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Quarta-feira,
29/5/2002
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Fim do no.com.br
Li com interesse o texto do Julio Borges. É certo que ele identificou bem o problema dos sites de jornalismo - muita despesa e pouca receita - mas
faltou perguntar o porquê dessa pouca receita. E a resposta passa, necessariamente, pelas condições sociais e econômicas do nosso país.
Tomemos o exemplo da TV a cabo. No início de suas operações no Brasil, as
operadoras faturavam milhões e o número de assinantes crescia de forma
exponencial. Hoje, elas parecem ter atingido seu limite de crescimento:
cerca de 8% da população. A Globocabo, para sobreviver, precisou de um
suborno eleitoral do governo federal, via injeção de capital do BNDES.
E a Internet? Gostamos de buscar inspiração no mercado norte-americano, onde metade da população está conectada. No Brasil, a maioria das pessoas sequer tem acesso a telefones fixos, quanto mais computadores. Esse é o problema inicial: o público da Internet é escasso.
Há uma segunda questão, igualmente séria, que é a qualificação desse
público. Os níveis de escolaridade do Brasil são aterradores: apenas 5% da
população chega à universidade, pelos dados do último censo. O que essa
massa de pessoas com pouca instrução irá querer ler na Rede? Discussões
sobre problemas complexos, como globalização e desenvolvimento? Ou o
horóscopo e as fotos sensuais com a celebridade televisiva do momento?
Não creio, no entanto, que seja impossível vida inteligente na Internet
brasileira. Mesmo 1% da população brasileira já são quase dois milhões de
pessoas: é mais do que a Veja, a revista de maior circulação nacional, vende por semana. Mas esse hipotético site de alta qualidade terá que saber que fala a um público muito específico, e terá que adaptar seu orçamento a isso. Não é um sonho impossível, mas exige cautela. No mais, repito as palavras de Manuel Bonfim, há quase 100 anos: "Sejamos utopistas, contanto que
trabalhemos".
Abraços,
Maurício
[Sobre "A internet e o fim do no."]
por
Mauricio Santoro
29/5/2002 às
22h14
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Mauricio Santoro no Digestivo...
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Julio Daio Borges
Editor
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