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Sábado,
12/1/2002
Comentários
200.191.65.147
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resposta
Caro Jardel,
Seu comentário tocou num ponto importante não só do meu texto, mas da arte de uma forma geral. Por isso, minha resposta será um pouco longa.
Concordo que a forma comunica sentido - talvez outros textos meus deixem isso mais claro. Mas isso não significa que o formalismo esteja acima de críticas.
A julgar de declarações do próprio diretor, Luiz Fernando Carvalho, _Lavoura Arcaica_ preocupa-se com questões que vão além do lirismo formal. O diretor é sensível à complexidade emocional dos personagens, às suas contradições, ao envolvimento entre as pessoas e sua herança cultural, seu contexto familiar e natural. Restaurando um modo de ver, a atenção a minúcias, o tempo lento, o filme opõe-se à dessensibilização "videoclipe", mas não apenas no que esta tem de formal. A intensidade dramática, de sentimentos e de palavras (a riqueza da linguagem, das falas) não pode ser reduzida às imagens ou ao conceito de beleza, e creio que apreciar _Lavoura Arcaica_ apenas por seus méritos estéticos não faz jus à intenção artística ou comunicativa da obra. É pelo fato mesmo de o filme colocar tão intensamente o sofrimento de André (desde a primeira cena) que vi-me incomodada pelos momentos de estetização, em especial o desfecho, como se esses momentos traíssem a profundidade alcançada em outros trechos. A iluminação que a arte pode nos fornecer não está necessariamente no prazer estético, na apreciação da beleza, numa experiência sensorial diferente – pode estar na incongruência, no desconforto, no questionamento pessoal ou social.
_Limite_ difere de _Lavoura Arcaica_ em sua qualidade “formalista”. Em primeiro lugar, a rejeição do conteúdo, a atenção à forma e ao suporte, e a tendência à abstração tinham um significado muito diferente no começo do século, quando os movimentos modernistas (em todas as áreas) exploraram essas vias expressivas como crítica e comentário à arte precedente, à academia, à sociedade. Hoje em dia, ser formalista não envolve o mesmo risco, não requer a mesma audácia, e – pior – não significa necessariamente postura crítica. É fácil fazer um quadro abstrato que será pouco mais que papel de parede – ou um audiovisual que não causará espanto na MTV.
_Limite_ é às vezes criticado por ser formalista demais, permitindo um “vale-tudo” interpretativo. Pessoalmente, discordo dessas críticas (e gosto muito do filme), mas acho importante ver como as obras podem nos fornecer, elas mesmas, as pistas de sua fruição. Essa fruição não é necessariamente intelectual, não significa sempre entendimento racional ou cerebral – há outras formas de insight e “comunicação” artística.
Talvez por isso você tenha entendido meu texto como “mental”. Acho também que você teve a impressão (imprecisa) de que rejeitei _Lavoura Arcaica_ como um todo. Ora, foi justamente por ter sido tocada profundamente pelo filme que lhe dediquei esforço e atenção. É desnecessário dizer que crítica não significa elogio, e que atentar para os problemas não exclui apreciar as qualidades. Foi o que quis dizer com meu comentário sobre a “perfeição”, ao fim do texto.
[Sobre "Virtudes e pecados (lavoura arcaica)"]
por
daniela sandler
12/1/2002 às
18h27
200.191.65.147
(+) daniela sandler no Digestivo...
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Julio Daio Borges
Editor
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