amor mais prende que liberta | Rogério Kreidlow

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Quarta-feira, 10/8/2005
Comentários
Leitores

amor mais prende que liberta
Conheci um colega, quando estudávamos lá nas classes iniciais, aos 7, 8 anos de idade, que era filho único. O pai o apoiava, ajudava a fazer as tarefas de casa e incentivava porque queria que o filho fosse "alguém" na vida. Aquela coisa bem original. O garoto era inteligente, mas dava um jeito de matar a aula para se aventurar. Éramos o oposto. O pai conversava com os professores, porque o filho não demonstrava gosto pelas aulas, apesar de, em hora de prova, se dar bem. Jogava futebol muito bem, corria muito. Lia, se dessem um livro. Mas se dessem decoreba, contas de matemática, preferia uma partida de bola de gude (e queria ganhar sempre; ganhava, aliás). A vida deveria ser pouca, porque ele queria mais. Desafiava os mais velhos e, se preciso, partia para a briga. Sempre queria ser o ladrão quando se brincava de polícia e bandido, porque achava fascinante ser ladrão – era mais esperto que o polícia, sempre. Cresceu, começou a fumar, porque queria conhecer. Fumou antes que todos da turma. E tomou um porre federal num campeonato de futebol. Era filho único, ganhava apoio do pai e era inteligente. Experimentou outras drogas, sempre mais pesadas. Não porque alguém ofereceu. Ele descobria e oferecia para os outros. Conquistou meninas das séries anteriores. Nessa época, o pai já não sabia onde tinha falhado. Continuava a conversar com professores e uns lhe diziam: "ele não tem mais jeito". Cresceu mais. Quando viu que trabalhar era uma rotina domesticante, sem grandes aperitivos e sem tempo de sobra para se encontrar com a galera, cometeu os primeiros assaltos. Coisa simples. A polícia pegou, ele riu. Achava graça em ser pego pela polícia. (Eram os bocós na brincadeira de polícia e ladrão). Esse colega morreu, se bem me recordo, num acidente de automóvel, contra um poste, lá pelos 18 anos. Estava embriagado e feliz da vida, dizem, no dia em que aconteceu o acidente... Fomos grandes colegas boa parte da infância, até ele experimentar as drogas, as aventuras e tudo mais e eu continuar na linha reta de sempre (eu era polícia na brincadeira lá, nunca fugia a tempo para ser o bandido e na época tinha inveja de quem tinha gás e coragem pra correr). Nossa moral – sempre tão falha – é limitada demais para compreender a vida. E o tal "amor" mais prende do que liberta, parece...

[Sobre "O produto humano"]

por Rogério Kreidlow
10/8/2005 às
23h53 201.14.170.244
(+) Rogério Kreidlow no Digestivo...
 
o Chico escreve muito bem
Olá; Diogo Mainardi é sim uma bomba, mas o Chico escreve muito bem, é um escritor de mão cheia, a meu ver e, com exceção de seu último livro, Budapeste, meio chatinho, os outros são excelentes, principalmente Benjamin. Agora, Diogo Mainardi é de direita e escreve com o fígado, não dá... Pior que ele só o Jô Soares e olha lá! Abraço! Isa Fonseca :.)

[Sobre "Autores novos"]

por isa fonseca
10/8/2005 às
18h46 200.234.47.91
(+) isa fonseca no Digestivo...
 
obrigada pela citação!
Oi, Adriana, obrigada pela simpática citação. Talvez a gente não saiba mais ser mulher como antigamente, mas com certeza temos muito mais teorias sobre o assunto e mais bom-humor do que nossas bisavós. Sei lá se isso adianta alguma coisa, mas pelo menos sabemos rir dos nossos erros. Beijos

[Sobre "É preciso aprender a ser mulher"]

por lucia carvalho
10/8/2005 às
14h13 201.1.93.226
(+) lucia carvalho no Digestivo...
 
Produto, processo e filhos
Bom, Ana, acredito que muitas pessoas não estão prontas para seguir o processo que você descreve. O mundo é muito complicado - vc sabe - e é tão mais fácil ser um produto e, dessa forma, tentar uma blindagem contra tudo o que acontece e nos frustra. Por que tentar se aventurar pela vida se posso me encaixar na forma de produto e lá me proteger? Sobre a formação dos alunos, entendo que universidades e professores (nem todos!) pensem em formar produtos. Conheço tantos alunos que não se interessam por nada, que não têm nenhuma condição de enfretarem novas tarefas sozinhos, que não são aptos para o mercado de trabalho (e para o mundo)! Talvez por isso a sociedade precisa fazê-los produtos, pois, de outra forma, não se darão bem por aí. Vamos fazê-los engrenagens então! A maioria é tão estúpida que nem se dá conta disso, infelizmente. Sobre as crianças em especial, as experiêncas que estas necessariamente precisam viver não são absolutamente de responsabilidade dos pais. Muitos casais se culpam por isso, mas, não deve ser assim. Os mecanismos cognitivos não dependem apenas do ambiente, afinal, a tabula não é rasa. Criar um produto pode ser culpa dos pais, da sociedade ou do indivíduo, ou de qualquer combinação destes.

[Sobre "O produto humano"]

por Marcelo Maroldi
10/8/2005 às
10h39 200.153.139.24
(+) Marcelo Maroldi no Digestivo...
 
Teoria e prática
Ana, adorei seu texto. Mas, por um lado, entendo essa coisa do "Produto Humano". Toda faculdade hoje em dia tenta formar um "produto". Até o cara que se diz puramente fã das idéias tenta impor o que ele acredita do mundo ao aluno. Pouquíssimos lugares são escolas Socráticas de descoberta, até porque aos 16 anos já estamos enfiados numa cadeira da faculdade. Ao menos foi assim para mim. Por outro lado, será que a vontade da faculdade se faz no aluno? A faculdade tem que ter objetivos. E formar o "produto humano" é um plausivel. No sentido de formar uma pessoa que saiba pensar e na pratica seja boa em alguma profissão. Lembre-se, no Brasil, muitos cursos das Universidades Federais formam o aluno para um universo tão abstrato, que nada do que lhe foi ensinado é util na prática. E isso é péssimo também. A desilusão pode ser imensa. Quem deve escapar de ser produto é cada indivíduo. Cada um pensa por si. E acho sim que podemos estabelecer caminhos e guias, desde que esclareçamos o que cada um pode decidir por si. Isso vale até para um filho... Quanto à sociedade ser baseada em produto, isso vale para todas as "instâncias". Numa primeira, você pensa sobre o que se impõe socialmente. Mas, numa segunda, seu próprio modelo, será que é baseado no momento, em experiencias do agora, ou em coisas que aconteceram, em imaginacões e sugestões de coisas que leu? Somos todos vitimas de nossos próprios modelos. Quando largamos nossos próprios modelos, acho que o mundo é radicalmente diferente, e todas coisas que não são para nós mesmos têm menos importância. E até o termo "produto humano" deixa de incomodar. Pois só segue quem quer. Ou seja, é só uma questao de marketing.

[Sobre "O produto humano"]

por Ram
10/8/2005 à
00h58 160.39.240.15
(+) Ram no Digestivo...
 
Adorei!
PARABÉNS pela formatura e pela coluna. Adorei!

[Sobre "Minha formatura"]

por Vera Lúcia
8/8/2005 às
09h23 200.144.11.90
(+) Vera Lúcia no Digestivo...
 
sobre a poesia atual
Boa observação sobre a poesia atual, tristemente envolvida, na imensa maioria dos casos, com esteticismos. Para uma mudança de ares, ler Tagore e Blake, mostra que a poesia pode estar bem proxima 'as pessoas. O Gita, indiano, e tambem uma musica, um poema, que esta no dia-a-dia das pessoas, esta' proximo 'a vida de cada um ao mesmo tempo que vive um pouco longe.

[Sobre "Digestivo nº 237"]

por Ram
7/8/2005 às
23h34 160.39.240.15
(+) Ram no Digestivo...
 
sentimento de inferioridade
Excelentes os comentários. São bem claros: feitos por maus brasileiros, ou brasileiros frustrados por não serem americanos ou ingleses. Do tipo que acha que Londres ou Miami são Meca. Educação inglesa? Leia a história inglesa na India e na Africa e vc verá o que é a cortesia inglesa. Quanto ao fato de alguém se sentar assim ou assado é café pequeno. Posso me sentar até de ponta cabeça, o que importa é a moral e ética, palavras antigas e em desuso em Patropi. Os comentários deixam claro que pensamos como colonizados e que nosso sentimento de inferioridade está cada vez mais forte. Mas isso é histórico e a meu ver incurável.

[Sobre "Se o Lula falasse inglês..."]

por Phylos
7/8/2005 às
23h03 201.1.187.203
(+) Phylos no Digestivo...
 
Homens & mulheres
Bom, quanto ao vendedor de frutas e ao faxineiro, cada um e' uma pessoa. Pensar somente como profissionais em quem se manda e desmanda, e' o primeiro passo fracassado para se relacionar com eles. Talvez nesse sentido e' que a Adriana se referiu ao "dom feminino" para conversar com estas pessoas. Ha uma certa maneira diplomatica de se conseguir o que se quer. Coisa que os homens nunca souberam direito, e as mulheres dominam com maestria. Eu mesmo vejo as mulheres da minha vida lidando com pessoas nos mais diversos assuntos com uma habilidade que passa ao largo de mim... Ainda bem que homens e mulheres ainda sao diferentes. Imaginem que sociedade chata aquela em que a mulher finalmente se torna um homem, e desbarata sua sensibilidade e intuicao. O homem, na terra, nao tem um simbolo. A mulher e' mae, e shakti, aquela que e' capaz de gerar e nutrir todo o universo. E assim como nutre, pode destruir, consumir e purificar a vida. Ao menos e' assim que a mitologia indiana apresenta e idolatra o papel da mulher na terra. Em todas as nossas historias, a mulher tem um papel central. O universo em si e' representado sob a forma de uma mulher. Me emocionei quando vi isso num grande, famoso e antigo templo indiano totalmente dedicado a elas...

[Sobre "É preciso aprender a ser mulher"]

por Ram
6/8/2005 às
02h21 160.39.240.15
(+) Ram no Digestivo...
 
Morar em metrópoles
Minha avó costuma dizer, o lugar onde moramos é o lugar... Depois de morar em meia dúzia de lugares tendo a concordar com ela. Por outro lado, uma coisa eu ainda acho. Uma cidade muito violenta, e eu sou carioca, desperdica a energia dos indivíduos. Se o Rio mantivesse o nível que teve em meados de 95, seria hoje a capital do turismo mundial, tal o interesse em visitar esta cidade que conjuga tudo que eu amo. Tendo morado em lugares nao violentos, eu vejo que certas coisas que sempre deveriam ser simples, podem ser simples, e quando sao simples tornam a vida mais leve, mais saudavel, e mais produtiva. Acho um pouco ruim baixar a cabeca, e dizer, e' isso mesmo, e assim que vai ser morar numa grande cidade do Brasil, entao toma. Nao precisa ser assim, e nao devemos baixar a cabeca. Ao menos envie cartas para a prefeitura com sugestoes. Eu garanto que um pouco menos de violencia fara uma grande diferenca... E olha que ja' morei em lugares chatos, hiperpopulados, pouco populados, metropoles... tudo...

[Sobre "Por que eu moro em São Paulo"]

por Ram
6/8/2005 às
02h08 160.39.240.15
(+) Ram no Digestivo...
 
Julio Daio Borges
Editor
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