ENSAIOS
Segunda-feira,
21/4/2003
Ensaios
Ensaístas
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Uma febre chamada Baderna
>>> No Rio, Baderna encontrou seu público e faria tudo para agradá-lo. Aprendeu a dançar o lundu e o batuque, assistindo a exibições de escravos no Largo da Carioca. E tratou de levar os movimentos de baixo ventre ao palco imperial, para horror dos retrógrados, reunidos em torno de Paranhos, o folhetinista do "Jornal do Commercio". Baderna se tornava "estrela popular da juventude romântica", síntese da libido de uma geração alimentada no culto ao nativismo e à transgressão. Os jornais conjugavam o verbo "badernar" como dançar com elegância; tratavam seus fãs como "badernistas". Com suas umbigadas, Baderna insuflava torneios violentos, no fim dos quais era carregada em triunfo pelas ruas. "Poetas malditos do romantismo tropical" fumavam charutos de Havana e se regalavam com a nudez entrevista sob a malha da sílfide.
por Luís Antônio Giron
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O poeta do pesadelo e do delírio
>>> Roberto Piva é um poeta dos anos malditos e desbundados. Segundo o poeta, "a minha vida & poesia tem sido uma permanente insurreição contra todas as Ordens. Sou uma sensibilidade antiautoritária atuante. Prisões, desemprego permanente, epifanias, estudo de línguas, LSD, cogumelos sagrados, embalos, jazz, rock, paixões, delírios & todos os boys." Talvez ele seja o único poeta brasileiro verdadeiramente surrealista. O surrealismo proclamou a prevalência absoluta do sonho, do instinto e do desejo. Investiu contra os padrões estabelecidos, desprezando a lógica e renegando a ordem moral e social. O processo de criação dos surrealistas baseava-se no inconsciente como meio mágico para inspirar a imaginação criadora.
por Pedro Maciel
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Por um outro Da Vinci
>>> Raros projetos de Da Vinci foram terminados. Os escultóricos nunca foram completados. O molde gigantesco de argila a celebrar seu patrono restou uma montanha disforme. O mural comemorativo da vitória florentina se tornou uma ruína e acabou pintado por cima. Quase nada resta da sua Última Ceia. Suas máquinas são belas no papel, mas não funcionam na prática. Os engenhos aéreos, assemelhados a helicópteros, jamais alçaram vôo. Pode-se dizer o mesmo do tanque de guerra, que deveria ser uma máquina mortífera e, ao que parece, não machucaria uma criança. A maldição perseguiu Leonardo durante toda a vida.
por Alberto Beuttenmüller
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Os fantasmas de Norman Mailer
>>> Norman Mailer resolveu festejar a chegada aos 80 anos de idade com livro novo, mas como não tinha um, resumiu suas grandes façanhas literárias do passado em 320 páginas e as dedicou a escritores debutantes. "The Spooky Art: Some Thoughts About Writing" (Random House, US$25.95), seu 32º livro, é uma obra típica de Mailer - arrogante, empolada, e, acima de tudo, provocante. Dá vontade de largar tudo e sair compondo livros. Dá impressão que se pode vir a ser Norman Mailer, basta passar pelas experiências dramáticas que o curtiram, pelos altos e baixos da vida de escritor profissional, incluindo o medo de fracassar, as paixões fulminantes e fugazes, o desafio, a política, e as bebedeiras.
por Sonia Nolasco
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Hussein não virou vilão da noite para o dia
>>> O conflito no Golfo derrubou pelo menos um mito: a Guerra Fria não acabou. Na melhor (ou pior) das hipóteses, mudará de nome. O sinal mais evidente de que a Guerra Fria não foi removida junto com Muro de Berlim é a sobrevivência da principal regra de conduta diplomática, segundo a qual os inimigos dos nossos inimigos são nossos amigos automáticos. Foi sempre por ela que os EUA nortearam sua política externa. O que explica as espúrias, e invariavelmente nefastas, relações de Washington com gente da laia de Chiang Kai-Shek, Diem, Somoza, Rezah Pahlevi, Strossner, Pinochet, Ferdinando Marcos, Noriega. E Saddam Hussein.
por Sérgio Augusto
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Segundo encontro com Borges
>>> O apartamento do Bruxo era escuro e parecia antigo, vetusto mesmo. Os móveis eram sombras, não pareciam ter densidade. Borges estava sentado no seu escritório particular, numa poltrona de veludo de cor escura. Começamos a falar de sua passagem pela Biblioteca Nacional Argentina, quando se tornou um devorador de livros. Depois, falamos de sua experiência como mestre; primeiro, na Universidade de Buenos Aires, onde lecionou literatura de Língua Inglesa; depois, como mestre de poesia em Harvard. Foi quando tive vontade de perguntar-lhe o que ele achava de alguns dos livros pontuais da história literária.
por Alberto Beuttenmüller
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Nadja, o romance onírico surreal
>>> O movimento surrealista é herdeiro da revolução socialista de Marx e da rebelião romântica de Rimbaud. O poeta tinha a missão de unir em um só ato, a poesia, o amor e a revolta. John Donne diz que, "antes muerto que mudado". André Breton (1896-1966), ideólogo do surrealismo, não mudou de opinião ― cultivou ao longo da vida um mesmo sistema de idéias. A paixão e a magia eram fundamentais para a sobrevivência dos mitos e utopias. Toda a obra de Breton retoma o imaginário de metáforas da própria criação e da "recuperação do ser humano em sua totalidade". O poeta destaca três caminhos para o homem alcançar a harmonia: o amor, a poesia e a liberdade.
por Pedro Maciel
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Uma página expulsa do internato
>>> Raul Pompéia cortou "O Ateneu" pela cabeça. O escritor fluminense fixou o início da versão definitiva de seu romance em um parágrafo mais abaixo, à altura da vigésima terceira linha do projetado texto de abertura. Refugou tudo o que veio antes, o "incipit" do livro, por algum motivo secreto. As 22 linhas em questão que fazem parte da folha ficaram trancafiadas por cerca de 40 anos num cofre da Divisão de Manuscritos no terceiro andar da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, sem possibilidade de consulta. De acordo com funcionários da seção, somente em 1995 o documento foi liberado ao público.
por Luís Antônio Giron
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Leonardo da Vinci: variações sobre um tema enigmático
>>> Da Vinci sempre foi um enigma. Apesar de ser um dos artistas mais bem documentados dos tempos pré-modernos, permanece um mistério. Além de exímio desenhista e pintor, foi inventor (helicóptero, tesoura, submarino, tanque blindado de guerra; e idealizou a primeira lente de contato), cientista, escritor, pensador, arquiteto, escultor, e professor. Chamá-lo de protótipo do "Homem da Renascença", ou de gênio, não explica sua autoridade em tantos e variados temas. Muitos outros artistas tiveram o dom de pintar ou desenhar divinamente. Mas nenhum provoca tamanha curiosidade nas cabeças pensantes do nosso tempo.
por Sonia Nolasco
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Um harmonizador por força da intuição
>>> Dorival Caymmi é pintor. De tanto elaborar paisagens e retratos da sua Bahia natal nas horas de ócio, chegou a pensar em virar um profissional das tintas, assim como havia se tornado um artífice dos sons. Só que existe na sua obra um abismo entre um código e outro, a paleta de tintas e a quadratura do violão ferido com dedos nus. Sua música lhe forneceu todos os elementos para pintar, ficando à pintura propriamente dita um mero recurso da inspiração. Caymmi pode ter se inspirado em determinada personagem ou fenômeno natural. Mas sua pintura se traduz especificamente em notas, escolhidas com cuidado e intuição para mimetizar os fatos e as formas do universo.
por Luís Antônio Giron
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Julio Daio Borges
Editor
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