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Terça-feira, 28/1/1964 Carta ao Leitor Vera Moreira Jornalista de profissão e cozinheira de paixão, as panelas me conquistaram ainda garota, quando inventava receitas de bombons recheados de frutas e maioneses de iogurte. O casamento com as letrinhas aconteceu já no 2º semestre da faculdade, quando comecei a trabalhar de "foca" na imprensa gaúcha e fazendo "bico" de garçonete à noite no Doce Vida, um restaurante de amigos. Ao mudar para São Paulo, entrei em transe com a exuberância da cidade e caí perdidamente apaixonada pela Liberdade e os sashimis dos seus restaurantes de portinhas misteriosas. A especialização veio com o jornal O Estado de S. Paulo, em 1990, quando criei novo formato para a seção "O Melhor de Tudo" - passando de uma para quatro páginas semanais, abordando diversos aspectos da comida na paulicéia: restaurantes, compras, ingredientes, bebidas, fast food, literatura, estilo, perfil de profissionais, artigos, etc. A experiência aguçou meu apetite e, de volta a Porto Alegre, em 1992, lancei o caderno "Gastronomia" para a Zero Hora, do grupo RBS. Muita gente não acreditava que fora da capital paulista o assunto rendesse tanto material e despertasse tamanho interesse nos leitores: das quatro páginas iniciais passou para oito, e é sucesso até hoje! Um ano e meio depois, lá fui de mala e cuia, novamente seduzida por São Paulo, e abri a empresa Projed / Projetos Editoriais S/C Ltda, com a divertida sócia Denise Covas, publicitária. A minha primeira idéia foi uma revista de variedades e cultura para clientes de shopping center: nascia a Iguatemi, com o glamour do Shopping Iguatemi, onde só admiti dividir a página de "Cozinha" com o texto saboroso de Nina Horta. Para a redação, escolhi uma constelação de colunistas amigos: Ruy Castro, Luis Fernando Veríssimo, José Onofre, Luiz Carlos Merten, Luiz Zannin Oricchio e Miriam Gomes de Freitas, entre outros colaboradores de raro brilho como o fotógrafo Eduardo Simões e o ilustrador Daniel Kondo. Em 1995 criei a revista Livros, etc., para a editora Nobel, com muita gente do mesmo time da Iguatemi, fazendo resenha, entrevista, perfil e seções recheadas de inventividade. Quando uni a minha empresa com a L&M Comunicações S/C Ltda., entrei definitivamente para a mídia trade. Misturei meus conhecimentos de economia e geral, adquiridos nas redações da Gazeta Mercantil, Dinheiro Vivo e Jornal da Tarde, com a gastronomia e desenvolvi novos conceitos para as revistas da editora, entre as obviamente preferidas, Distribuição, da Associação Brasileira de Atacadistas e Distribuidores (ABAD), voltada à cadeia do abastecimento brasileira, na qual alimentos constituem o segmento mais forte e Panificação & Confeitaria, do Sindicato dos Panificadores. Agora em Gramado, o destino bate à porta com o convite para escrever sobre gastronomia na Internet, uma idéia que já se aninhara na minha cabeça (ano passado registrei o site www.sabordaserra.com.br), mas ainda não encontrava força - e tempo - para fazê-la brotar. Assim, foi um enorme prazer poder aceitar, pois justamente em dezembro resolvi mudar de vida e larguei a função de diretora de redação da L&M Comunicações, atividade que me consumia em São Paulo, para me dedicar mais ao meu novo negócio, que só podia ser com as panelas, é claro: Bistrô Alecrim e Pousada da Raposa Vermelha. Paralelo, continuo com a Projed, fazendo assessoria de comunicação para a ABAD e editando um boletim para a franquia americana de supermercados IGA - olha aí os alimentos de novo! Com a sopa de letrinhas no Digestivo Cultural, vou resgatar a linha que desenvolvi no Estadão e na ZH, mas misturando informação com opinião, ao estilo do site. A questão maior será sempre tratar o assunto na sua concepção mais ampla: comida é história, é cultura pura. Os temas, em geral, serão atuais. Vai predominar o que é bom, mas às vezes vou pegar mais pesado, alertando sobre algumas coisas. Na grande imprensa está carecendo espaço uma cobertura mais "coxuda". Muitos dos cadernos de gastronomia dos jornais ainda fazem mais roteiro do que cultura. Quando tem cultura, como o Caderno 2, do Estadão, o espaço é pouco - vale destacar as duas páginas semanais do Fim de Semana, da Gazeta Mercantil. As revistas azedam as páginas com uma salada de receitas, com exceção da Gula e da Sabor Pão de Açúcar, de São Paulo e Estilo Zaffari, de Porto Alegre (curiosamente duas das três editadas por iniciativa de supermercados). Mas as editoras de livros evoluíram barbaramente e temos de tudo um pouco por aí - sem falar dos importados, enfim comuns! E na TV já temos ótimos programas, como o Diário do Olivier, no GNT. Espero dividir muito prazer com os leitores, pois o assunto, de um jeito ou de outro, é saboroso. Adoraria receber sugestões, críticas, etc. Sirvam-se! Vera Moreira |
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