O Editor
Julio foi a única
pessoa que conheci duas vezes. Não, não tem nada a ver com reencarnação.
O que aconteceu foi o seguinte: há quase dois anos, eu e um amigo, o
colunista Rafael Azevedo, participávamos de discussões inflamadas no
fórum do filósofo Olavo de
Carvalho. À la Sócrates, nos divertíamos em esculhambar os cegos
seguidores do nobre filósofo, na vã tentativa de fazê-los enxergar a
própria cegueira. Um belo dia, o Rafael recebeu um email de um tal de
Julio Daio Borges. Esse tal de Julio Daio Borges dizia ter gostado dos
textos dele e encontrado a página pindorama.net, que o Rafael havia
montado comigo. A gente então passou a receber os famosos "Digestivos",
pequenas críticas culturais que o Julio escreve e envia a uma enorme
mailing list. Com a desculpa de comentá-los, escrevi ao Julio e me apresentei.
Conversamos sobre vários assuntos e nos tornamos amigos virtuais.
Em outro belo dia,
o Julio me disse que colocava textos de autores novos em sua página
pessoal, e eu mandei-lhe um pequeno poema que havia
escrito num momento de muita angústia. E acrescentei: "Julio, por
favor, me diga o que acha do poema; seja duro, se necessário. Como não
nos conhecemos pessoalmente, você tem o privilégio da sinceridade".
Ele me respondeu: "Não vou comentar o seu poema por dois motivos.
Primeiro, eu não entendo muito de poesia. Segundo, nós nos conhecemos
sim. Dê uma olhada na foto da minha formatura, que ilustra o meu artigo
'A
Poli como ela é'". Fui olhar e lá estava o meu amigo de infância
(e também colaborador do site) Marcelo Brisac, comemorando o fim do
pesadelo da Poli ao lado do Julio. Aí lembrei: no jantar de despedida
do Brisac (que se mandou pra Nova York), fui apresentado a um sujeito
calmo e inteligente, que havia recebido elogios do Diogo Mainardi e
do Rubem Fonseca, mas, devido a minha extravagante timidez, não conversamos
por muito tempo.
E foi assim que
conheci o Julio duas vezes.
Bom, mas como tudo
começou? Como surgiu o site como o conhecemos hoje? Francamente, eu
não sei. O que sei é que o Julio montou um site para os seus Digestivos,
e no início deste ano resolveu ampliá-lo e "profissionalizá-lo".
Chamou uma série de conhecidos, dos quais eu não fazia parte, para escrever
textos para o site. Desconfio que ele realmente não tenha gostado muito
do meu poema. Mas uma vez mais, o Brisac apareceu entre nós. Julio propôs
que ele escrevesse sobre música, e o Brisac, claramente sacaneando-o,
respondeu: "Eu não saberia o que escrever. Quem entende de música
é o Fabio. Você devia convidá-lo também".
O Julio caiu na
do Brisac e entrou em contato comigo. Eu disse que adoraria escrever,
mas não especificamente sobre música, já que sou apenas um amador, um
sujeito relativamente normal que ouve e gosta de música; no fundo, não
passo de um pobre aspirante a jornalista: como Otto Lara Resende, "sei
cinco minutos de cada assunto". E nem isso.
O Julio aceitou.
Me deu carta branca para que eu escrevesse o que quisesse e ainda perguntou
se eu conhecia alguém que poderia colaborar com o site. Arrastei o Rafael
Azevedo pra cá e desde então somos felizes para sempre.
Adriana Baggio
Logo no início do
novo Digestivo Cultural, recebemos um simpático email de uma garota
chamada Adriana Baggio. Ela havia gostado muito do site e queria saber
se existiria a chance de, quem sabe, eventualmente, talvez, um dia,
ela colaborar com um texto. Ela dizia também ser de Curitiba, embora
morasse em João Pessoa. Ora, eu havia conhecido uma Baggio de Curitiba,
anos atrás, quando viajei para a Itália. Escrevi um email à Adriana
perguntando se ela, por acaso, era parente dessa minha conhecida, a
Mariana Baggio. Ela me respondeu que existem muitas Baggios em Curitiba,
e que a única Mariana Baggio que ela conhecia era sua avó. Concordamos
que a possibilidade de estarmos falando da mesma pessoa era remota.
Começamos a nos
corresponder. Quando co-organizei, com o Rafael Lima, o especial sobre
o Oscar, resolvemos, junto com o Julio, chamá-la para escrever sobre
um filme. Ela começou escrevendo sobre Náufrago; afinal, era uma marinheira
de primeira viagem. O texto agradou a todos do site e desde então ela
vem colaborando para que o Digestivo nunca vá a pique.
Daniela Sandler
Tenho duas más notícias
sobre a Daniela. 1) Ela mora longe do Brasil, em Rochester, EUA. 2)
Ela tem namorado. Mas nem só de más notícias se faz o mundo (graças
a deus o mundo não é exatamente como nos jornais). Olhemos o lado bom:
ela escreve muito bem, é extremamente inteligente e vira-e-mexe dá um
pulo cá no Brasil. Foi num desses pulos que a conheci. Organizamos o
I Grande Encontro do Digestivo Cultural aqui em São Paulo, quando vieram
Colunistas dos lugares mais estranhos possíveis, como Rochester e Rio
de Janeiro. Infelizmente, a mesa estava cheia de gente e nós não pudemos
conversar muito. Tento compensar esse infortúnio lendo-a religiosamente
às quartas-feiras, e me correspondendo sempre que posso com ela.
Recentemente descobri
que ela trabalhou na Folha com uma amiga minha, a jornalista Alexandra
Ozório de Almeida, e é prima do namorado de uma das minhas amigas mais
antigas (a minha amiga é jovem, a amizade é que é antiga, bem entendido).
Como no caso do
Julio, é altamente provável que eu já a tivesse conhecido, antes de
efetivamente conhecê-la.
Vera Moreira
Infelizmente não
conheço a Vera pessoalmente. Ela mora em Gramado, onde comanda uma pousada
e um bistrot. Ainda
irei visitá-la lá. Nas duas vezes em que marcamos um almoço para encontrá-la
aqui em São Paulo, eu não pude comparecer. Mas os emails que a gente
troca parecem de dois antigos conhecidos. É engraçado. O Digestivo
me mostrou como é possível ter um velho amigo sem nunca tê-lo visto.
Que mais posso dizer
da Vera? Que palavras não diminuiriam, pela pobreza inerente aos adjetivos,
a sua gentileza, a sua doçura, o seu talento? Foi ela quem incentivou
o Julio a ampliar o site. Portanto, se hoje você digere o Digestivo
tal qual ele é, mande seus cumprimentos à nossa chef. Ela é a
crítica culinária por excelência do site, nos deliciando sempre com
seus comentários sobre o saboroso mundo da comida, e sempre demonstrando
a mesma inteligência e sensibilidade quando resolve escrever apenas
sobre o mundo - este nem sempre saboroso. Parafraseando
o Joseph II do Peter Shaffer, she's the brightest star in our gastronomic
firmament.
Arcano9
Ainda não tive a
honra e o prazer de conhecê-lo pessoalmente. Ele trabalha em Londres,
na BBC, bem perto do Ivan Lessa. É talvez o mais criativo dentre os
Colunistas. Mas já gastei todos os meus elogios com as Colunistas mulheres.
Passemos ao próximo.
Fabio Danesi
Rossi
Esse aí sou eu.
Não tem muita relevância. Vamos pulá-lo.
Juliano Maesano
Conheci o Juliano
num rápido encontro na Casa do Padeiro. Ele disse que não bebia. E que
não iria comer pois estava de regime. Além disso, não podia ficar muito
tempo. Olha como as descrições enganam. Relendo essas linhas, chego
a conclusão que o Juliano é o cara mais chato do mundo. Não poderia
haver engano maior.
A segunda vez que
o encontrei foi no O'Malley's, pub que serviu de palco a vários encontros
do Digestivo. Quando cheguei, ele e o Julio estavam bêbados,
abraçados e cantando alguma música em alemão (ou simplesmente estavam
enrolando a língua, não sei ao certo). Lamentável. Cinco minutos depois,
o Juliano devorava um sanduíche de vários andares.
Bebemos e devoramos
sanduíches muitas vezes depois, até ele tomar uns puxões de orelha de
sua noiva e resolver deixar novamente de beber e voltar ao regime. Espero
que ele case logo, pois daí certamente o regime será abandonado e nós
voltaremos a encher a cara (just kidding, Maezena!).
Marcelo Brisac
Não é bem um colunista.
Escreveu, até agora, apenas três textos. Foi o responsável pela minha
entrada no Digestivo. É meu amigo desde criança, quando estudávamos
juntos no Santo Américo. Tivemos apenas duas brigas sérias até hoje:
nós dois colecionávamos gibis do Tio Patinhas. Tínhamos raridades e
naturalmente havia uma certa rivalidade entre as nossas coleções. Um
dia, um garoto cujo apelido era Frank (pois ele lembrava o Frankenstein),
apareceu com o gibi número dois do Tio Patinhas. Queria vendê-lo prum
otário. O Brisac jurou que era otário e suficiente e eles começaram
a negociar preço. Eu atrapalhei o negócio dizendo ser mais otário ainda,
disposto a pagar mais pela revista. O Frank resolveu fazer um leilão.
Meu lance foi maior. O Brisac me disse: "Fico triste em saber que
uma revistinha vale mais do que a nossa amizade". Tinha lágrimas
nos olhos. Eu não voltei atrás: paguei o Frank, botei o Tio Patinhas
número dois debaixo do braço, e saí exibindo minha raridade aos amigos.
Passamos dois longos dias sem nos falar. A outra briga foi 1986. Não
sei se alguém se lembra, mas era o ano internacional da paz. Eu comecei
a escrever um conto com esse título: "1986 - o ano internacional
da paz", em que eu relatava diversas desgraças que estavam acontecendo
pelo mundo. Contei ao Brisac a minha idéia. Acrescentei que não queria
desperdiçá-la numa redação para a escola. Ele concordou comigo e até
se dispôs a me ajudar no conto. Pouco tempo depois, quando o professor
de português foi devolver as redações daquele bimestre, comentou: "Parabéns
Brisac. Você tirou dez. O título está excelente". O título era:
"1986, o ano internacional da paz?" Olhei o Brisac, incrédulo.
Ele se apressou em dizer que o título não era exatamente o mesmo, pois
terminava com um ponto de interrogação. Enfim, ele apenas se baseara
na minha idéia, não a tinha copiado. Passamos uma semana sem nos falar.
Essas brigas não
impediram que ele convencesse o Julio a me colocar como colaborador
do site. Ele deve ter brigas piores com o Julio...
Há três semanas,
o Brisac teve seu escritório e seu apartamento afetados pelos atentado
ao Word Trade Center. Segundo dizem, ele está morando num acampamento
militar em New Jersey, e tem que dividir o colchão com o David Letterman.
Yuck! Espero que ele volte a escrever logo para o Digestivo e
bote um fim a esses terríveis boatos.
Paulo Polzonoff
Jr.
Paulonoff, como
é conhecido entre nós, é mais um dos Colunistas que não
conheço pessoalmente. A primeira vez que ele chamou minha atenção foi
com o artigo "Está Consumado", publicado aqui no site. Desde
então acompanho sempre suas colunas, tanto no Digestivo quanto
no Rascunho, caderno cultural do Jornal do Estado (do Paraná), onde
ele também escreve. Não conheço ninguém que escreva tanto. Há dias em
que ele manda dez textos pro Julio. A gente costuma brincar que, o dia
em que faltar idéias e textos para os especiais, a gente pode criar
sem problemas o especial Polzonoff, uma semana só com textos dele...
De novo vou citar
o Otto Lara Resende. Ele disse que o Nelson Rodrigues não tinha sangue
nas veias, tinha tinta. Acho que o Polza (outro dos seus apelidos) também.
Paulo Salles
A minha amizade
com o Paulo Salles começou com uma briga. Ele escreveu uma coluna sobre
o Harold Bloom, e eu lá fui escrever para o egroup do Digestivo tirando
uns sarrinhos de uma das idéias abordadas... ele respondeu com uma paulada
verbal em mim. Retruquei explicando minha admiração pelo texto, mas
pedindo que ele me explicasse melhor certos trechos. Ele me mandou um
email muito gentil, de dezenas de páginas, mais capítulos de livros
sobre o assunto traduzido por ele mesmo; no total, mais de 200 páginas.
E assim é o Paulo. Amável, gentil e educado. Mas se você cutucar, vai
tomar na cabeça.
Companheiro fiel
de noitadas regadas a Labels de todas as cores, grande papo, brilhante
escritor - tê-lo conhecido é quase tão bom quanto poder ler seus textos.
Rafael Azevedo
Rafael é meu amigo
desde épocas remotas. Entramos juntos no Digestivo. Lemos sempre
a coluna um do outro antes de enviá-las para o chefão. Palpitamos, discutimos,
corrigimos e brigamos. Toda semana é assim. Mas, no fim das contas,
a gente se diverte.
Pena ele estar de
partida para a Inglaterra, onde estudará duas de suas grandes paixões,
História e arqueologia. Boa viagem meu caro, e não deixe de escrever.
Cartas e colunas.
Rafael Lima
Conheci o Lima no
I Grande Encontro do Digestivo, lá no O'Malley's. Ele chegou
do Rio de Janeiro (onde mora), pegou um táxi e tocou direto pro bar.
Apareceu de mochila nas costas e camiseta do homem-aranha. Em pouco
tempo, já tinha dado em cima da garota por quem fui apaixonado, reclamado
da fumaça do meu cigarro e dito que não bebia cerveja. Não sei como,
mas acredite, viramos amigos.
Escreve de forma
extremamente agradável quando fala de cultura e cotidiano, e é bastante
complexo quando põe-se a filosofar.
Um dia pretendo
visitá-lo no Rio, e dar em cima da garota que ele é apaixonado, reclamar
da camiseta do homem-aranha e arrastá-lo prumas cervejas no Cobal.
Yara Mitsuishi
Yara é brasileira,
japonesa, árabe, judia, canadense. É cidadã do mundo. Tem rara duplicidade
de talento, escreve bem pra diabo e faz ilustrações divinas. Era a melhor
amiga de uma grande amiga minha, que também já colaborou no Digestivo,
Ilana Mountian. A Ilana tem um sério problema: não consegue ficar muito
tempo numa mesma cidade. Se mandou para as florestas mexicanas e em
breve estará na Inglaterra, ou Israel, ou Espanha, ou Austrália, ou,
quem sabe algum dia, Brasil. Longe dela, e com saudades, dividimos lágrimas
e uísques. Não tivemos outra opção: nos tornamos os melhores amigos.
Um dia, numa lanchonete, sugeri que ela fizesse uma ilustração para
a minha coluna. Foi a pior coisa que eu já fiz. Agora ela passa o dia
fazendo ilustrações ao som de New Order. Caí pra segundo plano. E ainda
por cima detesto New Order.
Daniela Mountian
A primeira vez que
conversei com a Daniela foi numa boate gay em Higienópolis. Não foi
propriamente um encontro romântico. Nem eu nem ela somos homossexuais,
mas temos amigos desse lado do rio. Depois nos víamos casualmente, nas
inúmeras festas de chegada ou despedida de sua irmã, a já citada Ilana.
Alguns meses atrás, criamos o Quarteto Fantástico, formado por ela,
pela Yara, pelo Paulo Salles e por mim. Desde então nos encontramos
duas ou três vezes por semana, para debater os mais diversos assuntos
e - já que ninguém é de ferro - rir um bocado de tudo e todos.
O Digestivo
Já falei como conheci
cada um dos integrantes do site, e acrescentei minhas impressões sobre
eles. Antes de me despedir, gostaria de dizer que o que torna o Digestivo
especialmente atraente para mim é a diversidade de idéias que ele apresenta.
Conhecer e ler pessoas tão diferentes, e ter o imenso prazer de trabalhar
no mesmo site que elas, faz com que eu esteja sempre aprendendo, sem
deixar de me divertir.
O Digestivo
é uma prova do valor da tolerância, uma ode à liberdade de expressão
e pensamento. Particularmente importante nesse delicado momento da humanidade,
em que uma guerra se aproxima e bombas de intolerância explodem em prédios,
escolas e esquinas.
Tenho uma frase
que gosto de citar: "a maior prova da sua mediocridade é encontrar
alguém igual a você". Acho a diversidade de idéias e personalidades
extremamente valiosa, e acredito que quando as pessoas são sinceras
consigo mesmas, e se expressam aos outros como realmente são, elas se
tornam mais interessantes.
E assim é o Digestivo.
Ninguém aqui diz o que não sente ou o que não pensa, para agradar determinado
tipo de pessoa ou fingir ser quem não é. E cada um tem sua própria visão
de mundo, sem julgá-la imutável e - principalmente - sem desprezar outros
ângulos.
Me despeço aqui.
É hora da siesta.