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Quinta-feira, 20/3/2003
Uma nova tendência estética
Marcos Silva

Quem é ligado em televisão, e assiste mais do que um programa por semana, está podendo participar de uma revolução da imagem; e eu não estou falando só das cenas digitalizadas que a rede Globo anda apresentando em suas mini-séries. Uma nova técnica de produção está se destacando nos filmes, vídeos alternativos, videoclipes, vinhetas institucionais e a até mesmo nas propagadas comercias. A animação está tomando espaço e se assumindo como uma nova tendência estética. E o que também é evidente, ela está cada vez mais sendo aceita e assimilada pelo público. É fácil fazer o teste: você não comentou com alguém sobre aquelas propagandas da Kaiser que tinham um casal de caranguejos dividindo o papel de astros com uma mulher de curvas salientes? Esse é apenas um dos segmentos em que a animação está começando a colocar as "manguinhas de fora".

Quem acompanha a grade de programação da MTV Brasileira deve recordar que as chamadas iniciais do "Fica Comigo" e "Cine MTV" diferem muito das dos outros programas da emissora. A TV Cultura também está apostando no sistema, que hoje já é bastante utilizado em desenhos educacionais.

Mas, assim como acontece com os diretores de cinema, a concorrência está fazendo a animação evoluir rapidamente. E esta revolução se apresentada de duas formas: através do stop-motion e da animação computadorizada. Esta primeira ainda pode ser feita com recortes, bonecos, massinha, arame, objetos.

Tudo culpa de um acidente
A massinha (é aquela que você está pensando mesmo, massinha de modelar. A que se compra em qualquer papelaria) é o sistema mais velho de animação. Ela é sinônima de stop-motion (movimento parado), onde a produção é feita quadro a quadro (esse também é o modelo de funcionamento básico do cinema: uma seqüência de imagens paradas que, quando exibidas em velocidade superior a 24 quadros por segundo, parecem estar se movendo). Alguns atribuem sua origem a Georges Méliès. Ele a descobriu por acidente. Quando filmava em uma rua de Paris, a manivela da câmera emperrou por alguns segundos, retomando seu movimento normal logo em seguida. Na hora da revelação, Méliès se surpreendeu com o efeito inesperadamente obtido, onde um automóvel comum "se transformou" num carro fúnebre. Com certeza, a manivela parou enquanto o primeiro automóvel era filmado, e voltou a funcionar quando passava o carro fúnebre, criando a ilusão de transformação. Este problema técnico já teria acontecido dezenas de vezes nas mãos de outros operadores. Mas aquilo que eles teriam tomado por defeito, para Méliès foi usado como truque em uma cena de seu filme "Escamotage d'une Dame chez Robert Houdin", filmado em outubro de 1896. A cena era simplesmente uma mulher que desaparecia sob um manto, durante um breve show de mágica, mas historicamente este filme é considerado o primeiro trabalho a utilizar o recurso do stop-motion e o primeiro efeito especial da história do cinema. E foi essa sua visão criativa que o consagrou como o inventor da técnica e o pai dos efeitos especiais.

O velho e o novo se abraçam
Durante vários anos, uma centena de diretores tentou imaginar como Méliès tinha produzido aqueles efeitos. Um pouco de inveja estimulou que vários outros começassem a experimentar até que em 1993 surge "O Estranho Mundo de Jack"; um longa-metragem produzido através da união de vários artistas e animadores. Dirigido por Henry Selick e produzido por seu colega dos tempos de Disney, Tim Burton (o mesmo de "Batman" e "O Estranho Mundo dos Macacos"), o filme foi baseado em um poema escrito pelo próprio Burton e a apresenta a técnica do stop-motion da maneira mais competente possível, dando vida a dezenas de bonecos com as mais variadas formas. A partir daí a animação deslanchou e passou a figurar entre as listas das técnicas mais baratas e que mais exige criatividade. Para o diretor de arte da MTV Brasil, Dimi Letlen, a partir de agora a animação vai disputar o mercado de igual para igual com as outras técnicas de vídeo. "Ela é muito mais barata que uma produção em película, por exemplo, e hoje está sendo muito bem aceita por todos. Desde artistas mais exigentes como Gilberto Gil e Zeca Baleiro até o expectador mediano que vê apenas o básico da TV", diz.

Nos anos 80 vários estúdios utilizaram a massinha em trabalhos especiais. No começo daquela década, uma refilmagem de "The Mascot" (1934), do diretor Ladislaw Starevicz, chamou atenção de todos e se tornou até uma série de TV nos EUA. Hoje, de acordo com o especialista em stop-motion, Fábio Yamaji (da produtora Trattoria, de SP), a massinha está sendo superada pela animação gráfica. "Mas isso não implica em perda de qualidade, porque a disputa entre as técnicas é a base para outros avanços", diz.

Alguns bons exemplos
O atual clipe de trabalho do ministro da Cultura, Gilberto Gil, é feito com animação computadorizada. Na versão em vídeo da canção "Kaya N'Gan Daya", Gil nem aparece. Os mais recentes de Zeca Baleiro e Lulu Santos também foram produzidos com animação exclusivamente em computadores. Mas, sem dúvida, um dos grandes destaques é o clipe da música "In This World", do músico britânico Moby. Como é característico das produções realizadas em animações, os desenhos são bem definidos e as cores, de tão vivas, parecem gritar na tela. A banda Weezer também se incorporou ao grupo e, no clipe de "Keep Fishin", os integrantes do grupo dividiram espaço na tela com os Muppets Babies.

Marcos Silva
Ponta Grossa, 20/3/2003

 

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