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Domingo, 18/12/2005
Comentários
Rogério Kreidlow

Crítica ou divulgação?
A questão é: "profissionalizar" (frio, impessoal, buracrático) ou fazer do que jeito que se acha melhor? Cheguei a concordar com o "anônimo" aí, de que há autobiografia nisto, mas depois pensei no blog, mais do que na "empresa especializada em mídia". Sabe, algo bem da internet, sem fórmula. Senão, isso aqui vira mero divulgador de release. O problema mesmo é o dinheiro, não adianta... quando um está aparecendo mais que outro, fica aquela disputa, isso em qualquer segmento jornalístico (até o buraco da rua). Uma coisa é a cultura, a "aura", outra é o mercado cultural, que mostra suas garras como qualquer segmento. Talvez falte foco na crítica mesmo (ser maduro e sincero), mais do que "divulgação" (ser queridinho)... Na tentativa de abranger demais, complica. Mas se você ouvir todas as sugestões, também vira bagunça. Isto não lembra subir e descer a montanha de tempos em tempos?... Um abraço.

[Sobre "Aos assessores, divulgadores, amigos até, e afins"]

por Rogério Kreidlow
18/12/2005 às
16h37 201.34.170.72
 
Modismos, modismos...
Divertidíssimo o texto. Interessante é encontrar pessoas assim e, no primeiro espetáculo que pintar, descobrir que o pseudo "cult" (um rótulo tão sem graça quanto "pagodeiro") deu uma escapada a diversões mais mundanas. Ah! Vale lembrar que a pessoa não deve ter porte físico "bombado", porque isto é anti-cult. Tem que ser magérrimo, usar umas roupas "afrancesadas" e uma máscara melancólica ou ensimesmada. Se tiver jeitos delicados e detalhistas (efeminados), muito melhor. Afinal, homens são todos bárbaros, sem refinamentos para "sentir" as profundas emanações de energia das Quatro Estações de Vivaldi (para citar algo mais conhecido). Nem é de se lamentar tal comportamento. Rende umas boas gargalhadas. São modismos e, como todos, passam. Aprofundar-se nas belezas, vícios e abismos do ser humano ou no "sentido" disto tudo (tema das obras que valem a pena), é tarefa árdua – e elistista. Democracia, da maneira como é entedida, combina mais com prateleira de supermercado.

[Sobre "Como parecer culto"]

por Rogério Kreidlow
18/11/2005 às
21h09 201.24.122.106
 
O dinheiro é a lei
Teu bom humor desesperado me conduziu por todo o texto, palavra por palavra, Ana. Sou jornalista e de tanto ver situações diferentes - a posse de um engravatado numa hora, a prisão de um zé-mané na outra, gente que fala da boca pra fora para aparecer na foto, etc., gente que se esconde, todas essas coisas do bicho-homem - a gente chega a alguns exercícios irredutíveis de lógica. Se você começa a bater na tecla de uma injustiça, sabe que está puxando apenas um ramo de uma árvore toda enraizada. Sabe que se cortar aquele broto ruim, a planta está contaminada e logo nasce outro broto ruim. Sabe que se botar remédio, ele não vai ser um broto 100% saudável. Por outro lado, se só fala bem, parece Alice ou não tardam a te dizer que estas te "alienando". Hahaha, é até engraçado. Falas de educação no texto, mas nem se sabe até que ponto é vantajoso ser ignorante, né? Porque à medida que se sabe mais e que não se tem possibilidades na vida, a coisa só piora. Principalmente se a criança nasce com isto que chamam de honestidade, se for educada que é errado mentir, que é errado viver os joguinhos da realidade. Enquanto ela vai se debater diante dos problemas do mundo, o colega rebelde está passando por cima de cabeças e rindo da desgraça alheia (felicidade também pode ser isto, nossa senhora). O texto é o retrato de um desespero bastante comum. Fala-se em ética, em responsabilidade social, em tantos termos até bonitos, mas na prática todos os códigos de leis poderiam ser resumidos numa máxima: O dinheiro é a lei, a justiça, o alfa e o ômega, ponto.

[Sobre "O país dos imbecis"]

por Rogério Kreidlow
28/9/2005 às
23h04 201.14.184.175
 
Alguém que enxerga
Eduardo, parabéns pelo texto. Para narrares o que está aí, também olhaste de outra maneira a realidade em volta e percebeste o que não se percebe, não se quer perceber ou aquilo para o qual já se está cego, no cotidiano. Talvez seja um sintoma de época também se trancafiar, inventar coisas diante de um computador, falar com seus pares, seu gueto, sua tribo (tão pós-moderno isto). Sou jornalista e sinto toda esta rotina estafante de hoje, essa mania de produção (produzir conhecimento, defender uma suposta democracia, bla-blá-blá) também bastante distante da realidade mesmo, essa que está no bar daquela ruazinha mal-iluminada, na praça, no café, no shopping center (ah, shopping center não é lugar de escritor, de intelectual...), por que não naquela roda de pandeiro, ou das mulheres da vida que fazem ponto no mesmo local, e que meia cidade consome... Se de um lado parece haver um realismo meio que socialista, de só descrever a marginalidade, o crime, anos-luz depois de se saber que chocar não muda o mundo, por outro lado há uma classe inteira de intelectuais, escritores, etc., medindo as qualidades da flor, da flor-arquétipo, a flor mais bela e mais pura – uma flor de cera, completamente sem graça. Muito bem colocada esta questão de se perceber realidade, quando tomarmos coragem de encarar sem medo e com alegria os espasmos de vida que uma cidade contém, não vai haver tédio de narrar, mas necessidade de o fazer. Parabéns mais uma vez.

[Sobre "Outro mundo"]

por Rogério Kreidlow
17/9/2005 às
23h55 201.11.92.178
 
Boa pergunta...
Quem sou eu para falar, sou formado há um ano e pouco. Mas a verdade é que muitos jornalistas e estudantes de jornalismo não sabem responder "o que é" ou "quem é" o jornalista. Há muitas respostas diferentes. Você chega na faculdade e dizem que jornalista tem que escrever bem, é quem escreve bem. Bobeira. Todo mundo tem que escrever bem, se expressar bem. Embora o cara que escreve bem não seja necessariamente jornalista. Tem que ter curiosidade, tem que investigar, pesquisar, querer saber, querer conhecer (olha que uma cambada aí nem pensa nisso; pensa, sim, em "aparecer"). Falta conceituar a profissão, discutir mais. Uma coisa: se você é o cara que denuncia tudo, está sempre procurando uma brecha, um furo, pode cair no sensacionalismo, acabar fazendo mais do que é, se é que não vão te queimar primeiro. Por outro lado, se só fala de coisas boas, te chamam (os próprios colegas) de "assessor de imprensa", de puxa-saco e de jornalista-light. Tem gente que lê jornal, revista, para se divertir. Procura página de comportamento, beleza, etc. Então jornalismo é entretenimento? (Fale esta palavra é muito jornalista lhe torce o nariz). Na minha restrita visão de recém-formado que mais questiona do que tem certezas sobre a profissão, penso que o jornalismo carece de conceito, de discussão, de definição, ainda... Ah! Tem jornalista que gosta de exaltar sua biografia, são tomados como exemplos por muitas pessoas (principalmente através da televisão). No fotojornalismo – que curto muito – a coisa vai mais além: quem não sonha em cobrir uma guerra não é bem fotojornalista, então a realização profissional é fotografar a bala atingindo o soldado ao seu lado (Robert Capa), vender a foto para todas as revistas do mundo e ganhar um puta prêmio com aquilo, para ficar para a posteridade. Tem uns que querem mudar o mundo sendo jornalista, também, e que acham todas as outras profissões, principalmente as tecnológicas, carreiras dinheiristas e que fazem apologia ao capitalismo por lhe dar sustentação. Eu ainda fico – cada vez mais fico – com a pergunta que dá título do texto.

[Sobre "O que é ser jornalista?"]

por Rogério Kreidlow
26/8/2005 às
23h53 201.2.223.69
 
amor mais prende que liberta
Conheci um colega, quando estudávamos lá nas classes iniciais, aos 7, 8 anos de idade, que era filho único. O pai o apoiava, ajudava a fazer as tarefas de casa e incentivava porque queria que o filho fosse "alguém" na vida. Aquela coisa bem original. O garoto era inteligente, mas dava um jeito de matar a aula para se aventurar. Éramos o oposto. O pai conversava com os professores, porque o filho não demonstrava gosto pelas aulas, apesar de, em hora de prova, se dar bem. Jogava futebol muito bem, corria muito. Lia, se dessem um livro. Mas se dessem decoreba, contas de matemática, preferia uma partida de bola de gude (e queria ganhar sempre; ganhava, aliás). A vida deveria ser pouca, porque ele queria mais. Desafiava os mais velhos e, se preciso, partia para a briga. Sempre queria ser o ladrão quando se brincava de polícia e bandido, porque achava fascinante ser ladrão – era mais esperto que o polícia, sempre. Cresceu, começou a fumar, porque queria conhecer. Fumou antes que todos da turma. E tomou um porre federal num campeonato de futebol. Era filho único, ganhava apoio do pai e era inteligente. Experimentou outras drogas, sempre mais pesadas. Não porque alguém ofereceu. Ele descobria e oferecia para os outros. Conquistou meninas das séries anteriores. Nessa época, o pai já não sabia onde tinha falhado. Continuava a conversar com professores e uns lhe diziam: "ele não tem mais jeito". Cresceu mais. Quando viu que trabalhar era uma rotina domesticante, sem grandes aperitivos e sem tempo de sobra para se encontrar com a galera, cometeu os primeiros assaltos. Coisa simples. A polícia pegou, ele riu. Achava graça em ser pego pela polícia. (Eram os bocós na brincadeira de polícia e ladrão). Esse colega morreu, se bem me recordo, num acidente de automóvel, contra um poste, lá pelos 18 anos. Estava embriagado e feliz da vida, dizem, no dia em que aconteceu o acidente... Fomos grandes colegas boa parte da infância, até ele experimentar as drogas, as aventuras e tudo mais e eu continuar na linha reta de sempre (eu era polícia na brincadeira lá, nunca fugia a tempo para ser o bandido e na época tinha inveja de quem tinha gás e coragem pra correr). Nossa moral – sempre tão falha – é limitada demais para compreender a vida. E o tal "amor" mais prende do que liberta, parece...

[Sobre "O produto humano"]

por Rogério Kreidlow
10/8/2005 às
23h53 201.14.170.244
 
Odiei o texto
Sem comentários, Andrea. Não defendo nem um pouco o Lula ou qualquer outro presidente. Eles estão lá para trabalhar e não para receber apoio, assim como nós trabalhamos não porque recebemos apoio, mas ou porque gostamos, ou porque necessitamos, etc. Mas odiei o texto. Assim como demonstras claramente o teu preconceito por alguém não falar tal língua, tomar chá ou ser metódico, tomo a liberdade de dizer que odiei o texto, por não me transmitir nada além de um incômodo muito pessoal teu. Uma coisa é questionares o fato do cachorro do vizinho ameaçar a vida de teu filho de cinco anos. Isto sim, vai lá, é uma questão relevante, acredito. Outra coisa e não te agradares com o telhado da casa dele, com o tamanho de seu nariz ou algo do tipo. Guarde isto com você, não interessa. Conviva com aquilo. É a minha opinião sobre assuntos deste interesse. Eu sou o outro vizinho, que só tomou a liberdade de te dizer isto porque começaste. Prefiro que mudes um pouco a maneira de educar teus filhos, aliás, e, entre nós (disfarçando o riso), pra mim o telhado da tua casa é tão feio quanto o do outro vizinho. Beijão, Andrea, escreve se puder

[Sobre "Se o Lula falasse inglês..."]

por Rogério Kreidlow
2/8/2005 à
00h21 200.180.121.152
 
Na batata...
Na batata, Julio. "...os escritores... não podem querer transmitir, para a sociedade, o ônus de uma escolha pessoal". Já pensaram se os administradores de empresas que faliram se organizassem com o mesmo objetivo? "Não, alto lá, ele faliu porque é incompetente" – muitos auto-intitulados escritores diriam. "Porque administrador de empresa é a corja do neoliberalismo, que só pensa em lucro. Nós, os-que-se-auto-intitulamos-escritores defendemos a arte". E querem que o governo sustente vocês? Ah, tá bom... Se vocês defendessem o dinheiro, quem sabe o governo até ajudase... A pessoa escolhe o parto com maior número de complicações possíveis e bota a culpa no médico por causa de um aborto. E olha que quem aqui escreve é um contista caseiro, que redige para o desprazer de uma meia dúzia de amigos... Seguindo a filosofia de um conhecido, músico de uma banda de blues e rock: "Sabe o que a gente faz quando chega no fim de uma apresentação num boteco qualquer, onde o cache não paga nem a bebida que a gente tomou? A gente olha um pro outro e diz: isso aqui tá um fiasco mesmo, vamos tocar mais uma pra esquecer". Vai que o público ainda se anime com a saideira no fim da noite...

[Sobre "Não existe pote de ouro no arco-íris do escritor"]

por Rogério Kreidlow
30/7/2005 às
23h31 201.24.120.76
 
escrever... tá tão saturado!
De vez em vez passo por aqui. Dá de rir um pouco, na boa. Mas sei lá, sobre escrever, escrever, escrever... isso tá tão saturado, parece. Tá pior que o abstracionismo barato de quadro de escritório. O cara escreve qualquer coisa, uma viagem qualquer, tudo é válido, lota servidores de bits, quem sabe amanhã vai ser apagado, e não fica nada, não mata a fome de leitura. Uma tagarelice pra passar o tempo e que parece não se propor a isso (é a pós-modernidade, dizem uns). Bulhufas. Gosto muito de literatura, de escrever, mas tem uma hora que a coisa só gira em torno do umbigo, sei lá. Embora esteja stand-by com a literatura, é meu trabalho escrever uma, duas, três paginas todos os dias. Um dia depois, a cidade inteira (generalização, bãn) lê. Não ganho a menos ou a mais por isso, não fico mais ou menos famoso (o que é ficar famoso, aparecer na mídia, bãn?) Na verdade, nem sei quem me lê. Essa pessoa não tem rosto. É até capaz de naquele dia ninguem me ler, e daí? Às vezes uns ligam pra xingar, às vezes pra fazer um elogio rápido na rua, sem uma argumentação consistente. E eu só trabalho para quem me lê, na verdade. Sou repórter de jornal diário, não faço artigo, faço matéria, de preferência reportagem. E, olha, essa coisa de escrever por escrever tá estéril... o que nutre as palavras mesmo é a realidade – é a lição boa que tirei dessa profissão "suspeita" que é o jornalismo. É narrar e não ficar matutando sobre tudo... é um santo remédio quando se escreve, se escreve, e tem-se a sensação de não dizer nada, para ninguem. Benjamin fala sobre isso em um texto do qual não me recordo agora. Ah... porque o lance de contar história, como antigamente, acabou, dizem uns. Acabou nada. Uma cambada que não consegue contar um bom causo prega que acabou, fica se lamuriando... oh, tudo está perdido, é o fim. Chega ao cúmulo de se promover em cima do apocalipse. E mais um bando estende o tapete vermelho. Aff. É só o cara sentir a realidade mais de perto, dar mais vida ao olhômetro, cheirômetro e etc., que sobra o que escrever, sem esforço, só por curtição. Acredito que a resposta de quem lê também é diferente, nesse caso. É isso, pode ser um pouco "realista", sei lá. Mas sou fã da imaginação, e como! Escrever tem a ver com fertilidade, fertilidade com vida. Abraços.

[Sobre "Sobre Parar de Escrever Para Sempre"]

por rogerkw
13/7/2005 à
00h19 200.101.242.157
 
Julio Daio Borges
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