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Terça-feira, 28/1/2003
Curitiba redescoberta
Clarissa Kuschnir

Curitiba é um modelo de qualidade de vida.

Com uma população de cerca de 1,5 milhão de pessoas, a capital paranaense tem um dos melhores transportes públicos do mundo, uma área verde de fazer inveja e uma vida cultural agitadíssima. Dá vontade de conhecer um lugar assim, não é?

Tanto é verdade que eu até resolvi dar um tempo na minha coluna de cinema e fui conhecer de perto esse lugar acolhedor. Entre os inúmeros pontos turísticos que a cidade oferece, uma das paradas obrigatórias é o recém-inaugurado Novo Museu - uma obra de autoria de Oscar Niemeyer, onde se destaca um enorme olho de concreto e vidro que abriga várias mostras diferentes. No total, são sete mostras que reúnem inúmeros artistas plásticos.

Dentre as atuais exposições, uma das mais curiosas se chama "Uma História do Sentar" e expõe cadeiras para todos os gostos, até os mais duvidosos. Algumas delas, inclusive, podem ser testadas pelo público. Há de tudo: desde a cadeira escolar até poltronas transparentes e modernas, como a da artista plástica Jacqueline Terpins. Segundo o arquiteto Mies van Rohe, em uma entrevista de 1957, a cadeira é um objeto muito difícil de ser produzido - mais até do que um arranha-céu. Afinal, não é nada fácil acertar o material, tendo em vista o conforto que a peça deverá proporcionar. Além disso, há modelos em miniatura e até mesmo bancos em formato de bicho. "Uma História do Sentar" não é um mero panorama do design da cadeira no Brasil, mas também uma reflexão sobre o ato de sentar. Segundo a exposição, nossa geração se compõe de pessoas sedentárias que passam a maior parte de suas vidas sentadas.

Entre os artistas plásticos, vale destacar: Lina Bo Bardi, Lasar Segall, Fernando Jaeger, Oswaldo Bratke e Oscar Niemeyer. Reserve um dia inteiro para conhecer todo o museu.

Continuando nosso passeio, outro ponto turístico imperdível é o Jardim Botânico: famoso por sua estufa de vidro e sua exposição com diversas espécies de plantas. Há também o belíssimo, mas um pouco decadente, teatro Ópera de Arame (eu digo decadente porque, por dentro, o teatro não está tão bem cuidado e não há mais espetáculos, somente formaturas de escolas e faculdades), todo construído com estrutura de tubos de ferro e vidros transparentes, além do memorial Ucraniano (me senti em casa por ser neta de ucranianos). Aliás, você sabia que o Estado do Paraná é o que mais tem ucranianos no Brasil? Turismo também é cultura.

Se o tour deu um pouco de fome, que tal dar uma paradinha no bairro italiano da Santa Felicidade, onde se pode comer muito bem massas e carnes? A propósito: o maior restaurante do Brasil, o Madalosso, se encontra nesse bairro (são mais de 4 mil lugares prontos para receber clientes vindos de diversos lugares do país). Ao andar em uma das avenidas do Bairro de Santa Felicidade, pode-se também observar algumas bonitas lojas de movéis finos.

Um passeio que estava bastante ansiosa para fazer era a viagem de trem de Curitiba até o Porto de Paranaguá. Foi algo que realmente superou minhas expectativas. Gastei um filme fotográfico inteiro só registrando as belas paisagens. Valeu cada uma das quatro horas que levou para ir e para voltar. Trata-se de uma das maiores obras da engenharia mundial e foi construída no final do século XIX. Durante o passeio o trem passa por 67 viadutos e 13 túneis. O ideal é viajar do lado esquerdo do trem, para desfrutar de uma visão mais privilegiada das belas paisagens. A única coisa que achei que poderia ser melhorada são as condições dos vagões dos trens (com uma boa pintura e uma reestruturação interna, eu daria nota 10 para o passeio).

Enfim, Curitiba merece ser descoberta. Se você tiver oportunidade, vá e comprove as maravilhas desta cidade do Sul do Brasil. Com certeza, não irá se arrepender.

Clarissa Kuschnir
São Paulo, 28/1/2003

 

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