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Segunda-feira, 5/3/2007 Esse tal de blog Gabriela Simionato Klein Esta não é a primeira vez que paro para escrever e organizar pensamentos e emoções sobre blogs. Já discorri sobre esta paixão e ainda sinto necessidade de explorar o tema, visto a quantidade de idéias levantadas a cada passeio pela Net. Blog não é coisa recente, mas o uso intensivo da Internet, garantido pelo acesso à banda larga é, e com isto o uso massivo da ferramenta e as experiências e mutações pelo qual o mundo dos blogs passa (a exemplo do mundo real no qual ele se inspira) dá o que falar. É tema de várias dissertações de mestrado e de teses de doutorado. Perfeito sinalizador do espírito de nosso tempo. É também vício de muita gente. Este tal de bom blog existe? Talvez o atrativo exista pela liberdade e facilidade de manejo que a ferramenta oferece, abrindo espaço a todos para a conquista de muito mais que 15 minutos de fama. E como é novo o suficiente para não ter estabelecido um conjunto de regras de uso, parece instigar nas pessoas o desejo de um roteiro ou guia de conduta para a blogosfera. O que as pessoas esquecem é que este mundo novo não tem manual, a graça dele é a ausência de regras, o território livre a ser explorado. Toda esta situação em que as pessoas não sabem onde está o chão me faz lembrar dos primeiros sites noticiosos e as tentativas e erros dos jornalistas, com prática geralmente na mídia impressa (embora alguns egressos de TV e Rádio), “fazendo” os primeiros sites na base do “achômetro”. O conceito de furo jornalístico foi o primeiro a ser revisto, devido à propagação da notícia na velocidade de um clique. A regra era sair mais cedo da entrevista coletiva e nem pensar muito a notícia, pois o que importava era sair minutos antes da concorrência e firmar o nome da nova mídia. Notas curtas satisfaziam esta necessidade. Atualmente é possível ver que o jornalismo, apesar de atrasado no quesito internet, já tem várias faces na Rede, das “últimas notícias” a ensaios, passando por tutoriais, vídeos, podcasts. A existência do Digestivo é prova desta evolução, assim como mídias especializadas similares, que analisam temas específicos de uma posição bem pessoal, embasada muitas vezes numa experiência em relação aos temas que o jornalismo comum não possui. O mesmo aconteceu com os blogs, mas de uma maneira mais rápida, como convém a uma mídia independente, cuja apresentação fica sob controle de seu dono e que se espalha como vírus. Vale tudo. Dos textos profundos, que exigem tempo para ser saboreados e até releituras, como os do blog do Fabrício Carpinejar, ao jogo rápido das notas simplesmente informativas. O blog pode ser também uma grande brincadeira, como o diário de infância de uma escritora agora resgatado dia a dia em Diário da Odalisca. Se a idéia é ser sonoro, por quê não? E se o dono quiser se expressar por quadrinhos? Sim, pode, assim como postar receitas. Aliás, deste tipo de blog temático tem aos montes e não os recomendo em momentos de fome. E todo o blog, oferecendo o que for, terá seus leitores, afinal diversas são as preferências humanas e o blog tem esta finalidade também, presentear a singularidade. É claro que se a preocupação é ser popular ou ganhar dinheiro com anúncios, a estratégia será outra, mais ligada aos temas da vez do que a uma necessidade específica de expressão. Mas até em relação a isto há limites, como fala o “problogger” Cardoso em seu Contraditorium, que ainda dá no mesmo espaço dicas de como ter um blog básico, tipo diário mesmo. Papo de 2007 Tudo isto parece mesmo ser uma demanda do nosso tempo. Numa época em que as pessoas fazem um milhão de coisas ao mesmo tempo, que a aceleração é tamanha que sequer acompanhamos todas as novidades (e sim, deixamos para trás milhares de questões mal-resolvidas), que a pluralidade de idéias é tão grande quanto a necessidade de massificação da economia, não é à toa que as ferramentas de comunicação do momento sejam instigadoras, rápidas, maleáveis, libertárias, libertinas. Isto é claro, dependendo de quem as empunha. Conheço jornalista especializada em termos áridos, aproveitando o viés da gastronomia para falar da vida. Criativo e gostoso de ler, além de bem informativo se você vive pelas bandas que ela visita. Outra, também especializada em tecnologia e negócios, fala de cultura em seu blog, mas não como uma jornalista e sim de seu ponto de vista particular, como a pessoa que é, coincidentemente uma jornalista. É, via blog vejo a vida mais verdadeira, tenho acesso à informação filtrada por uma história de vida, sem falsa pretensão de imparcialidade. Eu particularmente adoro isto, assim como a possibilidade de conexões que o texto na internet apresenta. Esta forma de publicar acarreta uma mudança na forma de pensar, que passa a existir menos numa relação de causa e efeito, num eixo único, e opera dentro das multidimensões do pensamento sistêmico. Escrevo e linko, conecto, incluo, amplio. Convido para o meu mundo, ao mesmo tempo em que deixo o leitor alterar o meu. O criador produz e joga na Rede, perdendo o controle da criatura, deixando que ela se torne algo maior que as suas limitações pessoais. Um pensamento relacionado a outro, que por sua vez se liga a outro e se transforma em surpreendentes significados através dos comentários, da participação expressa do leitor. E este pode estar aqui na esquina ou até em outro país, vivendo todos na verdadeira aldeia global, tão necessária para este mundo de hoje. Afinal, estamos todos linkados, não estamos? Nota do Editor Gabriela Simionato Klein é jornalista, radicada nos Estados Unidos, e também escreve no blog Debaixo da Minha Pele. Gabriela Simionato Klein |
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