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Sexta-feira, 10/1/2003
Relações de sangue
Gian Danton

Imagine que sua melhor amiga é uma vampira. Agora imagine-se no meio de uma trama policial envolvendo mulheres solitárias assassinadas por um falso vampiro. Esse é o enredo de Relações de Sangue, de Martha Argel, lançado recentemente pela editora Novo Século.

O livro vem no vácuo do sucesso da novela O Beijo do Vampiro, mas não se rebaixa ao besteirol, como ocorre com a novela. Martha escreve bem e, apesar de uma outra seqüência de pensamentos um pouco longa, consegue manter o leitor atento até a última página.

O que Marta Argel traz de inovador para o gênero é absoluta falta de glamour dos vampiros. Eles são mostrados como pessoas normais, com anseios e necessidades comuns (se é que se pode dizer isso de alguém que se alimenta de sangue). Anne Rice já havia feito algo semelhante como seus livros, mas Argel leva a idéia ao extremo. A narrativa os torna tão reais que perdemos completamente qualquer tipo de espanto com suas ações. Como diz a personagem principal: "Mundo real... estranho dizer isso de um mundo onde, de uns tempos para cá, os vampiros tinham passado a ser minhas companhias mais constantes. Não dá para acreditar nisso, né? Vampiros existem. De verdade. Doidera. Se alguém tivesse dito isso para mim uns dois meses antes, eu o teria chamado de maluco".

Um destaque do livro é forma despojada, quase escrita automática, com que ele foi produzido. As frases parecem reproduzir mesmo o pensamento da personagem, o que dá um toque ainda mais cotidiano à trama. Exemplo: "Clara! Deixa de ser besta. Esse cara não é um cara, é um vampiro. Repita comigo: vam-pi-ro".

A trama é bem arquitetada e as seqüências de luta são muito bem descritas. O trabalho gráfico também merece destaque. A capa junta vermelho e preto, com letras em alto relevo, o que é muito apropriado para um livro gótico. O único senão é com relação ao título do livro. Escrito em uma fonte light, ele mal se destaca na capa.

Martha é doutora em ecologia pela Unicamp. Suas atividades profissionais a levam a viajar a todo Brasil pela América Latina. Tem dois livros de contos publicados, além de participar de vários fanzines e revistas de ficção científica, fantasia e terror. Ela também mantém um site pessoal (www.argel.hpg.com.br) e um site da vampira Lucila (www. Lucila.hpg.com.br), personagem de Relações de Sangue. No site, Argel dá o perfil da vampira: "Supõe-se que tenha nascido no longínquo ano de 1677, em algum país mediterrâneo, tendo sido vampirizada antes de chegar aos vinte anos. Sempre foi uma criatura discreta, de forma que é muito difícil traçar sua história e o roteiro de suas viagens. Parece ter passado ao menos os 250 anos seguintes em solo europeu, vindo para a América em algum momento das primeiras décadas do século XX. Inicialmente fixou-se nos Estados Unidos, mas na década de 60 chegou ao Brasil. Desde então mora na cidade de São Paulo. Lucila é do tipo mignon, pequenina e delicada. Tem grandes olhos castanhos, e um olhar inocente que enganaria a mais desconfiada das vítimas".

O site também apresenta outras histórias com Lucila, algumas, inclusive, produzidas por outros escritores.

Para ir além





Gian Danton
Macapá, 10/1/2003

 

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