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Segunda-feira, 18/6/2007
Brincando de ignorar a internet
Gabriela Simionato Klein


Ignored Intamacies, Ron Patterson

No início do mês o texto do Julio intitulado “Publicar em papel? Pra quê?” gerou comentários apaixonados e reacendeu em mim uma questão que vi na minha vida profissional afora (e sem nenhuma conexão com o mundo dos livros).

Sou jornalista há mais de uma década e atuei de vários lados do balcão, como se costuma dizer na área. Fui de repórter, em redação de jornal, a assessora de imprensa trabalhando em agências de comunicação. Produzi e editei conteúdo para Web e ainda participei de equipes de comunicação dentro de empresas. Vi a bolha nascer, crescer e estourar. Fui da turma que precedeu as equipes de Internet, saindo para cobrir eventos para o jornal e voltando rapidinho para dar uma nota para o site. Participei de reuniões em que se investigava como investir em propaganda na rede e como tratar o meio como um canal efetivo de comunicação com o mercado, clientes, parceiros...

Neste mundo de erros e acertos, alguns aprenderam mais que outros. E é notório o caso de comunicadores que não sabem lidar com as possibilidades da rede. Uma crítica muito adequada aos blogs de jornalistas já foi feita aqui e não é a única e nem será a última.

Mas sabe o que é comum à redação, ao mercado corporativo, agência de comunicação e mesmo entre as pessoas comuns, como a minha mãe, que adora fazer cadernos de recortes com as minhas matérias? O preconceito com a rede e seu potencial. Só escapam mesmo os profissionais que “respiram” Internet. A coisa toda já começa com a minha mãe, que prefere sim ter em mãos uma revista ou jornal a algo que não se pode tocar e, quando impresso, “fica horrível”. Nas empresas, mesmo as de Internet (tenho exemplos!), executivos analisam a imagem na imprensa e minimizam a importância do que sai nos sites noticiosos. Nos blogs então, nem pensar. Lembro-me de um cliente que pedia para retirar do relatório mensal de recortes de notícias a respeito da empresa todo o material que tivesse saído na rede. Este ele preferia nem ver contabilizado ou analisado. O ano? 2006!

Claro que nem toda liderança empresarial pensa assim. Fiquei surpresa, inclusive, ao saber que até estratégias de comunicação especialmente para blogueiros têm sido estruturadas e implementadas. Mas não é o comportamento comum, como reclamam colegas blogueiros e jornalistas com freqüência assustadora. Clientes preconceituosos (sim, por que muitas vezes a Internet é o melhor veículo para fazer uma mensagem chegar até os seus públicos-alvos) moldam as estratégias de comunicação, fazendo com que assessores invistam menos no meio e que os jornalistas da área fiquem sem contar com o apoio de que necessitam. Veja relatos de profissionais sobre o assunto aqui.

Venda de publicidade na área é outra questão sensível. Poucos sacam que a Internet dá sim resultado, quando for o veículo adequado para a campanha e tendo seu funcionamento e perfil de público respeitados. É claro que existem os grandes alardes em volta de virais, participações de grandes marcas no Second Life e compra de agências interativas por gigantes do mercado. Mas o grosso do investimento em publicidade no Brasil ainda ocorre de maneira tradicional. Nada que se compare com o desempenho no mercado americano. Sobre isto, tem gente falando com propriedade aqui e, para quem quer se aprofundar, de novos métodos de mensuração de iniciativas na Web neste podcast.

Sim, a penetração da Internet no Brasil ainda é pequena. Mas o público é seleto. Facilmente identificável e atento. Para realização de pesquisas qualitativas, por exemplo, é um meio excepcional, que oferece baixo custo, facilidade de uso e resultados rápidos.

Então por que a Internet não é um fator importante para o executivo que ignora as notícias on-line, para o outro que desfaz da força dos blogueiros em certos nichos que eles fazem a diferença? Percebam, falo de empresas que precisam dialogar com um público que já está na rede. Não discuto aqui a grande massa excluída.

São muito influenciados pela era do papel? Sim, mas vivem o “aqui e agora” em que toda uma nova geração é fruto da rede. Já existem pesquisas que mostram a relação dos consumidores de conteúdo com as novas tecnologias, novos serviços de acompanhamento das marcas na rede nascem, assim como pesquisas para quem quer desenvolver produtos de comunicação adequados a audiências particulares na rede.

Enfim, toda uma movimentação feita hoje para quem está atento e procurando se adequar ao que o mercado exige.

O que impede, então, a aceitação? São todos péssimos administradores que não percebem como a mudança é inevitável? Acho improvável. É difícil a adaptação a um mundo jovem e de velocidade impensável anos atrás? Sim, mas não impossível. Muita gente comum e mais velha, ainda com receio da net, quando devidamente motivada, se aventura e muitas vezes passa a valorizar as facilidades conquistadas, como a redução no custo de contas telefônicas pelo uso do Skype.

O que é então? Arrisco um palpite: medo. Pânico deste ambiente aberto que não é uma via de comunicação de mão única e sim um espaço de conversações; horror desta área que tem múltiplos produtores de conteúdo e permite a replicação de temas, a proliferação de memes, os desdobramentos de conteúdo. Pavor do aspecto subversivo que a Internet tem e que surpreendeu a todos, como filho “bem-educado” que chega em casa um dia e faz valer as suas escolhas e mostra sua real personalidade. Nestes casos, melhor ignorar do que ter que lidar, decidem alguns. E já que estamos na Internet: O que você acha?

Gabriela Simionato Klein
Racine, 18/6/2007

 

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