Em
meados de abril, Paulo Polzonoff Jr me enviou o seu Está
Consumado. Terminei a leitura em estado de choque.
Não soube como distribuí-lo para os leitores. Se fosse
como "coluna", passaria por ficção e, logo,
por falsificação. Decidi, então, reenviá-lo
conforme ele me chegou: como "texto aberto na mensagem".
Muitas pessoas se emocionaram com Está
Consumado,
outras tantas classificaram o texto como "brincadeira de mal
gosto". Decidi publicar aqui as reações (algumas
comentadas pelo próprio Paulo Polzonoff Jr).
Mensagens dos Leitores #1
Lindo, Paulo!
Terrivelmente, lucidamente, dolorosamente lindo. Mas eu penso que
vale a pena lutar contra este desejo não só para não matar os outros
mas para saborear o cálice de mel, depois que o amargo vinho cede
na taça. Sim, porque tudo tem fim. A vida, a dor, o fogo, a cinza
Beijo,
Consuelo de Castro
Paulo Polzonoff Jr responde:
Consuelo,
seu email lindo me fez Fênix.
Abraço,
Paulo
Mensagens dos Leitores #2
Prezados Senhores
Fiquei deprimido ao ler o seu "ensaio" sobre o suicídio. Ensaio? Melhor dizer tratado. Sim, tratado. Alí está consignada as mais variadas desculpas para se passar desta para melhor ? Tentei deletá-lo antes que acabasse sendo influenciado ao ponto de pensar , seriamente, em fazer o que ali estava sendo escrito. Afinal, ninguém é de ferro! Mas quando dei por mim já tinha lido tudo. Aí fiquei pensando: o que leva uma pessoa a escrever essas coisas para estranhos na sua presença? Talvez alguém, num momento de incontida diarréia epistolar, tenha sentido a necessidade fremente de externar o que lhe vai na alma. Até entendo, afinal, neste mundo louco em que vivemos presumo que, como vc, existam milhares com essa idéia, digamos, singular. Mas, convenhamos,isso nao é coisa que se passe adiante. Ainda mais para pessoas que vivem num país como o nosso, cheio de problemas da maior magnitude e que, sobejamente, desconfiam que nunca serão resolvidos.
Para nao tornar o seu pensamento mais negativo ainda mais com essascriticas, desejo a vc uma boa noite sono para que possa ver o amanhecer de um novo dia e enxergar a luz que irá iluminar o mundo e a sua vida...para sempre.
Roberto
Paulo Polzonoff Jr responde:
Roberto,
Curioso: mesmo contrariado, você leu o texto todo!!
De qualquer forma, queria lhe dizer que já estou curado de
minha "diarréia epistolar", como você a chama.
E sinto muito se a morte, tema de suma importância, tenha lhe
caído tão mal no estômago. Fazer o quê?
Há estômagos - e principalmente cérebros
- sensíveis às mais delicadas das comigas. Acho
que é seu caso. Faça uma endoscopia. Ou escute a Nona
de Beethoven, como faço agora.
Abraço,
Paulo
Mensagens dos Leitores #3
Paulo,
Difícil
escrever uma mensagem a respeito do seu texto sem correr o risco sério de cair na banalidade ou no desabafo solidário,
do tipo "eu também sei o que é isto", e outras bobagens do tipo. Para piorar,
nunca escrevo para escritores, jornalistas e afins- para dizer a verdade, só
escrevo para mim mesma. Ainda assim, gostaria de te dizer isto:
Tenho 24 anos, e já tentei me matar duas vezes- a primeira
aos 17 anos, a segunda com 21. Quando meu psiquiatra me perguntou porquê diabos
eu havia tentado de novo a mesma coisa, só conseguia olhar para ele
com a maior perplexidade, me perguntando com é que ELE nunca havia tentado
também. Não sou escritora, como já deve ter percebido, portanto nunca consegui
traduzir exatamente minha enorme impotência diante do tédio da
vida, de sua completa inutilidade, e o desespero avassalador por ter descoberto que realmente viver não era minha vocacão.
Obrigada por ter dado um nome ao meu desespero: tédio.
Carolina
Paulo
Polzonoff Jr responde:
Carolina,
De todas as respostas que recebi sobre o texto, a sua foi a que mais
me marcou, não só pela sinceridade, mas porque me alimentou,
de certo modo, uma vez que soube, por um átimo, o que faço
aqui. Quer saber o que faço? Escrevo para pessoas como você,
que em poucas linhas é capaz de se mostrar sensível,
e para as quais a vida não poupa as maiores mazelas emocionais
possíveis. Talvez soe cruel o que direi, mas seu tédio,
neste sábado chuvoso e frio curitibano, é-me um alento.
E vislumbro, na minha imaginação, um sorriso tedioso
enquanto você lê esta resposta escrita às pressas.
Nunca a vi, jamais te amei, mas ler sua mensagem me lembrou dos célebres
versos da música do Chico Buarqie: Carolina, os seus olhos
tristes...
Beijo,
Paulo
Mensagens dos Leitores #4
Paulo,
Eis um dos
grandes alimentos dos parnasianos. Bem vindos, porta-vozes do inevitável!
Renato Salviato
Fajardo
Paulo
Polzonoff Jr responde:
Caro
Renato,
Não sou dado a contemplar vasos gregos como os parnasianos,
mas daria uma boa lápide, após meu suicídio,
o que vc escreveu. Que tal lhe soa:
aqui jaz um porta-voz do inevitável
abraço,
Paulo
Mensagens dos
Leitores #5
Recado ao Paulo
Para cometer
suicídio é preciso ter coragem (meus dois avôs
cometeram este ato contra a própria vida), coragem para deixar
esta dádiva divina de poder realizar o bem de ver crianças
brincando, de ver o sol nascer e se por a cada dia, contemplando este
momento como se fosse o único.
A coragem necessária para suicidar-se é a mesma coragem
necessária para abandonar uma vida sem objetivos, sem emoções
e renascer para uma vida nova, cheia de realizações
e vitórias. Como diz o refrão daquela música:
é preciso saber viver...
Acredito que
cada ser humano tem uma missão nesta vida, talvez você
ainda não tenha descoberto a sua. Então porque não
tentar descobrir qual é a sua missão e fazer disso um
motivo para viver?
Confesso que já pensei em suicídio por diversas vezes
na minha existência, mas a vontade de continuar vivendo e lutar
contra as adversidades foi muito maior, e hoje me considero um vencedor.
Por isso peço não abandone a vida, seja um vencedor.
Diogo
Paulo Polzonoff Jr responde:
Caro
Diogo,
Há muitos meios de se matar - e um deles é se manter
vivo. Meu texto é uma ode à vida, ainda que privilegie
sua desistência em algum momento.
Abraço,
Paulo
Mensagens dos Leitores #6
Você procura um sentido para a vida? Eu encontrei
um pouco neste livro, é maravilhoso! Recomendo e espero que
goste.
Nara
Brasília, 17 de abril 2001
"...Ser
feliz é viver na plenitude do momento que passa. É libertar-se
de um passado já morto e de um futuro inexistente, pois a única
coisa que existe é o momento presente..."
"....Ser
feliz é ser forte na renúncia. Mas a renúncia
não deve ser apenas ma palavra, expressão de um conhecimento
intelectual, ou teórico. A renúncia deve ser uma realidade
que tem de ser experimentada. Renúncia é sinônimo
de libertação..."
"...Ser
feliz é não se apegar coisa alguma deste mundo. Todo
apego cria germe de futuro sofrimento..."
"...Ser
feliz é estar livre de todos os desejos. Se me sinto feliz
no momento de satisfazer um desejo que me surge na mente, é
porque naquele exato momento eu fico sem desejo. Porém, logo
em seguida, a felicidade desaparece, porque surgem outros desejos
em minha mente. E assim sucessivamente... Por maior que seja a minha
capacidade de satisfazer os meus desejos, estes serão sempre
superiores à capacidade de satisfazê-los..."
Trechos da
obra "Budismo: Psicologia do
Autoconhecimento" de Georges da Silva e Rita Homenko
Mensagens dos Leitores #7
Talvez eu esteja na categoria de muito burra. Mas entendo
que vc não quer se matar, mas sim quer destruir a vida que
vc leva hoje. Talvez ela não seja o que vc mais deseje.
Então, é preciso coragem, mas vc pode mudá-la
completamente. Pode tornar-se o camponês... Talvez com algumas
modificações pq duvido que vc se acostumaria a deixar
de ter o conforto que já tem, mas é melhor do que deixar
de existir. Algo parecido aconteceu comigo.
Eu tinha um cargo público sólido e estável. Pedi
exoneração pq não queria ficar o resto de minha
vida fazendo aquilo; entediava-me. Para isso, revi meus valores e
tive que diminuir muito os gastos normais que mantinha, e que não
me fazem falta nenhuma. Tem gente que diz até hoje que eu sou
louca...
Acho que loucos são eles... Mas, pensem o que quiser...
Quanto a minha nova vida, não está uma maravilha...
Não tenho poder nem luxos... Tb não tenho gente falsa
a meu redor... Ainda falta algo, mas me sinto melhor hoje.
Não sei exatamente o que quero, mas já sei bem o que
não quero. Tenho tb como meta a simplicidade, mas preciso ainda
me nortear melhor.Um dia as pessoas concluíram que ter uma
quantidade maior de bens seria o ideal de vida. Acontece que para
mim não é. E concluir o melhor caminho a tomar, acontece
com a gente vivendo, não dá para planejar tudo, e eu
não quero ficar ansiosa para descrobrir nada. Preciso ir lentamente...
O problema é que os outros estão sempre nos cobrando!
O que eu procuro fazer é anulá-los, pq sei que eu sei
o que me faz feliz, ou pelo menos o que não me faz.
Experimente fazer o mesmo...
Saudações
Ivana
Mensagens dos Leitores #8
A quem assinou este artigo.
Interessantíssimo.
Foi a frase que começou o texto que me fez continuar a lê-lo.
E quanto mais eu lia, mais a curiosidade de saber o desfecho aumentava
e também a vontade de dissuadí-lo da idéia do
suicídio, não por desprezo a ela, mas pelo fato de ainda
ser um mistério, o suicídio, o outro lado, se ele existe.
Simplesmente deixar de existir, pra mim é uma ideia assustadora.
Sinto,
Bampar
Mensagens dos Leitores #10
É de lamentável mau-gosto e de grande irresponsabilidade
o texto do sr. Paulo Polzonoff Jr do dia 14/04. Tenho pessoas muito
queridas que sofrem de depressão profunda e que ao lerem um
texto com este tipo de conteúdo se sentiriam demovidas da luta
diária que travam na manutenção de suas próprias
vidas.
Espero
que o sr. Paulo Polzonoff Jr encontre a ajuda que precisa sem incentivar
o suicídio coletivo.
Agora
serei obrigado, após um longo dia de trabalho e de reflexões
particulares (sim, nós leitores também as temos), a
ler esse tipo deprimente de relato? Espero que não mais.
Armando Lisboa
Julio
Daio Borges responde:
Prezado
Armando Lisboa,
Faço questão de esclarecer minha decisão como
editor. A
Carta do Paulo Polzonoff nos chegou depois da Páscoa --- e
embora você a considere de "mau gosto" ou mesmo "brincalhona",
saiba que o referido colunista realmente sofre de depressão.
(Infelizmente,
não tenho como provar isso. Imaginei que os leitores
entenderiam tratar-se de uma confissão séria e grave.)
Eu
não tive como enviá-la aos leitores do Digestivo Cultural
senão do jeito que ela me chegou. Se eu a colocasse como mais
um "texto", entre os outros, aí sim, ela adquiriria
um caráter "ficcional" ou mesmo "opinativo".
Eu
quis também mostrar que o Digestivo Cultural é feito
por pessoas de carne e osso, que têm problemas e que sofrem.
Eu
lamento que a divulgação
dessa carta tenha te irritado tanto. Espero
que compreenda a minha posição e que não se chateie.
Um
abraco,
Julio
Daio Borges
Editor do Digestivo Cultural
Mensagens
dos Leitores #11
Paulo
Polzonoff Jr,
Envio-lhe o capitulo "Esfinge" de "A Hora dos Naufragos".
"A Hora..." e um texto inedito e propoe ao leitor uma sequencia
de relatos que dispensa enredo e acao. O cotidiano surge de puras
sensacoes; um anti-romance ironico e alucinado.
abracosempre,
Pedro Maciel
PS: Nunca
somos geniais quando morremos.
ESFINGE
Devo me apagar
com o sol logo pela manha, devo me matar nas primeiras horas do dia,
desencantar-me com a ultima estrela do ceu, voltar depois de fugir,
encontrar-me, procurar a morte no jardim de buritis, devo me apagar,
apagar-me com a luz ensanguecida de escuridao, devo me apagar, apagar,
buscar, achar, perder, nao encontrar mais, nao procurar mais a morte,
malditos fantasmas que me transluzem, iluminam trevas mas o rumor
da paisagem me afasta da morte, a morte e o rumor da paisagem, a morte
em mim danca em silencio, ajoelho no chao implorando por mais uma
vida mas a morte quer me abracar, quer alimentar-se atraves da minha
alma, saio em disparada, sangro horizontes, o que me salva e o meu
espirito amante da irrealidade, nao amo demais, nao amo, amo somente
o que me fortalece, so o olhar diz o que amo, por um olhar me entrego
a vida, a morte deve ser a vida anterior, e dai?, nao penso mais na
morte, nao penso mais, a morte quer apenas transformar o me espirito,
o vosso espirito, o dos outros, o espirito dos mortos e dos mortos
por nascer.