Sábado,
16/11/2002
Comentários
Leitores
Literatura e Política
Alexandre, meu caro, muito obrigado pela generosa referência ao meu blog, ao lado de tão boas companhias. As influências de Paulo Francis e de Olavo de Carvalho sobre nós são um excelente assunto. Mês que vem, quando eu tiver um pouco mais de tempo, vou escrever umas considerações pessoais a respeito. Outro assunto que também vale um artigo são as correlações entre política e literatura que você rastreou, e que o leitor Marcelo (que, segundo entendi, é o colunista Marcelo Barbão) questionou. Minhas impressões são as seguintes: não tenho dúvidas de que a esquerda, no Brasil pelo menos, é politicamente muito mais bem organizada do que a direita. Nisso o Marcelo tem toda razão. Considerem a disciplina tática de um PT, que enfim elegeu seu candidato à Presidência após uma persistente campanha de quase vinte anos (Lula é, aberta ou veladamente, o candidato oficial e permanente do PT desde as Diretas-Já). E comparem com a inconsistência de um PFL, há várias eleições sem candidato próprio, mais comprometido com esquemas patrimonialistas do que com as bandeiras liberais - e para tanto disposto inclusive a compor, durante oito anos, com um partido de esquerda moderada como o PSDB. É claro que o socialismo petista é sincero, ao contrário do liberalismo pefelista. E essa sinceridade tem sido o motor do permanente crescimento do PT na política nacional. Acontece que as razões desse fiasco político do liberalismo são diferentes das que o Marcelo aponta. O verdadeiro motivo são as diferenças de valores. Um esquerdista vê na igualdade o valor fundamental. Essa igualdade não pode surgir de forma espontânea nas relações sociais, que se dão entre pessoas não só conjunturalmente desiguais, pelas suas heranças, mas também naturalmente desiguais por seus talentos e méritos; as relações livres entre desiguais tenderão portanto a premiar e perpetuar essa desigualdade. A igualdade só pode ser imposta pela coerção estatal. É compreensível, portanto, que os esquerdistas tendam a ser tão interessados pela participação política, pela "construção" de partidos e "movimentos sociais" e pela tomada e manutenção do poder. Tirem de um esquerdista todas as possibilidades de ascensão ao poder e de reforma do mundo conforme seus planos igualitários e vocês verão um ser angustiado, destituído do sentido de sua vida, talvez propenso ao suicídio. Um liberal tem uma tábua de valores completamente diferente. Para ele, fundamental é a liberdade. Que se manifesta no exercício de seus atributos pessoais - ou, em outras palavras, no uso, fruição e disposição de sua propriedade (o termo é aceitável se o empregamos num sentido mais vasto, abrangendo todas as possibilidades de ação de um indivíduo que tenham a si próprio como fim). Um liberal, portanto, está ocupado essencialmente com a atualização de suas potências e com a persecução de seus próprios fins, com seus próprios meios. Daí podemos deduzir a existência de dois tipos de liberal: aquele que preocupa-se essencialmente com os fins - o uso de sua "propriedade" - e aquele que prefere dedicar suas energias aos meios - acumular mais e mais "propriedade", não raro às expensas dos outros. É claro que este último não é propriamente um liberal, mas um simples e imaturo egoísta. Este provavelmente gosta de política, um ótimo meio de se expropriar as outras pessoas. É o pefelista de carteirinha típico, sem dúvida um patrimonialista ardoroso - nessa categoria recaem todas as ditaduras supostamente "liberais" que o Marcelo mencionou. Já o primeiro é um liberal no sentido próprio do termo. Não quer expropriar ninguém, só não admite ser expropriado. Despreza a política e o poder. Importante para ele é "fruir sua propriedade" - por exemplo, mantendo blogs na Internet, dedicando-se à filosofia, à literatura, à história, às ciências puras, à arte, a tudo aquilo que seja atualização pura das potências propriamente humanas. É esse o ponto. Um esquerdista vê um liberal aprimorando seu estilo num blog, ensaiando os livros que futuramente escreverá - e só consegue enxergar nele um frívolo, um simples contemplador inerte e incapaz de impulsionar um "novo estágio das forças produtivas". O liberal devolve o olhar ao esquerdista, que está todo afobado com os mil e um compromissos políticos ativos que este assumiu - e se compadece desse pobre-diabo, tão crente de que pode "transformar a realidade", e que não compreendeu que a contemplação é o fim último da vida e o único modo de vida propriamente humano. Aí está o conflito: nos valores. Cada um dos dois faz - e tende a fazer bem - aquilo que lhe parece essencial. É compreensível, portanto, que tenhamos ótimas mentes táticas e revolucionárias em partidos de esquerda cada vez mais ativos - e brilhantes mentes contemplativas em blogs "de direita" cada vez melhores, à medida que seus autores amadurecem suas idéias e seu estilo. Nesse rumo, não é impossível que o futuro do Brasil seja uma espécie de União Soviética, uma máquina feroz (e, no curto e médio prazos, eficiente) de controle ditatorial da vida individual, movida pela busca obstinada por igualdade - e descrita, "ad perpetuam rei memoriam", nos romances e poemas de brilhantes gerações de escritores, todos exilados e todos "de direita". Os novos Nabokovs e Soljenitsins talvez estejam nascendo nos blogs da Internet brasileira. Tal como os nossos Stalins e Brejnevs já estão no ventre dos PT, do PSTU, do MST e de outros movimentos do tipo. Para finalizar esse enorme comentário, uma dica: uma maravilhosa exposição do liberalismo (e que por isso mesmo quase não fala de política, mas de valores) está no livrinho "O Saber dos Antigos", do filósofo italiano Giovanni Reale, Ed. Loyola. Estou recomendando-o para todo mundo: não custa nem vinte reais e marca fundo qualquer consciência. Esse, sim, é "revolucionário": pode mudar uma vida.
[Sobre "Filhos de Francis"]
por
Felipe Ortiz
16/11/2002 às
12h35
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Os regimes do "bom gosto"
É verdade, Rafael, concordo que os regimes comunistas foram assassinos e cruéis. Mas eles tiveram uma razão para ser assim. Afinal, cada vez que uma tentativa de se instaurar um regime socialista democrático, como o de Allende, era feita, os direitistas raivosos e babões se organizavam para dar golpes, assassinar, destruir as organizações populares e coisas assim. São todos gente boa. Quanto aos regimes de direita, podemos dizer, com certeza, que foram todos construtivos e "espalharam o bom gosto" pelo mundo. Vamos citar alguns: Pinochet, Videla, os 80 e poucos anos do PRI, Mobutu Sese Seko, Idi Amin Dada, o apartheid, General Franco, Salazar, os regimes árabes (quase todos, principalmente os reis sauditas e os xeques kuaitianos), Saddam Hussein (sim, ele é de direita), os fundamentalistas islâmicos, o ayatollahs iranianos, o próprio Taleban era um regime de extrema-direita (nenhum direitista de verdade pode afirmar que não torcia por eles quando lutavam contra os soviéticos), até mesmo o Khmer Rouge que era supostamente comunista mas financiado, armado e protegido pelos EUA. Entre outros, muitos outros regimes bastante construtivos e valorosos para a humanidade. Nem vou citar o Bush atual ou os clássicos Mussolini e Hitler (ah, esqueci, alguém tentou provar que esses eram regimes de esquerda, não é mesmo? E você acreditou, não é mesmo? Que tolice). Os neo-direitistas são tao pouco sérios que não são capazes de assumir seus governos, seus regimes. Para isso se escondem numa suposta dicotomia autoritário-libertário. Por quê? Por medo de assumir seus mortos. Eu assumo. As revoluções que ocorreram na Rússia, China, etc, foram de esquerda, tiveram seus acertos e erros. É preciso aprender e aprimorar. Vocês se escondem atrás de máscaras de liberais-conservadores e lavam suas mãos dos erros cometidos pelos "seus" governos ou inventam teorias mirabolantes que só são aceitas por esse pequeno grupo. É muito fácil se dizer de direita quando "esquecem" que a diferença entre o Taleban e os republicanos cristãos dos EUA é meramente retórica. Ou esquecer que a democracia norte-americana não passa da ditadura de um partido único, com duas facções. Quanto ao Lula, é como já disseram aqui mesmo no Digestivo, a democracia leva a essas coisas. A conclusão daquele colunista foi que a democracia não serve. É sempre bom ver a direita tirando a máscara. Melhor que o discurso hipócrita de quem não tem coragem de se assumir.
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marcelo
16/11/2002 às
12h07
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Seus artigos são bárbaros
Sr. Alexandre.
O descobrimento: alguém me enviou o endereço do Digestivo, tenho lido sempre que preciso desinfetar as traças do meu humor. Seus artigos são bárbaros, formidáveis mesmo. Aliás, acho os "francinetes" uma graça! Gostaria de saber onde posso encontrar A Coisa não-Deu, de sua autoria. Tentei encontrar via sistema de busca, mas a lista de resultados maciçamente apresentou o endereço do Digestivo. Surgiram alguns blogs, mas nenhum deles indica em que prateleira posso encontrar o livro citado. Atenciosamente,
Ana
[Sobre "Filhos de Francis"]
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Ana
16/11/2002 às
08h18
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The worst are full of...
...passionate intensity.
Engraçado como os esquerdóides, do alto de suas havaianas e mesas de boteco, têm a firme convicção de que mudam o mundo. Bom, vá lá, talvez até possam ter contribuído para mudar - foram responsáveis pela instauração dos regimes mais assassinos e hipócritas da história da humanidade, espalharam a ignorância e a falta de gosto pelo mundo, além de terem eleito um torneiro mecânico analfabeto para a presidência do maior país da América Latina. Se tudo é isso é "mudar o mundo", oh Deus, prefiria tanto viver num mundo estagnado, imutável!
Parabéns pela coluna, Alexandre, e obrigado pela citação, mas como diriam Wayne e Garth (!) - I'm not worthy!
[Sobre "Filhos de Francis"]
por
Rafael Azevedo
16/11/2002 às
05h41
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You Donīt Own Me...
Uau! Eu tinha 6 anos quando lançaram o filme. Mas também adoro a trilha sonora. ;-)
Gosto muito desses musicais da década de 70/80 e acho que, apesar de termos muitos filmes interessantes hoje, esses clássicos desta geração são de fato inesquecíveis.
Vale à pena.
[Sobre "Dirty Dancing - Ritmo Quente"]
por
Fabiana
16/11/2002 às
04h24
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Não espere milagres
Não se faz um país sozinho, não se salva um país com um homem só, e quem votou no Lula ou no PT imaginando um Milagre como em conto de fadas em que o heroí salva a pátria, como nos filmes americanos, não deveria ter votado nele, e quem não votou e agora se acha no direito de "cobrar" soluções mágicas, após umas duas horas de eleição, deveria tentar pelo menos dar uma chance, senão a ele, as pessoas que estão dispostas a ajudá-lo a melhorar esse país e por que não o resto do mundo. não existe nenhum salvador que vai ser empossado na presidência em janeiro, não existe nenhuma fórmula mágica que vai acabar com todo o sofrimento humano ( e não precisa ter miséria, fome e desempregado para ter sofrimento(Dejours)),
é apenas um homem que virou presidente, uma pessoa igual a ti, a mim, e a milhões de outros brasileiros.
Não espere milagres, a não ser o da vontade de se mudar para melhor, mas não se pode mudar um país, enquanto as pessoas não mudarem e não esquecerem o egoísmo e não souberem perdoar, isto está além do alcance de qualquer homem.
[Sobre "Lula: sem condições nenhuma*"]
por
Inge Christmann
15/11/2002 às
20h32
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Eu não!
Alexandre, Embora eu tenha gostado, como sempre, de seu texto, gostaria de fazer uma ressalva: não sou de direita! Embora também não possa ser considerado como pertencente a uma esquerda petista. Na verdade, estou mais para a boa e velha acracia. Falando de Paulo Fancis, tenho ainda guardados recortes dele falando de George Orwell, um escritor que ele amava até os últimos dias e ainda deve estar amando no céu ou no inferno, onde quer que esteja. E devemos nos lembrar que George Orwell era um socialista crítico, que escreveu Revolução dos Bichos para denunciar as distorções da revolução comunista, e 1984 para nos alertar contra os sistemas autoritários, tanto de esquerda quanto de direita.
[Sobre "Filhos de Francis"]
por
Gian Danton
15/11/2002 às
20h13
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Polêmica
É incrível como o pensamento de McLuhan ainda causa polêmica. Isso é mais uma prova de sua importância. Se suas idéias não fossem importantes, as pessoas o esqueceriam. Não importa se concordamos ou discordamos de McLuhan, analisar o mundo atual sem falar nele. Aproveito para agradecer todos os que se manifestaram sobre o assunto, inclusive os que discordam de meu texto. Afinal, como diria Nelson Rodrigues, toda unanimidade é burra.
[Sobre "Megalópoles de informação"]
por
Gian Danton
15/11/2002 às
20h08
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Deliciosa crueldade de Francis
Quem sabe, quaquer dia desses, algum cervejólogo de pés inchados e bronzeados (metidos em sandálias pestilentas) resolva se inspirar em Madame Tussaud e fundar o "Museu de Cera Hugo Bidê"? Claro que haverá uma eficiente refrigeração, a fim de que não se derretam as estátuas de ipanemenses famosos (e do Baixo Leblon, claro!), todas feitas com cera dos ouvidos do pessoal de esquerda (coletadas e doadas nas praias, pois ninguém é de ferro). Não duvide, meu caro! Ah, que falta nos faz o Francis!Principalmente agora, nestes tempos da "Sagração do Populacho", onde tudo o que for autenticamente retrógrado, simplório e demagógico será louvado, e com mística reverência. Francis almoçaria, jantaria e defecaria esses imbecis. Foi ele, o Francis, o primeiro cronista que vi realizar impiedosos e deliciosos desmontes do "politicamente correto". Ele era cruel, sim, mas sua crueldade jamais foi vã. Ele mostrava que lixo é lixo, não adianta tentar disfarçar, dar banho de ouro, enfeitar com penachos de faisão. Lixo é lixo e o lugar de lixo é na lata de lixo! Viva Francis! Viva Mozart! A escuridão dará lugar à luz... basta ter paciência e manter a despensa sob controle. Alexandre, obrigado pela referência ao meu blog. Tentarei não decair, prometo! Abração!
[Sobre "Filhos de Francis"]
por
Dennis
15/11/2002 às
16h06
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uma série incrível
Foi ou é, realmente, uma série incrível, quem não teve a oportunidade de assistir não saberá nunca do que tantas pessoas falam sobre este seriado. O que mais marca nesta série, é a ausência de efeitos especiais, e outros artifícios tão usados atualmente, deixando lugar a uma história que não poderia deixar de fazer tanto sucesso, a história da vida real, uma história em nos enxergamos, a simplicidade da produção, algo que dificilmente os "Enlatados" atuais conseguirão reproduzir, só nos resta a saudade e as recordações e a esperança de sempre podermos ver e algum dia mostrar para as próximas gerações um dos maiores exemplos do que a TV deveria trazer para as pessoas. Um Grande abraço a todos que assim como eu são fãs incondicionais dessa série.
[Sobre "Anos Incríveis"]
por
Junior
15/11/2002 às
15h46
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Julio Daio Borges
Editor
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