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Segunda-feira,
16/9/2002
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uma crítica inteligente
Caro Julio,
Avisada por meu amigo Ruy Castro da sua resenha sobre meu livro no Digestivo, li-a com toda a satisfação que se pode sentir ao se ler uma crítica inteligente, bem feita e bem escrita a um trabalho que me custou dois anos de muuuuuito esforço.
Gostei muito mesmo. E por ter gostado tanto, me senti à vontade para chamar a tua atenção para algumas coisinhas:
1. Meu livro é sobre a busca do amor na Internet, e não apenas do sexo.
2. Estão nele tanto os adolescentes plugados quanto os casais de meia-idade querendo acabar com a sua solidão e TAMBÉM o que você chamou de "classe média", que, acredito, seja a turma dos 30 aos 40 anos, talvez. Você diz que há poucos deles, e eu discordo. Há vários. No entanto, eu, que tenho meus 48 anos, me senti cabendo perfeitamente na tua descrição, pois atravessei tanto a era dos bailinhos e dos portões de escola quanto atravesso agora a era dos chats, dos sites, das webcams.
3. Não foi nada fácil fazer as pessoas contarem as histórias, pelos motivos que, aliás, você descreve no primeiro parágrafo do teu texto. Perdi várias histórias quando o livro estava quase pronto. Daí ter ficado mesmo impossível "contemplar todas as possibilidades", embora eu tenha tentado.
4 - Não sei se as análises dos psiquiatras pecam pela incompreensão do veículo Internet. Na verdade, acho que eles, tanto quanto eu, estavam preocupados porque a mídia tem procurado vender a Internet, nos últimos anos, como uma fantástica agência de casamento, onde todos os príncipes e princesas estão à nossa espera. E como eu comprovei que a realidade NÃO é essa, e demonstrei isso, penso que os psiquiatras consultados se preocuparam em alertar as pessoas para não serem ingênuas.
5 - Você diz que eu, frustrada com a Internet, "condeno-a sem apelação". Discordo. Eu digo que está difícil namorar na Internet atualmente, devido ao excesso de mentiras e devido ao fato de que as mulheres teclam buscando amor e os homens teclam buscando sexo fácil. Eu também digo que na Internet você encontra as mesmas pessoas e decepções que encontra nos bares, restaurantes e boates. Para mim, a Internet não é um "mal em si", mas um veículo de comunicação extremamente válido. O que eu lamentei foi que, por enquanto, as pessoas estão usando muito mal esse veículo. Mas eu acredito no ser humano, e penso que esse quadro vai mudar em poucos anos.
De qualquer maneira, qualquer autor fica feliz quando vê que uma crítica foi feita sem pressa, com cuidado, contrapondo o que considera pontos favoráveis e pontos desfavoráveis da obra. Fiquei muito feliz com a sua crítica. Já estava e-xaus-ta de ver jornalistas furiosos comigo porque eu OUSAVA contar que cerca de 97% dos relacionamentos tentados na Internet, atualmente, NÃO dão certo -- o que contraria a imensa maioria das matérias que têm saído a respeito. Os colegas esqueceram que eu não me debrucei sobre a Internet por 2 dias ou 2 semanas, mas por 2 longos anos. Você me pareceu entender muito bem esse, digamos, detalhe...
Um grande abraço
Alice Sampaio
[Sobre "A internet e o amor virtual"]
por
Alice Sampaio
16/9/2002 às
23h08
200.158.198.210
(+) Alice Sampaio no Digestivo...
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Julio Daio Borges
Editor
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