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Sexta-feira, 20/12/2002 O bom professor Gian Danton Tenho percebido que em muitas instituições tem havido uma valorização excessiva de itens como cumprimento de prazos acadêmicos. O bom professor, para essas instituições, é aquele inicia suas aulas sempre exatamente no horário, sempre termina exatamente no horário, entrega as notas exatamente dentro do prazo. Até mesmo os questionários de avaliação dos professores reforçam essa filosofia. A maioria das perguntas são do tipo: o professor começa suas aulas sempre no horário correto? O professor nunca falta? O professor entrega as notas na secretária dentro do prazo estipulado pelo calendário acadêmico? É claro que um professor relapso, que falta, chega sempre atrasado, não cumpre prazos, na maioria das vezes é totalmente descomprometido com a educação e dificilmente irá acrescentar algo ao aluno. Mas reduzir a importância do professor a esses itens é esquecer os significado da educação. A teoria dos modelos mentais, da psicologia cognitivista, nos apresenta uma definição interessante de aprendizado. Para ela, percebemos o mundo através de modelos. A perceberemos uma nova informação a encaixamos dentro de um modelo já existente. Ao ver um beija-flor a pessoa a encaixará em seu modelo mental de pássaro. O aprendizado, segundo essa teoria, consiste na melhora, no enriquecimento de modelos mentais. Imaginemos um indivíduo que desconhece completamente o que é um avião. Ao ver uma aeronave, sua tendência será encaixar essa nova informação em um de seus modelos. O avião, portanto, é um pássaro. Mas, conforme tiver conhecimentos sobre o assunto, esse modelo irá evoluir para pássaro de metal e finalmente para uma nova categoria, a de coisas que voam, mas não são pássaros. O exemplo demonstra a evolução de um modelo mental, e, portanto, de aprendizado. Segundo Nilson Lage, enquanto o marketing objetiva, em geral, a atualização de modelos mentais pré-existentes, com preferências pelos mais gerais e primitivos, a educação pretende algo além disso. Quer influir sobre os modelos mentais de modo a modifica-los radical e duravelmente. Raramente as avaliações institucionais são capazes de perceber essa dimensão, especialmente em decorrência de sua ênfase sobre a norma. Há momentos em que aprender significa fugir da norma e, portanto, dos modelos mentais pré-estabelecidos. Certa vez faltou energia no horário de uma de minhas aulas. Como a sala estava excessivamente quente, levei meus alunos para debaixo de uma árvore e continuamos ali, em círculo. Poucas vezes tive uma aula com tanta participação de meus alunos e, curiosamente, essa turma se saiu muito melhor na prova do que as outras, que haviam tido aula na sala. Nesse caso, aprender significou também mudar o modelo mental de que só se aprende em sala de aula. Sócrates não cumpria carga horária, ou entregava diários de classe na secretária, ou começava e terminava suas aulas sempre no mesmo e específico horário. Entretanto, alguém duvida de que ele foi uma das figuras universais mais eficientes em mudar os modelos mentais de seus alunos? No livro Como Se Faz uma Tese, Umberto Eco nos diz que seu modelo ideal de aula seria aquele em que o professor ministrasse uma conferência, seguida de um momento em que cada aluno, de acordo com seu interesse, o procurasse para discutir o assunto. Muitas vezes o aluno aprende através de um livro que um professor indica, ou uma conversa de corredor. Boa parte do que aprendi com meu orientador de mestrado, aprendi em conversas durante o almoço. Sem a obrigatoriedade de seguir um conteúdo programático, suas observações eram guiadas pela minha curiosidade sobre o assunto. Claro que não se trata de propor uma escola em que não haja nenhum compromisso com horários ou prazos, mas o grande problema é que a ênfase da maioria das escolas tem dado apenas para esse aspecto. Para essas instituições, o bom professor é aquele que chega exatamente no horário, termina exatamente no horário e entrega suas notas em dia na secretaria. Se houve aprendizado é irrelevante. Normalmente, esse ponto de vista, positivista na sua essência, é justificado, nas faculdades particulares, com o argumento de que o aluno paga para ter 50 minutos de aula. Isso não é verdade. Ele paga para aprender. Seja debaixo de uma árvore ou dentro da sala de aula. Seja nos 50 minutos de aula ou em uma conversa na lanchonete. Gian Danton |
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