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Quinta-feira,
29/11/2001
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O Jornalista Imbecil
Durante alguns anos trabalhei como critico de TV. Graças a Deus, hoje estou longe desta merda. Entretanto, por mas que eu tente me afastar deste assunto, continuo tendo de suportar declarações idiotas sobre este tema. A TV brasileira possuí um nível sofrível, mas a crítica encontra-se em situação muito pior. Pois bem, eu tenho a seguinte posição sobre esse tema: acho a TV brasileira deveria produzir mais programas educativos. Bons programas educativos, e não aquelas porcarias exibidas na TV Cultura ou no Canal Futura. Sempre defendi a exibição de produções européias, japonesas ou norte-americanas, com poderia até ocupar horário nobre, de uma emissora que não estivesse na disputa pela liderança. Por sinal, sou viciado neste tipo de programação, e seria muito bom se os canais abertos oferecessem essa tipo de atração. Entretanto, eu nunca usei isso como desculpa para dizer que tal programa não presta, que a emissora deveria apresentar alguma coisa der educativo no horário e blá-blá-blá. Com o tempo, aprendi que jornalistas adotam este discurso, na verdade revelam uma incapacidade de compreender corretamente o assunto. Por sinal, a única motivação deste críticos é esculhambar o programa exibido pela emissora. Infelizmente, a grande maioria dos nossos jornalistas desconhecem o papel da televisão em nossa sociedade, apenas repetem o mesmo discurso, conservador e reacionário. É uma prova de sua mediocridade.
TV não é fundamentalmente um meio de entretenimento? Uma pessoa que afirma tal bobagem deveria buscar se informar melhor a realidade em que vive a nossa sociedade. É muito fácil para Rodrigo, cara formado pela PUC do RJ, ir até o clube da moda para se divertir. Na quarta-feira, ele vai até o cinema do Shopping, desfrutar de um filme de "qualidade" (na Europa era considerado uma bosta)... Na saída ela pode comprar o último sucesso daquela escritora lésbica e o DVD com a apresentação daquele famoso grupo de jazz(na verdade, um grupelho fracassado, sem qualquer criatividade, mas se é jazz, é bom). Isso sim, é entretenimento.
TV NÃO!
A TV deveria ser usado para educar (programar) o Zé Povinho, aquele que só possuí o primeiro grau. Zé Povinho não precisa de entretenimento, futebol do fim-de-semana já basta. A esposa de Zé Povinho precisa de uma ótima educação, para saber que a mulher de hoje deve ser uma trabalhadora consciente de suas obrigações. Os filhos de Zé Povinho precisam receber uma ótima educação, para um dia serem verdadeiros operários, dóceis e dedicados, com assim exige a nossa sociedade. E como a escola pública está sempre paralisada por alguma greve, esta missão passa a ser da TV. Dona Maria perde tempo vendo novela, as crianças ficam com a mente perturbada com Ratinho. E Zé Povinho, totalmente iludido com a tal Casa dos Artistas.Assim, os meninos ficarão revoltados, a mulher vai quere uma vida melhor e Zé Povinho vai acreditar que o ser humano deve lutar pela felicidade.
"Gente, nós temos que formar cidadãos, não é com esta porcaria exibida na televisão que iremos formar cidadãos" . Precisamos de operários, pessoas preparadas para produzir, que aceitem o sistema como ele é, que atendam as expectativas, o operário-padrão, o estudante-nota-10, a mulher-do-século-21. Desgraçadamente, essa experiência já foi adotada em alguns países. Durante 40 anos, o leste europeu e a União Soviética acreditaram nesta lorota. Hoje, aqueles cidadãos, que cresceram assistidos por uma TV que exibia balé, música clássica, programas didáticos, tudo do mais alto nível, agora só querem ver sexo. Viva a liberdade! Viva a baixaria! Viva a boceta de Olga! ( eu posso falar boceta, por que tenho curso superior e acho que quem lerá também. Censura, só para o Zé Povinho.)
Eu não estou dizendo que a TV não deve ter um conteúdo educativo, mas é preciso admitir que ela é, fundamentalmente, uma forma de entretenimento. Enquanto jornalistas, políticos, críticos e pseudo-intelecutuais-metidos-a-besta insistirem em não aceitar essa verdade, a nossa televisão continuará no mesmo buraco. É preciso um pouco de bom-senso. Lamentavelmente, estamos nas mãos dos espertos. Por trás de todo esse discurso barato, hipócrita, existe o desejo de nossa elite em controlar, manipular o resto da população, defendendo a idéia de que essas pessoas não são capazes de pensar, de raciocinar, de decidir o que é certo ou errado. Cabe a nós, formadores de opinião, com curso superior, guiar estes pobres coitados. (no futuro, eu imago que poderemos resolver todo este problema instalando um chip na cabeça do Zé Povinho). No fundo, nossa elite sonha em manter o controle absoluto sobre o resto da população, decidindo o que devem ver, assistir ou gostar. É um pensamento fascista, defendido por uma minoria que se acha superior a maioria. Pois eu prefiro Ratinho, Casa dos Artistas, Faustão do que esta TV proposta por nossa elite intelectual fascista.
Sérgio Vieira
[Sobre "Digestivo nº 58"]
por
Sérgio Vieira
29/11/2001 às
02h09
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(+) Sérgio Vieira no Digestivo...
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Julio Daio Borges
Editor
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