O legado de Graciliano Ramos | Ronaldo Correia de Brito

busca | avançada
66948 visitas/dia
2,5 milhões/mês
Mais Recentes
>>> EBS e Compactor Store promovem oficina de customização de shapes de skate no Shopping Vila Olímpia
>>> Ribeirão Preto recebe o BRAVI.LAB: um encontro de oportunidades no audiovisual
>>> Videocast apresentado por Carol Barcellos e Maria Clara Salgado, estreia dia 8 de abril
>>> Casa do Saber promove evento gratuito para discutir cultura de ódio entre jovens, redes socais e lim
>>> Instituto Neoenergia lança chamadade editais para apoiar projetos sociais
* clique para encaminhar
Mais Recentes
>>> A vida, a morte e a burocracia
>>> O nome da Roza
>>> Dinamite Pura, vinil de Bernardo Pellegrini
>>> Do lumpemproletariado ao jet set almofadinha...
>>> A Espada da Justiça, de Kleiton Ferreira
>>> Left Lovers, de Pedro Castilho: poesia-melancolia
>>> Por que não perguntei antes ao CatPt?
>>> Marcelo Mirisola e o açougue virtual do Tinder
>>> A pulsão Oblómov
>>> O Big Brother e a legião de Trumans
Colunistas
Últimos Posts
>>> Scott Galloway sobre as tarifas (2025)
>>> All-In sobre as tarifas
>>> Paul Krugman on tariffs (2025)
>>> Piano Day (2025)
>>> Martin Escobari no Market Makers (2025)
>>> Val (2021)
>>> O MCP da Anthropic
>>> Lygia Maria sobre a liberdade de expressão (2025)
>>> Brasil atualmente é espécie de experimento social
>>> Filha de Elon Musk vem a público (2025)
Últimos Posts
>>> O Drama
>>> Encontro em Ipanema (e outras histórias)
>>> Jurado número 2, quando a incerteza é a lei
>>> Nosferatu, a sombra que não esconde mais
>>> Teatro: Jacó Timbau no Redemunho da Terra
>>> Teatro: O Pequeno Senhor do Tempo, em Campinas
>>> PoloAC lança campanha da Visibilidade Trans
>>> O Poeta do Cordel: comédia chega a Campinas
>>> Estágios da Solidão estreia em Campinas
>>> Transforme histórias em experiências lucrativas
Blogueiros
Mais Recentes
>>> Uma questão de ética editorial
>>> Link para todo o resto
>>> Tudo o que os homens não entendem, Dr. Herb Golberg
>>> Quinteto em forma de choros
>>> Fragilidade, teu nome é ser humano!
>>> A Grande Ilusão, com Sean Penn
>>> A derrota do Brasil e as arbitragens na Copa
>>> O enigma de Lindonéia
>>> Apocalípticos, disléxicos e desarticulados
>>> Raízes da corrupção
Mais Recentes
>>> Celeiro: Culinária de Maria Herz pela Senac Rj (2008)
>>> Receitas Especiais Sem Glúten, Sem Trigo Ou Sem Laticínios de Grace Cheetham pela Publifolha (2009)
>>> O Mágico Da Matemática de Oscar Guelli pela Ática (2002)
>>> Cadernos da Unb D. Quixote Um apólogo da alma ocidental de San Tiago Dantas pela Unb (1979)
>>> Cadernos da Unb Mitologia de Professor Eudoro de Souza pela Unb (1980)
>>> Melatonina a fonte da juventude de Steven J. Bock , MD pela Campus (1996)
>>> Ísis sem véu Volume 1 de H.P. Blavatsky pela Pensamento (1990)
>>> Harpas eternas Volume 1 de Josefa Rosalia Luque Alvarez pela Pensamento (1993)
>>> Pivetim (lacrado na embalagem plastica) de Delcio Teobaldo pela Sm
>>> A odisseia de Menelaos Stephanides pela Odysseus (2001)
>>> A doutrina secreta Volume 1 Cosmogênese de H. P. Blavatsky pela Pensamento (1989)
>>> Im Glauben erwachen werden de Dieter Funke pela Pfeiffer (1990)
>>> Um Natal Bem Diferente (2º edição - 14º impressão) de Julieta De Godoy Ladeira pela Moderna (2007)
>>> O processo iniciático no Antigo Egito de Max Guilmot pela Amorc (1981)
>>> Weltmacht Vatikan de Ludwig Ring-eifel pela Knaur (2006)
>>> Zärtlichkeit und Trost: Leidensfähigkeit - Liebesfähigkeit de Peter Paul Kaspar pela Herder (1983)
>>> Meditações Para Curar Sua Vida de Louise L. Hay pela Best Seller (2009)
>>> Iptu. Política Urbana E Aspectos Constitucionais de Keziah Alessandra Vianna Silva Pinto pela Alínea (2012)
>>> Pastoral da Terra - posse e conflitos de Estudos da cnbb pela Edições Paulinas (1976)
>>> Contos de Hemingway de Hemingway pela Civilização Brasileira (1979)
>>> Pequena História das grandes religiões de Félicien Challaye pela Ibrasa (1967)
>>> Introdução a Analise Econômica de Paul A. Samuelson pela Agir (1963)
>>> O dia em que os Deuses Chegaram de Erich Von Däniken pela Círculo/Melhoramentos (1985)
>>> A Era Dos Direitos de Norberto Bobbio pela Elsevier (2004)
>>> Criação de coelhos de Helcio Vaz de mello; José Francisco da Silva pela Aprenda fácil (2003)
ENSAIOS

Segunda-feira, 19/10/2009
O legado de Graciliano Ramos
Ronaldo Correia de Brito
+ de 7200 Acessos

Em 1948, dez anos após a publicação de Vidas Secas, Homero Sena perguntou a Graciliano Ramos, numa entrevista:

― Acredita na permanência de sua obra?

E ele, um pessimista que reagiu ao convencionalismo da linguagem e sempre brigou com as palavras, convencido de que essa era uma briga essencial, de vida ou morte, respondeu amargo e com sinceridade:

― Não vale nada; a rigor até já desapareceu...

***

Nos setenta anos de publicação de Vidas Secas, o mais sereno e otimista dos romances de Graciliano, escrito sob o signo do silêncio como se tudo nele estivesse apenas velado, é possível reconhecer a permanência dessa cartilha de concisão. Permanência atestada não apenas na escritura do livro, mas nos autores brasileiros que surgiram posteriormente a ele e que se beneficiaram dos seus experimentos, pois Graciliano era um experimentador. Cada uma de suas obras é um tipo diferente de romance, como chamou atenção Aurélio Buarque de Holanda. Todas num estilo próprio, a linguagem trabalhada até a última possibilidade de apuro, mas sem ser literária num modo antigo, luso-brasileiro. Graciliano reagiu à impostura do convencionalismo da linguagem, tornou-se romancista da modernidade brasileira, por mais que tentem vinculá-lo ao naturalismo. Moderno, mas não "modernista", na conotação que ganhou o termo com os modernistas de São Paulo e do Rio de Janeiro.

Quando Vidas Secas foi publicado, em 1938, a técnica do escritor chegara ao máximo de pessoal, em quatro romances diferentes nos temas e na construção, mas que mantinham o mesmo estilo, "a mesma atitude filosófica perante o Homem, matéria prima da ficção", como observou Wilson Martins. De romance para romance ― Caetés (1933), São Bernardo (1934), Angústia (1938) ― Graciliano se desfaz gradualmente da carga de subjetivismo e angústia que o caracterizam, até que em Vidas Secas, que mais parece um livro de crônicas ou contos, alcança um alto grau de serenidade no estudo psicológico dos personagens: de Fabiano, de Sinhá Vitória, dos meninos, de Baleia e do soldado amarelo.

A paisagem sertaneja, quando descrita, é apenas para realçá-los. Ela só agrava o pessimismo do autor em relação ao mundo; acentua o silêncio das pessoas, que desaprenderam os modos de falar, único jeito de se livrarem de suas memórias. Os entraves de Fabiano, questionando a necessidade da fala, recriminando-se quando comete excessos, nada mais são que os questionamentos de Graciliano em torno da própria escrita, obcecado pela depuração, convencido de que o escritor luta menos com ideias do que com palavras. E que apenas por meio delas pode livrar-se do sofrimento da memória, mergulhando no esquecimento ao escrever.

***

Assumidamente avesso aos resultados da Semana de 22, Graciliano achava que os modernistas brasileiros confundiam o ambiente literário do país com a Academia e traçavam linhas divisórias, mas arbitrárias, entre o bom e o mau, querendo destruir tudo o que ficara para trás, condenando por ignorância ou safadeza muita coisa que merecia ser salva. Com a desconcertante franqueza de sempre, respondeu quando lhe perguntaram se era um "modernista": "Enquanto os rapazes de 22 promoviam seu movimentozinho, achava-me em Palmeira dos Índios, em pleno sertão alagoano, vendendo chita no balcão". Se o regionalismo criado por Gilberto Freyre em reação aos "modernistas" ajudou a polemizar a cena literária brasileira, também acentuou uma linha divisória que nunca se desfez, separando o Brasil em Nordeste e Sudeste.

Há quem se apegue ao uso que Graciliano faz de uma meia dúzia de vocábulos próprios do Nordeste ― que não poderiam ser outros, pois falsificariam Vidas Secas, para datar o romance ou classificá-lo como regionalista, num sentido que diminui sua grandeza. Desde o manifesto escrito por Gilberto Freyre, em que chama os modernistas de inimigos de toda espécie de tradicionalismo e de toda forma de regionalismo, confundem o movimento literário deflagrado por Freyre com regionalismo geográfico. Passaram a ser regionalistas, até os dias de hoje, os que escrevem fora da latitude sudeste, principalmente nordestinos, desde que refiram a linguagem e os cenários em que vivem. Uma danosa herança. Mesmo morando no Rio de Janeiro, a partir de 1937, Graciliano continuou emocionalmente vinculado à sua origem. Preferia o interior à cidade grande, e o contato íntimo com a terra e o povo. Reconhecia vir daí a força de escritores como Rachel de Queiroz, José Lins do Rego e Jorge Amado.

Sendo um dos escritores modernos que melhor manejaram o nosso idioma, convencido de que não há talento que resista à ignorância da língua, deixou o exemplo de luta e querência pela palavra, a escrita como um difícil exercício de construção em meio ao silêncio. Preocupou-se com o estilo, mas não inventou um idioma, como Guimarães Rosa. Sem forçar comparações, pois acredito que os movimentos literários surgem como sintonias de um tempo em vários espaços do mundo, por afinidades estéticas, filosóficas e outras afinidades, reconheço nas obras de Graciliano e do francês Albert Camus um traçado que os aproxima. Essa analogia surpreendente ou evidente foi registrada por Lourival Holanda no seu livro Sob o signo do silêncio. Ele escreve: "Não cabe inquirir influências: o contato de Camus com o Brasil foi mínimo e tardio; Graciliano é já maduro quando conhece Camus". No entanto, ambos captam as ondas de seu tempo, escrevem obras em que reverbera o social, e antecipam mudanças no espírito literário.

Qual o legado de Vidas Secas para a literatura brasileira, nesses 70 anos? São muitas as respostas. Tornou-se quase estereótipo referir a exatidão, as frases curtas e limpas de excessos humanos, o ritmo dado às frases, a escolha certa das palavras, a eliminação de tudo o que não é essencial. Porém, o maior legado de Vidas Secas é o de uma escrita em que é possível reconhecer a linguagem no processo de tornar-se literatura.

Nota do Editor
Texto gentilmente cedido pelo autor. Originalmente publicado no Terra Magazine, em junho de 2009.

Para ir além






Ronaldo Correia de Brito
Recife, 19/10/2009
Mais Ronaldo Correia de Brito
Mais Acessados de Ronaldo Correia de Brito
01. Artistas não são pirados - 23/10/2006
02. Onde botar os livros? - 28/6/2010
03. O legado de Graciliano Ramos - 19/10/2009
04. Para onde estão me levando? - 3/1/2011
05. Entre o jornalismo e a academia - 21/12/2009


* esta seção é livre, não refletindo necessariamente a opinião do site

Digestivo Cultural
Histórico
Quem faz

Conteúdo
Quer publicar no site?
Quer sugerir uma pauta?

Comercial
Quer anunciar no site?
Quer vender pelo site?

Newsletter | Disparo
* Twitter e Facebook
LIVROS




Completando as Aflições de Cristo
John Piper
Shedd
(2010)



Viagem ao Reino das Sombras
Luiz Galdino
Ftd
(1999)



Ano 46 Nº 2 Annales Économies Societés Civilisations
Charles Morazé Direção Foto Original
Armand Colin
(1991)



A Praça É Do Povo Política E Cidadania
Various
Moderna Paradidático
(2001)



Velho da Horta Auto da Barca do Inferno Farsa de Inês Pereira
Vicente Gil Spina Segismundo
Ateliê Editorial
(2003)



O Sucesso É Ser Feliz
Roberto Shinyashiki
Gente
(1997)



Livro O Abolicionismo Coleção Grandes Nomes do Pensamento Brasileiro Volume 2
Joaquim Nabuco
Nova Fronteira
(2024)



A Ilustre Casa de Ramires-coleção Prestígio
Eça de Queiroz
Ediouro
(1996)



O Burrinho Sete de Ouros
Flávio de Mendonça Campos
Scrittore
(2018)



Atendimento psicológico às dependências químicas
José Waldemar Thiesen Turna
Zagodoni
(2012)





busca | avançada
66948 visitas/dia
2,5 milhões/mês