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Sexta-feira, 23/7/2004 Entrevista à Cultura FM Julio Daio Borges Inicialmente, como começou essa história de site cultural? Fiz engenharia de computação e tive contato com a internet desde 1995, através de um estágio na Poli. Então, apesar de ter seguido essa carreira de engenheiro, trabalhando em banco, acompanhei de perto a internet e sempre tive vontade de fazer coisas através dela. Como eu tinha também uma paixão pela escrita — escrevia desde a época do cursinho e continuei escrevendo durante a faculdade —, quando me formei, quis continuar com as duas coisas e, como a internet estava começando no Brasil, eu montei um site, inicialmente, individual, com colunas que eu mesmo formatava e enviava para jornalistas (com alguma repercussão). Já em 2000, eu resolvi montar uma revista, mais abrangente, mais organizada, e — digamos assim — mais "comercial", que é o Digestivo Cultural. E como é o dia-a-dia de um site como o Digestivo Cultural? Um dia-a-dia bastante atribulado. Mas hoje está quase tudo automatizado: os próprios Colunistas cadastram suas matérias. Eu faço uma edição bastante simples: coloco alguma formatação, alguma Imagem, etc. Todos escrevem, felizmente, muito bem (eu praticamente não tenho de reescrever nada). Depois, tem a minha parte, que eu escrevo uma vez por semana e deixo também programada (entra automaticamente). Há, ainda, a parte dos Ensaios, dos colaboradores da grande imprensa, que é atualizada a cada quinze dias. Por último, os contatos com as assessorias... E os contatos com os nossos Parceiros! Fora os e-mails que chegam, os Comentários dos Leitores, que o site decide (ou não) publicar em tempo real. Vocês dividem as Notas por dia da semana. Aliás, são dois assuntos por dia da semana. Na quinta-feira, por exemplo, cinema e música... Mais ou menos. Isso, inicialmente, era fixo. Mas, às vezes, o site tem alguma notícia mais quente para dar ou então uma outra que se quer postergar... Logo, na prática, é mais maleável. O certo é que se publica sempre às segundas, quartas e sextas-feiras, depois são reunidas as últimas três Notas e monta-se o que chamamos de "Digestivo" (ou seja: os três últimos assuntos, agrupados, por data de publicação). É, no fim, uma maneira de organizar por dia da semana, mas o site tem sempre liberdade para mudar. Quem são os Colunistas e quem são os Ensaístas? Os Colunistas são pessoas, mais ou menos, da minha geração — que começaram com a internet. Claro que há também alguns que já são jornalistas e outros que até lançaram livros (autores). Mas, em geral, são pessoas que estão mostrando um trabalho novo na internet (pois não tem espaço na mídia impressa) — e que estão querendo firmar o próprio nome. Como eu estou fazendo; como o Digestivo vem fazendo — ou seja: apesar de o site já ter se firmado, como marca, a gente está sempre trabalhando nisso. Já os Ensaístas são, como eu disse, colaboradores da grande imprensa — todos admiradores do Digestivo e que cedem seus textos (nem sempre inéditos) para o site (re)publicar. Trazendo, é lógico, a credibilidade que eles já têm, na imprensa escrita, para o nosso trabalho. Quantas pessoas, por dia, acessam o Digestivo? O Digestivo Cultural está com uma média de 1750 visitas por dia. Varia então de 1500 a 2000 visitas, dependendo do dia da semana, dependendo até das matérias que são publicadas (conforme a repercussão). Multiplicando, chega-se a 50 mil visitas por mês e 35 mil visitantes-únicos. Qual é o perfil do público que costuma ler o Digestivo? É um público adulto, de 20 anos para cima. Um pouco "elitizado", não diria economicamente, mas em termos de educação e cultura — que gosta de jornalismo mais refinado e que não fica apenas no noticiário (aprecia também análise e reflexão). É um publico de classe social A e B — mas o site não acredita que a renda seja um fator determinante. E, pelo fato da internet estar concentrada mais no eixo Rio-São Paulo, você encontra mais Leitores paulistas e cariocas. Mas, claro, há muitos da região sul; muitos de fora do Brasil (brasileiros que querem manter um contato com o País). Houve, inclusive, um vencedor da última Promoção que era do Canadá. Como funciona a participação dos Leitores? No começo, o Digestivo Cultural recebia muitos feedbacks por e-mail. Mas organizá-los era um processo muito penoso, porque era preciso editar as mensagens, depois formatá-las em páginas, para, por último, colocar tudo no ar. Então, foi criada uma seção de Forum, que fica normalmente em baixo de cada texto publicado. Os Leitores têm, portanto, a chance de comentar on-line. O Comentário, em seguida, é enviado a mim ou ao autor e, por fim, é (ou não) aprovado para entrar na homepage e no próprio Forum. É uma maneira de garantir interação. Fora isso, nas mesmas Promoções, abrimos espaço para feedbacks dos participantes. Perguntamos o que acham do Parceiro, se tem alguma imagem do Parceiro, o pensam das próprias Promoções, etc. É um jeito de mostrar, ao próprio Parceiro, que as nossas ações em conjunto estão sendo bem recebidas e que estão gerando resultados. Existe manifestação mais por determinado assunto? Eu não diria por assunto. Acho que a polêmica acontece mais por causa da forma, da abordagem. Publiquei recentemente, por exemplo, um texto sobre o fim de OPasquim21. Na minha opinião, o jornal não deu certo porque estava fora de seu tempo (diferentemente do primeiro Pasquim). Houve, então, manifestações de Leitores que se irritaram, que ficaram bravos — porque eu concluía que o próprio Ziraldo estava também fora do tempo. Assim, eu acredito que essas reações ocorrem quando você toca num ponto fraco. Já sobre o último CD do João Gilberto, eu o chamei provocativamente de "gagá" ("foi a primeira impressão", eu dizia), porque penso que está se regravando demais, por culpa das gravadoras que sempre relançam as mesmas canções, etc. A polêmica depende, portanto, de como "se coloca" o assunto — e não tanto do assunto. Claro, existem figuras naturalmente polêmicas, como o Caetano Veloso (qualquer coisa que você fale contra ou a favor dele, vão surgir opiniões contrárias) — mas não acredito numa regra. Mas a polêmica é também uma forma de se conhecer os Leitores, não? Acho que sim. Mas acho, também, que é uma forma de — mais do que isso — se discutir um assunto. No Brasil, temos algumas "vacas sagradas", alguns "nomes", alguns assuntos mesmo que são considerados intocáveis. Unanimidades que, geralmente, obrigam as opiniões a um consenso forçado. Nesse caso, eu penso que se cria um "tabu" — e, por isso, é tão importante se falar sobre ele. Assim, com esse objetivo, a polêmica torna-se importante. Ainda que não valha a pena perseguir a polêmica — o que, em termos de jornalismo, pode ser extremamente empobrecedor. E como é que o site se sustenta? Hoje ele se sustenta através das Parcerias que, na verdade, são patrocínios. "Parceria" porque é um nome mais politicamente correto, digamos assim, e porque, realmente, o Digestivo oferece não só um "patrocínio puro". Através do site, nossos Parceiros têm oportunidade de vender seus produtos (via e-commerce) e de divulgar sua marca em Newsletters, Banners, Promoções, etc. Basicamente, é disso que o site vive. Como uma revista, que vive de anúncios. Continua >>> Julio Daio Borges |
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