|
Domingo, 8/2/2004 Making of... Julio Daio Borges versão editada (39 segundos) versão integral (1 minuto e 18 segundos) Quando o e-mail era ainda uma coisa incipiente no Brasil (em 1997, mais ou menos), eu não sabia como gravar e imprimia todos os que queria guardar. Mexendo em papéis dessa época no início do ano passado (2003), topei com respostas às mensagens que eu enviara ao Manhattan Connection. Quem assinava era a Lúcia Guimarães. Ela ainda não participava do programa (como apresentadora) e eu, mais um leitor anônimo, não tinha a menor idéia de quem se tratava (se pessoa importante ou não). Descobri, mais tarde, que ela fora (desde sempre) simplesmente a sócia de Lucas Mendes na produtora que realizava o Manhattan Connection – e eu não tinha dado a menor bola... Naquele tempo, eu – com pouco mais de 20 anos – queria saber porque o Paulo Francis não cultivava mais a cabeleira que ostentava na capa de Trinta anos esta noite (1994), “à la Jean-Luc Godard” (eu frisava na mensagem). Era uma piada sem graça (hoje eu sei) e podia perfeitamente ter passado em branco – mas a Lúcia Guimarães me disse pacientemente que iria encaminhar o “comentário”. (Espero sinceramente que o Francis não tenha recebido.) Foi obviamente por causa dele que eu comecei a assistir ao Manhattan Connection (não lembro exatamente quando). Lembro de um amigo da faculdade imitando o gesto de Paulo Francis para indicar o que deveria ser feito de Robert Zemeckis, o diretor de Forrest Gump (1994): Francis empunhava uma metralhadora imaginária e, girando os braços, soltava rajadas fictícias num suposto alvo. Paulo Francis indicava que Robert Zemeckis deveria ser fuzilado depois de dirigir Forrest Gump. Eu, que havia detestado o filme, não poderia concordar mais. Mas só vim a assistir ao Manhattan Connection assiduamente quando a TV a cabo finalmente chegou à minha casa. Lembro mais dos anos 1996-97, os últimos de Francis. Ele era um senhor de quase 70 anos mas ameaçava “sair na mão” (uso uma gíria da época) com Caio Blinder. Caio fazia o judeuzinho ranheta que cuspia informações e números sem parar, enquanto Francis cuspia os seus também. Quando o último se contradizia e o primeiro apontava a flagrante contradição, Paulo Francis apelava: – “Eu não sou como você. Eu mudo de idéia. Eu evoluo.” Era cruel. E até hoje eu não sei como o Caio agüentava. Agora quem não viu o Manhattan Connection no tempo do Paulo Francis pode entender porque, sem ele, o programa nunca mais foi o mesmo. O Arnaldo Jabor (que, numa certa época, era apontado como possível “sucessor” do Francis) até que gritava bastante e prejudicava muito a acústica do Manhattan, mas seria incapaz de chamar o Caio Blinder de “burro”, por exemplo (coisa que o Francis fez incontáveis vezes, quase que a cada edição). Para ele, vale o obituário que o próprio escreveu para Roniquito de Chevalier: “[...] Fazia o que não temos coragem de fazer – virar a mesa contra os horrores brasileiros. [...] Nosso horror é de uma tal ordem de vulgaridade que uma resposta vulgar de baderneiro talvez seja mais adequada do que ‘análises’ ou ‘contramodelos’”. Isso explica, em parte, porque praticamente deixei de assistir ao Manhattan Connection depois que o Paulo Francis morreu. Então ligava a televisão, de vez em quando, a cada estréia de novo apresentador (e até comentava no Digestivo: Olavo de Carvalho; o referido Arnaldo Jabor; Lúcia Guimarães). De repente soube da entrada do Diogo Mainardi e mandei-lhe um e-mail pedindo confirmação. Ele respondeu naquele estilo muito próprio: “Julio, Manhattan Connection a partir de outubro. A grana é boa.” Aí fui assistir. Achei todo mundo tão educado, tão bem comportado, e o Diogo desnecessariamente agressivo, cortando e interrompendo até os convidados (que iam lá, justamente, para acrescentar alguma informação, saindo no fim mudos e intimidados). O programa não fluía; ia aos trancos. Os apresentadores (mesmo os mais sérios, como a Lúcia) discutiam entre eles e o telespectador terminava sem entender nada. Não tive dúvida e canetei o Diogo. Digamos que arrisquei perder o amigo mas não a piada. Achava legítima a minha reivindicação (até como alguém que via o Manhattan Connection desde os primórdios). Então aconteceu do Eduardo Carvalho conhecer o Lucas Mendes aqui em São Paulo. Foi por ocasião do lançamento de seu mais recente livro: Manhattan Re-conexões (2003). Eduardo acompanhou-o estoicamente (até no programa da Ana Maria Braga) e, no final, falou-lhe naturalmente do Digestivo Cultural. O Lucas ficou de ver e o Edu me pediu que lhe mandasse um e-mail de apresentação do site. Fiz um resumo das citações ao Manhattan e despachei para Nova York. O resto vocês já sabem. P. S. 1 – Os filmes (aqui e aqui) são uma cortesia do Juliano Maesano (ex-Colunista do Digestivo) e da sua produtora. P. S. 2 – Conheci (há algum tempo), pessoalmente também, a Lúcia Guimarães. Abordei-a no Centro Brasileiro Britânico. Ela já conhecia o Digestivo (isso era antes da entrada da sua amiga Sonia Nolasco). O site lhe havia sido apresentado pelo Sérgio Augusto (o mesmo que ela, sabiamente, chama de “Sérgio Augoogle”). Julio Daio Borges |
|
|