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Segunda-feira, 11/11/2002 Duas cantoras independentes Waldemar Pavan O objetivo primeiro desta coluna de hoje é prestar sincera homenagem a duas jovens cantoras brasileiras: a baiana Clécia Queiroz e a mineira Patrícia Ahmaral - por seus encantadores trabalhos musicais em CD. Já o segundo objetivo é divulgar seus discos independentes, já que ambas não contaram com o suporte financeiro de marketing das gravadoras. Ainda acredito que a melhor divulgação musical que se pode fazer é o testemunho pessoal em relação à uma obra. Neste quesito, a internet é um veículo fantástico para que os aficcionados em música - que é meu caso e o de milhares de pessoas que abastecem os fóruns musicais eletrônicos de música - troquem informações. Os discos de Clécia Queiroz e Patrícia Ahmaral não são lançamentos recentes mas ainda são comercializados, quase que com exclusividade, pelas lojas Pop's e Nuvem Nove em São Paulo, e Pérola Negra em Salvador. Clécia Queiroz - Chegar à Bahia - Produção Independente Clécia Queiroz (CQ) é dançarina-atriz-cantora-compositora-baiana, talvez você não a conheça. É mais comum encontar CQ apresentando-se em Hannover que em São Paulo - mora em Salvador - e desde quando iniciou sua carreira já apresentou-se 3 vezes na cidade alemã e apenas uma em São Paulo, no Crowne Plaza, no milênio passado. Nesta altura, você estará pensando que o encanto comum inerente a alemães e baianos rolou pela vertente carnaxé. Ledissimo engano: CQ é cantora de voz linda, delicada, afinada e absolutamente envolvente também por seu adeqüado repertório musical. Detentora de extensa lista de premiações por seus talentos artisticos, Clécia Queiroz passa ao longe das facilidades mercadológicas conquistadas pelas cantoras do axé-music da Bahia (como também passa ao largo das cantoras de repertório pretenso-intelectual). Além do dote vocal natural - reorientado por aulas de canto das professoras Nancy Miranda e Graça Reis -, Clécia Queiroz valoriza-se interpretando canções deliciosas sem ter de se que render ao repertório fácil, de refrões grudentos e enjoativos. "Chegar à Bahia" seu primeiro e único disco, lançado em 1998, é fresco e jovial como se tivesse sido lançado ontem. É nele que Clécia Queiroz desfila toda a requintada elegância da música de autoria de seus conterrâneos Batatinha, Gilberto Gil, J. Velloso, Saul Barbosa, Dorival Caymmi, Lúcia Helena e Roberto Mendes. Os talentos de atriz e dançarina comparecem explicitos em suas interpretações no CD. A verve de atriz fornece a dimensão precisa à palavra musical enquanto que os conceitos da dança conferem leveza de movimentos à poesia cantada. Clécia Queiroz é uma artista verdadeiramente completa, que, neste disco, "Chegar à Bahia", canta o melhor da criação autoral baiana e também passeia com sabedoria e imensa delicadeza nas notas do blues, funk, afoxé, candomblé e new-bossa. Luís Antônio Giron, eventual colaborador do Digestivo Cultural escreveu sobre CQ na Gazeta Mercantil em 15/10/99: "Surpreendente o show de Clécia Queiroz, que estreou na ACBEU. Bela voz, repertório refinado, performance extravagantemente teatral, aliados a uma direção segura fazem do show um espetáculo à parte na 'República do Axé'". Mauro Dias, colunista de O Estado de São Paulo, foi também preciso ao defini-la em 06/05/2000: "Na voz, um tanto de blue notes, mas nada a ver com o anasalado irritante das cantoras de axé. Em vez disso ela canta Batatinha (Diplomacia), Gilberto Gil (Buda Nagô), Dorival Caymmi (João Valentão) e apresenta-se como compositora em Ossum Inaê (parceria com Roberto Mendes)". O único quesito incompreensível fica por conta do Brasil, que ainda não conhece o talento de Clécia Queiroz. Parafraseando a máxima aplicável de João Bosco e Aldir Blanc: "O Brasil não conhece o Brasil". Em qualquer parte do mundo, os talentos superlativos de Clécia Queiroz já teriam alçado sua carreira ao showbizz internacional. Se por um lado é dádiva divina tê-la brasileira, por outro é lástimavel não vê-la conhecida, reconhecida e conseqüentemente apreciada em seu país natal (e olha que a talentosa já está na estrada musical desde 1991). Em 21 de Outubro de 1999, ninguém melhor que Clécia definiu o seu trabalho no Bate-papo do UOL: (15:18:07) Clécia Queiroz : Meu trabalho é muito diferente do de Daniela ou de Ivete Sangalo. Não desejo ser como as duas, quero trilhar meu próprio caminho dentro da MPB, sempre preocupada em fazer um trabalho de qualidade com fidelidade à nossa música e com uma preocupação com a poesia, com o que estou dizendo às pessoas. Apesar do lançamento do disco 'Chegar à Bahia' não ser recente, Clécia Queiroz continua a divulgá-lo. Em São Paulo, como disse, você poderá encontrar seu disco comercializado com exclusividade pelas lojas Pop's e Nuvem Nove e em Salvador pela Pérola Negra (endereços abaixo). Aproveito para fornecer uma dica: Pop's e Nuvem Nove são minhas lojas de discos preferidas em São Paulo. Não só por manterem em dia o melhor acervo qualitativo e diferenciado, mas também pela presteza no atendimento. São lojas onde proprietários e funcionários conhecem e informam sobre o que vendem e, melhor, praticam justa política de preços. Na Pop's quem faz a diferença no atendimento é Regina, Evaldo e Alemão. Patrícia Ahmaral - Ah ! - Gravadora Independente Já na loja Nuvem Nove, quem faz a diferença no atendimento é Ronaldo, Bento e José, cada um especialista em esclarecer suas dúvidas por segmento musical. Ronaldo sabe tudo de música brasileira. Só um breve exemplo: a melhor compilação de samba-rock dos anos 70 foi lançada pela Som Livre e contou com seu vasto conhecimento de acervo nas fases de seleção e montagem. Foi Ronaldo quem me proporcionou a oportunidade de conhecer, recomendando-me o raríssimo e espetacular disco independente da mineira Patrícia Ahmaral, patrocinado pelo Governo de Minas Gerais e Telemig Celular. Em uma tribuna musical da internet o participante mineiro Alan Romero já havia me informado sobre o talento musical de Patricia Ahmaral, mas na altura ele também desconhecia a existência desse disco. Apesar do patrocínio do Governo de Minas Gerais, não se trata de um disco com raízes fincadas nas composições de autores mineiros e, sim, um trabalho de dimensão nacional com autores variando de Zeca Baleiro à Matilda Kóvak, passando por Chico César, Adelino Moreira (o compositor mais freqüente na discográfia de Nelson Gonçalves) e Sérgio Sampaio, entre outros. O repertório vai de leituras reestilizadas de A Volta do Boêmio a Beijinho Doce (uma gostosa releitura no formato blues-mississipi para o grande sucesso de Nalva Aguiar), passando por 'Eu Quero É Botar Meu Bloco Na Rua'. Também 'Não Creio Em Mais Nada', sucesso na voz do falecido Paulo Sérgio, que reaparece em 'Ah!' na forma de um vigoroso reggae. Além de muitas e incriveis inéditas, como 'Durango Kid' e 'Voduzinho' (esta com a participação vocal de Zeca Baleiro). Os arranjos e os músicos participantes mereceriam um capítulo a parte. A produção do disco, realizado em 1999, ficou a cargo de Zeca Baleiro, que, dentre infinitos, multiplos talentos e méritos, tem o de revelar artistas para a música brasileira como Rita Ribeiro, Ceumar, Mano Borges, o octagenário Antônio Vieira e Patricia Ahmaral (atitude mais que louvável no mercado de vaidades que sempre assolou a música brasileira). O outro Zeca, o Pagodinho, também pratica identica generosidade e interesse quando o assunto é revelação de novos talentos, mas essa é um assunto em que em breve irei tocar. Como sou só admiração pelo trabalho e ainda não disponho de muitas informações sobre Patrícia Ahmaral despenquei no Google à caça de informações para rechear esta coluna acabando por topar com uma entrevista no site 'Página da Música', onde coincidentemente PA perfilou-se (indo de encontro ao objetivo desta coluna, que também é o de informar sobre talentos prontos para o reconhecido sucesso nacional e internacional). "Acho que existe muita gente produzindo coisas legais. Aqui mesmo em BH a gente vê isso o tempo todo. Mas falta realmente o mercado absorver isso. A gente está vivendo um momento, não do lado do mercado, mas do lado da produção estética musical, bastante prolífero, bastante rico mesmo. De alto nível. Mas o que falta é organizar o mercado para essa nova cara da música brasileira. Acho que é uma música moderna pra caramba, uma música muito atualizada, com as referências mundiais mesmo. Tem os elementos brasileiros, isso é muito forte em bandas de música pop, a gente observa muito isso. Há um elemento brasileiro muito presente associado a elementos universais e de uma riqueza muito grande. Às vezes sinto que a mídia, as gravadoras, as rádios, parece que estão muito perdidas em relação a como trabalhar toda essa riqueza que está aí. Ainda não existe uma nova ordem no meio do mercado para trabalhar o material existente. Acho que vai levar um tempo para isso acontecer. Até porque, pelo que a gente está vendo, as gravadoras não vão realmente absorver muito mais coisas. Acho que outros caminhos precisam ser abertos, como os pequenos selos que já estão rolando. As rádios comunitárias etc etc". Onde encontrar os CDs hoje comentados Pop's Discos : Rua Teodoro Sampaio 763 - São Paulo - 3083.2564 Nuvem Nove : R.Clodomiro Amazonas 112- São Paulo - 3078.7051 Pérola Negra: Av. Araújo Pinho 29/31- lj 02- Salvador - (71)336.6997 Para contratar os shows Clécia Queiroz : (71) 356.8249/ 9123.9050 Patricia Ahmaral : (21) 2235.7920 / 9177.7306 Waldemar Pavan |
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