Segunda-feira,
18/2/2002
Comentários
Leitores
As malditas regrinhas ainda
Pedro, a gramática é sim o que eu falei. Os gramáticos não retiram as regras da cartola, mas dos fatos da língua. A escolha dos registros desses fatos não é arbitrária, como você afirmou; é elitista: escolhem estudar os fatos como aparecem não no falar de qualquer um, mas no de Camões, Herculano, Garrett etc. Não fazem um plebiscito da língua, seguem uma elite. Elegem essa elite por critérios como a harmonia, a clareza e a beleza, que, embora subjetivos, são aceitos de modo geral: quem lê os clássicos percebe que é bom escrever daquele jeito. Você está corretíssimo em dizer que "falar bem não é usar construções arcaicas, é saber organizar seu pensamento de modo a ser perfeitamente entendido pelo interlocutor". Justamente pensam nisso os bons gramáticos ao escolher seus clássicos. A menos que você entenda que o povo se expressa mais claramente que os clássicos, não vejo por que condenar essa preferência ou o esforço de tornar em regra aquele modo de falar e escrever. Eu disse mesmo por E-mail que a essência da língua é a mesma de Camões até hoje, e credito esse pequeno milagre aos que respeitaram a escrita daqueles autores, em vez de ceder aos inventos lingüísticos do povo. Por outro lado, quando afirmo que a mudança os afastará de nós amanhã, uso uma hipérbole, mas porque acho que hoje as condições são mesmo propícias à derrocada futura dessa unidade, o que eu não quero. Por isso é que me desagrada a consagração desnecessária de novidades e a morte do que já foi consagrado. Você talvez me considere alarmista, mas isso é outro problema.
[Sobre "Pelo Fim da Palavra VIP"]
por
Guilherme
18/2/2002 às
11h52
|
Tentando...
Érico, sinto desapontá-lo, mas sinceramente não lembro o que havia na caixa. Ele devolve a caixa para a dona, e o filme sugere que eles começam um relacionamento. Se não me engano, ela era uma espécie de artista plástica, ou algo assim. Acho que ela estava enviando uma encomenda para alguém. Sugiro que você pegue o filme em vídeo, já deve estar disponível.
[Sobre "Náufrago: nem tanto ao mar, nem tanto à terra"]
por
Adriana
18/2/2002 às
10h14
|
Tá bom
Caro Alexandre,
Respondendo ao seu comentário, estava me referindo a vários comentários (não só ao seu), mas
usei o seu como exemplo de "choradeira". No seu caso, queira me desculpar, realmente não foi
uma choradeira, mas, sim, um comentário metido a engraçadinho, mas sem nenhuma graça (o d'Os
Lusíadas). Se bem que, no fundo, ele soa como choradeira, porque, afinal, quem não argumenta
costuma partir para o deboche. É uma estratégia antiga, e muito usada por quem não quer
discutir (ou não tem como). Nunca mandei ninguém calar a boca, só disse para pararem com
esse discurso inquisicionista. Não há problemas em vc gostar ou não de alguma variante, e
eu disse isso por diversas vezes. Não há problemas, tb, em vc querer lutar por uma ou
outra. Ótimo, vá lá. O problema é q os fins não justificam os meios, e escrever barbaridades,
inverdades e agressões, como plenamente aconteceu aqui, não leva a lugar nenhum. Durante
essas discussões, houve xingamentos a lingüistas (chamados, inclusive de burros), falou-se
que o povo é inculto (como se o povo da época de Camões fosse um primor de cultura, mas
vá lá), espalharam-se barbaridades (como dizer q Camões, Vieira e Machado mantinham o
mesmo português e que se entenderiam perfeitamente) entre outras. Sinto que não vale
a pena continuar nessa discussão, porque parece q tem muita gente mais preocupada em
tumultuar do q falar algo que acrescente alguma coisa. Peço apenas que deixem de ser
precipitados em julgar qualquer variante "bonita" ou "feia", lembrem-se de q isso depende
única e exclusivamente do gosto pessoal. Muitas das regras gramaticais que temos hoje em
dia foram fruto do uso de pessoas "incultas" (expressão de q não gosto, mas vcs parecem
gostar) q acabaram se consagrando. Vocês já se perguntaram por que o plural das palavras
terminadas em "ão" são diferentes? Por exemplo: "pão" e "pães", "irmão" e "irmãos",
"campeão" e "campeões". Vou dar apenas uma dica: vejam como se escrevem essas palavras
em outras línguas latinas (quando houver) ou no próprio Latim. Uma outra dica, só pra
completar: como as pessoas "incultas" pronunciam a palavra "bom"? Pois é... "pão" era
pra ser "pãe" (vem de "pane", o n intervocálico sumiu com o tempo). E assim, analogamente,
para as outras palabvras. Mas, por algum motivo, o português tem (ou pelo menos tinha)
tendência à nasalização pelo "ão", e todas essas palavras, fracas na pronúncia no
singular, acabaram terminando em "ão". Podemos verificar isso na pronúncia dos "incultos"
de bom ("bão"). Se vcs acham horroroso falar "bão", talvez prefiram falar "pãe", ou talvez
até "pane", quem sabe? Tudo o q eu quero dizer é q vcs parem com esses preconceitos bobos
e infantis. E se vc pensa q eu achei vc autoritário... não nem um pouco! Uma pessoa não
pode ir contra a multidão se for o caso. Vc pode (e deve) lutar como e quanto quiser por
aquilo em q acredita, vá em frente. Mas se algum dia vc disse "falarei" e ninguém entender,
lamento, vc não terá saídas. É assim que as coisas são, querendo a gente ou não, como eu
já disse aqui um milhão de vezes, mas as pessoas, muitas vezes, só escutam (ou, neste caso,
lêem) aquilo que desejam. Não vou mais escrever aqui, não se preocupem, podem se considerar
livres de mim e voltem seu Bâtard-Montrachet sossegados.
[Sobre "Pelo Fim da Palavra VIP"]
por
Pedro
18/2/2002 às
05h30
|
Duas coisas
Pedro, duas coisas:
1) Onde foi que você viu um tom chorão, choroso, choramingas no meu texto? A julgar pela quantidade de "Façam-me o favor!", "Pelo amor de Deus!", e pontos de exclamação em geral, é mais fácil achar que, sem que você perceba, o som de choro que você ouve está escapando da sua própria e cerrada mandíbula. Estávamos todos rindo aqui, juro, e tomando Bâtard-Montrachet ainda por cima, antes que você chegasse gritando "Façam-me o favor!!!"- com três pontos de exclamação e tudo. Senta, respira fundo. Estamos tentando manter um tom civilizado aqui. Além disso, o espaço é muito pequeno entre estas duas barras vermelhas para o manuseio seguro de pontos de exclamação. Deixe todos esses !!!! perto da porta, ali junto dos guarda-chuvas. Na saída você pega com o mordomo.
2) Você sem dúvida acha que eu sou muito autoritário, querendo oprimir cento e poucos milhões de pessoas, etc. Mas de onde eu estou o autoritário parece ser você. Veja: escrevi um texto dizendo que há algo na língua que eu não gosto, e que há algo que eu gosto. Dei alguns motivos e pedi que se usasse mais aquilo que eu gosto, e menos aquilo que eu não gosto. Seria mesmo estranho se fosse o contrário. Mas você acha isso demais, e me grita para calar a boca. Seu argumento é que se o povo decidiu pela morte do futuro simples, quem sou eu para pedir que salvem o bichinho? Mas, Pedro, como você mesmo disse num dos seus charmosos e equilibrados emails, se o povo "consagra", às vezes também "desconsagra". Por quê, portanto, não posso eu tentar influenciá-lo um pouquinho- só um pouquinho- para "consagrar" de novo o futuro simples, e "desconsagrar" o composto? Acho um tanto opressiva essa visão da língua em que só multidões, e nenhum indivíduo, podem contribuir para o que quer que seja. A língua é mais dinâmica do que isso: aceita até mesmo que eu tente influenciá-la um pouquinho.
[Sobre "Pelo Fim da Palavra VIP"]
por
Alexandre Soares
18/2/2002 à
01h46
|
curiosidade
Eu gostaria de saber o que tinha na caixa conservada.
[Sobre "Náufrago: nem tanto ao mar, nem tanto à terra"]
por
Érico R. de Castro
18/2/2002 à
01h58
|
Nossos cockneys
Toni: você tem razão, são duas línguas convivendo no mesmo espaço, e se misturando (e depois dizem que isso só existe em Londres). Há aspectos bons nisso, suponho, mas às vezes dói no ouvido. Um abraço.
[Sobre "Pelo Fim da Palavra VIP"]
por
Alexandre Soares
18/2/2002 à
01h36
|
parabéns 2
Excelente texto, Daniela. Quando estive em São Francisco, cerca de oito anos atrás, eu e amigos ensinamos a dona de um bar (Beerness, se não me falha a memória) a preparar caipirinha. Foi um sucesso. Eu, particularmente, prefiro Mojito.
[Sobre "Tristezas tropicais"]
por
Fabio
17/2/2002 às
18h34
|
conservando o que eh bom
Alexandre, achei otima a ideia de poder ter a opcao de usar o futuro simples. Com isso a lingua guarda sua riqueza, oferecendo variedade de nuances, etc. Por outro lado, acho que voce continuarah a se surpreender com o mau uso do portugues e que esse quadro soh tende a se deteriorar. Eh que estah se alargando a base dos falantes em funcao de alteracoes economico-sociais que ocorrem no Brasil (e no mundo). Pessoas cujos pais, se muito, se limitavam a varrer o chao da classe media, hoje sao as que pilotam, por exemplo, postos de atendimento de telemarketing, falando em nome dos grandes conglomerados, ou participam com desenvoltura em programas de radio-televisao ou perguntam se voce quer algo mais nos balcoes e lojas espalhadas por esta nossa america lusofona. Acho que teremos aqui, e cada vez mais, convivendo lado a lado, mais de um tipo de portugues, desde o culto, universal, elaborado, ao simples, embrionario, brasileiro mesmo.
[Sobre "Pelo Fim da Palavra VIP"]
por
Toni
17/2/2002 às
17h57
|
parabéns
dani,
é sempre um prazer ler sua coluna, parabéns - e obrigada!
beijos
[Sobre "Tristezas tropicais"]
por
juliana fiorini
17/2/2002 às
15h35
|
merci beaucoup!
E nem as 'belles infidèles'! :)
Obrigada pelo texto, Paulo. Tenho enorme interesse pelo campo da tradução e coleciono tudo a respeito - pelo menos tudo que julgo importante, deixando os Derrida de lado. Mais uma vez, obrigada. E citarei seu artigo no meu weblog (http://missveen.blogspot.com).
[Sobre "A saída clássica"]
por
Juliana O'Flahertie
17/2/2002 às
10h53
|
Julio Daio Borges
Editor
|
|