Waldemar Pavan |
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