|
Segunda-feira, 17/2/2003 Luz no breu: entrevista com poeta Donizete Galvão Jardel Dias Cavalcanti O poeta Donizete Galvão é autor de seis livros de poesia: Azul navalha (S.P.: T. A Queiroz, 1988), As faces do rio (S.P: Água Viva, 1991), Do silêncio de pedra (S.P: Arte Pau-Brasil, 1996), A carne e o tempo (S.P: Nankin, 1997). Ruminações (S. P: Nankin, 1999) e Pelo Corpo (junto com Ronald Polito - S.P: Alpharrabio Edições, 2002). *** Robert Musil definiu o poeta "como o homem que tem mais consciência do que qualquer outro da irremediável solidão do eu no mundo e entre os homens". É a partir desta experiência fundamental, onde não há terra salvadora, que cada poeta cria a particularidade de sua obra. A poesia de Donizete Galvão busca revelar um mundo "que encene em sua carne/ o espetáculo da queda" (Golem). Todos os elementos que habitam sua obra (frutos, plantas, animais domésticos, paisagens, jornais, obras de arte, etc.), embora guardem um valor de materialidade, não devem ser vistos por si mesmos. São sinais da angústia que os percebe, ou melhor, os cria. Isso não quer dizer que sua poesia seja, por isso, marcada pela negação, pela recusa, pela destruição ou pelo fracionamento. Atente-se para o poema "Figos" (A carne e o tempo): embora a destruição dos figos seja irremediável, eles aparecem no apogeu de sua força, "exatos em sua configuração", exibindo sua "violácea florescência íntima". O espetáculo desta contradição in natura (como, talvez, uma metáfora da força da vida e de sua posterior destruição) é espiritualizada e intensificada na forma sensível da poesia. É alimentando-se dessa contradição que Donizete cria uma poesia que faz coabitar "trigal de luz" e "morada de sombras", "escamas de cristais" e "hálito de lodo". Nesse sentido, está o poeta próximo ao sublime Van Gogh, que fez um quarto miserável e um par de botas apodrecidas tornarem-se poesia e uma noite angustiosa promover a dança das estrelas no cosmos. Diante das vertigens que o mundo proporciona no seu jogo de "sombras", a poesia de Donizete se faz "reluzente", "vai abrindo trilhas", faz ouvir "o rumor do cristal" e, como "Os olhos de Anna Lívia" (Do silêncio de pedra), mostra "luz no breu." Para Donizete é entre a tensão do "desisto/ resisto" que brota o "existo". Ele sabe que está à margem de um "rio morto/ rio fétido/ rio podre/ rio lodo". Mesmo assim, e ainda que melancolicamente, faz surgir desta margem "uma garça" - é sua poesia: "musgo de abismo que o sopro/ de sua voz alcança e macera" ("Sim, one"). Abaixo, entrevista que o poeta Donizete Galvão nos concedeu por e-mail. 1 - O que o fez tornar-se poeta? Pode apontar algumas razões? DONIZETE: Tenho enorme dificuldade em aceitar essa denominação de poeta. Acho que nunca escrevi que sou poeta, quase sempre digo que sou autor de livros de poesia. Demorei muito a aceitar uma vocação tão difícil, tão dolorosa. Tanto que publiquei tarde o meu primeiro livro, Azul navalha, aos 33 anos. Parece-me que não há muita escolha. As razões são as de sempre: sentimento de inadequação, insensatez, um mal-estar interno que busca uma válvula de saída. Cioran diz que há outras saídas como a santidade, o vício, o suicídio. Eu procurei na poesia uma maneira de suportar o mundo. Há uma crônica muito bonita do Otto Lara Resende chamada A maldição da poesia onde ele diz que quando um moço aparecia dizendo que era poeta o coração dele apertava. Ele cita Claudel para quem a vocação artística dava medo, era perigosa, gerava frustração e desequilíbrio. Enfim, Claudel não desejava para ninguém o dom da poesia. Acho que a gente não chega a escolher, é arrebatado pela poesia. Parece romântico, mas é no que acredito. 2 - No seu livro A Carne e o Tempo existe um poema, denominado "Retrato de Artista", que trata da questão do artista (misto de Joyce e Wagner), que atropela qualquer convenção apenas para que sua arte exista. Comente essa "situação" do artista e o poema citado. DONIZETE: Sempre tive uma certa implicância com a figura do artista, que é um tanto desmiolado sacrifica a família, inferniza os amigos, rouba idéias. Entretanto, depois de ler a biografia que Richard Elmann fez de Joyce compreendi que o artista precisa mesmo dessa carapaça para sobreviver em meio ao caos. Ele não pode ter autocrítica. Precisa acreditar na grandeza do que está fazendo, mesmo que desagrade a todos. Os artistas quase nunca são bons moços. Penso no caso de Thomas Mann, por exemplo, que usou e abusou dos artifícios de retratar amigos com crueldade em seus livros. A arte tem suas exigências, não há muito espaço para a inocência. Eu sou mais apolíneo. Tenho uma dificuldade em aceitar o lado escuro. O poema é para aceitar esse outro lado, mais anárquico e sombrio. 3 - O corpo é um dos elementos mais freqüentes na sua poesia, não apenas o corpo humano, mas o dos animais ou quando ele surge em metamorfoses várias e sentidos metafóricos constantes. Isso aparenta um grande desejo de aproximação com o mundo orgânico, que se realiza na sua poesia através de epifanias. Como se dá esse encontro entre o poeta (e seu fazer poético) e as entranhas do mundo vivo? DONIZETE: Talvez essa aproximação com o mundo orgânico venha da infância, pois fui criado em sítio sempre muito próximo desses ciclos de vida, do nascimento e morte dos bichos, até mesmo sem nenhum sentimentalismo. Eu nem sei mesmo se este encontro chega a acontecer plenamente. Sinto que a gente persegue a poesia, mas que ela passa como um vento. Ficam apenas uns fiapos de luz. Acho que essas epifanias são raras. São momentos de iluminação em que a luz de Apolo, como diria María Zambrano, nos toca. Dura muito pouco. A maior parte do tempo é um tatear na escuridão. Acho que ligação com a natureza é porque tenho dificuldade em lidar com uma poesia totalmente abstrata. Tenho necessidade de objetivação, de concretude, de falar de coisas, objetos, ferramentas, bichos, plantas. Eu não sou um poeta de imaginário rico, inventivo. A poeta uruguaia Circe Maia disse numa entrevista que ela tem pé de chumbo. Acho que eu também. Não consigo voar muito. Por isso, já escrevi que eu nunca saí dessa Minas que nunca termina. 4 - Existe em todos os seus livros uma aproximação entre poesia e artes plásticas. Pode comentar esse encontro? DONIZETE: Se você permitir, vou dar uma resposta mais longa para evitar alguns equívocos e não soar pretensioso. Em primeiro lugar, sou praticamente um leigo em artes plásticas. Não tenho conhecimento teórico ou técnico para falar do assunto com a desenvoltura de quem realmente é um conhecedor. Minha aproximação é sempre intuitiva e emocional. Eu creio que a pintura toca uma região de nossa sensibilidade onde a palavra não chega. Por isso, é tão difícil expressar essas sensações com as palavras. Mesmo quem tem o poder de se expressar muito bem chega ate determinado ponto a partir do qual não há muita coisa a ser dita. Entendo a pintura como uma linguagem poética altamente concentrada que pega direto na veia. Tenho procurado ler sobre alguns pintores que me interessam, mas é coisa de iniciante. José Paulo Paz me recomendou um livro, que ele traduziu, que me foi muito útil. É Literatura e Artes Visuais de Mario Praz. O meu segundo livro, As faces do rio, começou a ser escrito a partir de um impulso que tive ao ver, em um livro, "Ocean Greyness" de Jackson Pollock. Aquele quadro virou uma espécie de leimotiv. Só depois disso é que fui ver outros quadros e comprar livros sobre Pollock. No caso de Yves Klein quando vi a sala dele na Bienal fiquei nas nuvens. Voltei umas cinco vezes naquela sala como que atraído por um campo imantado. O que vejo em determinados pintores são uns vasos comunicantes com a poesia e um certo sentido espiritual, um arte que toca o campo do sagrado. Em Paul Klee, Kandinsky, Yves Klein e Anish Kapoor eu percebo essa relação profundamente espiritual com a arte. Por isso, escrevi aquele poema chamado Quarteto em K. Com os pintores brasileiros sobre os quais tenho escrito a relação é a mesma. São artistas que me emocionaram, que tocaram uma corda escondida. Acontece com o trabalho de Renina Katz, Paulo Pasta, Niura Bellavinha, Germana Monte-Mór, Nuno Ramos. Com o Rogério Barbosa, pintor que mora em Pouso Alegre, tenho a proximidade da amizade também. Ele fez alguns desenhos muito bons para o meu próximo livro que se chama Mundo mudo. Agora, sinceramente, não saberia dizer porque um quadro de Paulo Pasta me emociona e a de um outro pintor, por exemplo Ianelli, me deixa indiferente. Nunca procurei nesses escritos me apropriar de procedimentos próprios da pintura. Acho muito difícil, quase impossível. Os procedimentos da pintura são muito mais radicais. Por exemplo, a pintura cubista é muito mais radical e difícil do que uma prosa que pretenda ser cubista. Acho que o trunfo da pintura está naquilo que Klee chama de tornar visível o invisivel, nas relações entre o mundo exterior e o espírito. Acho que Rilke tenha sido o poeta que mais compreendeu pintura e usou de seus procedimentos, principalmente nos Poemas-coisa. Ele era um craque e nós somos uns pernas-de-pau. Esses poemas que escrevo sobre artes já foram bastante criticados. Meu interesse permanece. São exercícios de admiração, uma maneira de me aproximar da obra. São aquelas aragens do sagrado de que falava Guimarães Rosa. 5 - Que poetas te marcaram mais profundamente? DONIZETE: A coisa funciona em ciclos. Há poetas que nos influenciam em determinada fase da vida e depois a gente continua admirando, mas sem o mesmo entusiasmo. Acho que minhas influências são basicamente as mesmas de todos da minha geração principalmente Drummond e Murilo Mendes. Um poeta que é pouco citado mas que admiro desde a adolescência é Emílio Moura. Também foi fundamental para mim a leitura de A luta corporal do Ferreira Gullar, ainda nos anos 60. Foi mesmo um alumbramento ao ler poemas como aquele sobre a pêra. Eu acompanhava muito os poetas que eram publicados pelo Suplemento Literário de Minas Gerais como a Henriqueta Lisboa. Fora os brasileiros, eu gosto muito de W.B. Yeats, Elizabeth Bishop, Eugenio Montale, Ungaretti, dos gregos Kafávis e Seféris. A descoberta mais tardia que fiz foi de Francis Ponge. Para mim, Métodos do Ponge é um livro que retomo sempre. Outro livro que leio e releio é Ascese, de Kazantzákis. Há tantas outras vozes entrelaçadas que acabam constituindo uma espécie de família espiritual. 6 - Que poetas brasileiros contemporâneos você acha mais importantes? DONIZETE: Há tantos nomes. Eu sou como aquele poema do Álvaro de Campos em que ele simpatiza com tudo. Não sou nada coerente nas minhas escolhas, nem tenho juízos definitivos. Como não sou poeta-crítico tenho a maior liberdade de gostar, sem pensar muito em tendências. Não sou muito chegado em polêmicas e debates. Há uma boa safra de poetas jovens como Paulo Ferraz, Tarso de Melo, André Luiz Pinto, Rodrigo Petrônio, todos com menos de 30 anos. Acho que podemos esperar grandes obras deles. Muito já têm mostrado ótimos resultados. O Paulo Ferraz ganhou o prêmio Nascente da USP com um livro muito bom. Ele fez um poema longo De novo nada que é um tour de force. Eu procuro acompanhar a produção deles através das revistas e dos livros que publicam. Há dois poetas que têm lugar muito especial no meu coração. O José Paulo Paes e a Dora Ferreira da Silva. Ambos muito generosos, com muita sabedoria, e com um caráter nobre. A Dora está muito ativa, tem um livro novo pronto. Posso estar esquecendo alguns nomes, mas admiro muito o Armando Freitas Filho, o Rubens Rodrigues Torres Filho, Antônio Cícero, Alberto Pucheu, Carlito Azevedo, Claudia Roquette-Pinto, Fábio Weintraub. Tem também o Ruy Proença que considero um poeta extremamente sutil, refinado, imaginativo, com um senso de humor muito particular. 7- Você vê algum elemento aproximativo entre a sua poética e a de Ronald Polito - já que publicaram juntos Pelo Corpo? DONIZETE: Olha, acho que o que me aproxima do Ronald é uma grande admiração que tenho pelo trabalho dele. Sempre gostei muito da Orides Fontela e acho que o Ronald tem uma poética tão forte quanto a dela. O minimalismo dele tem tutano, tem uma tensão permanente. A maneira como ele trata do corpo, da exasperação do homem dentro desse corpo, me interessa muito. Além disso, desde que li Meu corpo e eu, do René Crevel, fiquei com a idéia de escrever alguma coisa com esse tema. Acho que conseguimos um diálogo interessante numa área de interseção entre duas poéticas diferentes, Interesso-me por poéticas diferentes da minha. Estou fazendo um livro com André Luiz Pinto que chamamos de Litanias. O André tem uma poesia muito diversa da minha, a dele é bastante expressionista e sombria. Li a entrevista que o Ronald concedeu a você, serviu para conhecer melhor as idéias dele. Agora, não compartilho da extrema negatividade e incomunicabilidade que ele sente. Ele consegue ser muito mais pessimista que eu. O que há de bonito é que os poetas podem se entender acima dessas divergências. Acho que há um afeto, um veio mais forte, que une os poetas mesmo que passem grande parte do tempo discordando. 8- Você poderia apontar alguma mudança na sua poesia de seu primeiro livro Azul navalha (1988) até o último Pelo Corpo (2002)? DONIZETE: Como dizia o José Paulo Paes, a cara foi ficando pior, mas a poesia, pelo menos, acho que melhorou um pouco. O lirismo passou a ser mais objetivo, mais ligado ao corpo, aos bichos e às coisas do que a instantâneos do quotidiano. Há poucos poemas do primeiro livro dos quais gosto. Ler meus próprios poemas me causa desprazer. São muitas tentativas e poucas vezes sentimos que captamos realmente a poesia. Entretanto, embora busque sempre fazer o melhor, acredito que a poesia é feita também de impurezas, imperfeições e riscos. Minha poesia gosta do que não é poético, dos restos, dos restolhos. Também procuro abrir mão do que considero enfeite ou acessório. O primeiro livro é mais uma coletânea de poemas de quase uma década. A partir do segundo, procurei trabalhar com projetos mais amarrados. A partir do nome e das epígrafes, procuro criar um campo magnético que atraia os poemas. Não chega a ter um rigor construtivista, uma estrutura arquitetônica muito definida, mas todos os livros têm um eixo. Por isso, nunca mudo os nomes e nem as epígrafes. Seria como tirar as bases do livro. 9 - Seu texto "O poeta em pânico", publicado em Do Silêncio da Pedra, soa como um desabafo. Não lhe parece querer demais conciliar a poesia com o mundo ordinário em que vivemos? DONIZETE: Você tem razão. Hoje acho que não publicaria aquele texto junto com o livro. O ideal seria publicá-lo em outro veículo. Como não tinha espaço, resolvi colocar como um posfácio. É preciso contextualizar. Na época, final dos nos 80, eu sentia uma espécie de claustrofobia. As editoras eram poucas. Publicar era caríssimo. Hoje, há mais de dez revistas de poesia, antologias, zines, revistas virtuais, sites. Até mesmo na grande imprensa houve uma abertura de espaço. Eu mesmo publiquei poemas no Mais e o Elio Gaspari teve a generosidade de publicar poemas meus na sua coluna que circula em importantes jornais do país. Dentro dos padrões modestos da poesia, a visibilidade hoje é maior. Quem publicou nos anos 90 não sabe como foi complicado ter alguma visibilidade nos 80. Agora, não tenho ilusões. O conflito da poesia com o mundo em que vivemos é radical. Não poderia ser de outro modo. Não há conciliação possível. O que a poesia pode fazer é renegar permanentemente o utilitarismo do mundo moderno. Pode ser que a gente não mude o mundo, mas pelo menos há uma recusa em ser moldado. 10 - Parafraseando seu poema "Órfico", do livro Pelo Corpo, eu pergunto: vale uma vida, vale uma morte, a poesia? DONIZETE: Fico na dúvida. Se o resultado for uma obra de qualidade, para o bem da poesia, acho que vale sim. Acontece que estamos sempre na corda bamba, sem certeza de nada. Nunca sabemos se o que escrevemos terá alguma permanência. O jeito é fazer como Orfeu e aceitar o risco. 2 Poemas e "O poeta em pânico" de Donizete Galvão: FIGOS cesta de figos maduros exatos na sua configuração atente-se para os veios roxos a camada de pó sobre a pele tire a áspera membrana: surge a derme branca a polpa violácea florescência íntima secreta granulação a maturidade é experimento breve ontem a base ainda vertia leite amanhã a carne estará macerada devore-a agora na última estação um dia ela poderá amanhecer seca nua morta (de A Carne e o tempo) *** RETRATO DE ARTISTA Que Deus lhe dê uma raiz bem funda, para que não o balance o vento das cidades. Que, para onde quer que vá, corra ao seu lado o rio de sua aldeia. Que vagueie exilado, de cidade em cidade, de emprego em emprego, experimentando o gosto do provisório. Que sua mulher despreze sua obra, o pai morra sem sua visita e a filha fique esquizofrênica. Que lhe caiam os dentes e lhe cheguem as dores, as colites, úlceras. Que o ceguem em doze prestações. Que você sugue dos amigos a alma, a cultura, as histórias, o bolso e lhes dê em troca desprezo e indiferença. Que colecione despejos, os proprietários lhe virem o rosto e os credores batam à sua porta. Que você se tenha em alta conta, embora seus sapatos estejam furados e o presenteiem com roupas usadas. Que você seja sustentado pela filantropia de milionárias. Que gaste em vinho o salário do irmão e caia na calçada, sangre e precise de ajuda. Que o atormentem a ânsia, remorsos, trovões. Que você tenha olhos só para si. Que mendigue a atenção dos jornais, busque em vão por críticas e resenhas, espere horas em saletas de editoras e cobre elogios de quem chega. Que de sua pele tão fina, nasça uma carapaça anti-humana, ovo com casca de aço, onde baila em clara a tenra e frágil gema. (de A carne e o tempo) Trechos de "O poeta em Pânico", do livro Do silêncio da pedra A poesia, além de inútil, é também indesejada. O poeta, entretanto, insiste em escrever seus poemas. Não lhe resta outra alternativa. Poderia buscar o suicídio, a santidade, o vício: estas "outras tantas formas da falta de talento", de que falou Cioran. Está preso a uma obsessão nunca sublimada. Quer, através da língua, assegurar a permanência enquanto tudo se desfaz. Usa de artifícios, filtra e depura para transformar o desprezo, a humilhação e a decomposição do corpo e da mente em matéria poética. Entre tantos indiferentes, deve haver uns poucos que terão ouvidos para essa outra voz. Jardel Dias Cavalcanti |
|
|