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Segunda-feira, 9/7/2007
Global Cities, na Tate Modern
Paula Góes


The Big City, Kevin Fitzpatrick

Londres, São Paulo, Cidade do México, Xangai, Mumbai, Tóquio, Joanesburgo, Los Angeles, Cairo e Istambul. São dez cidades em pólos opostos do mundo, com históricos de desenvolvimento completamente diferentes, de identidade sócio-cultural das mais diversas, novas ou anciãs — mas com muito em comum.

São as chamadas "Global Cities" ou "Cidades Globais", frutos e vítimas dos efeitos das aceleradas transformações econômicas e sociais pós-industrialização. O termo que as une em uma só categoria foi cunhado em 1991, pela socióloga e economista holandesa Saskia Sassen, em alusão a Londres, Tóquio e New York no livro The Global City.

São metrópoles que não param de crescer e se desenvolver, ao mesmo tempo em que possuem semelhanças entre si e enfrentam problemas comuns: superpopulação, falta de moradia, de integração social, alto índice de pobreza, desemprego e violência. Elas possuem sistemas de transporte avançados e modernos, mas de certa forma inadequados ou ineficientes. Elas têm aeroportos de porte internacional e estão conectadas com o mundo — mas grande parte de seus habitantes não podem arcar com as despesas de andar de avião, ou visitar um outro país.

Cada vez mais, essas cidades atuam como imãs, atraindo pessoas pelos mais diversos motivos, entre cidadãos nativos do mesmo país e estrangeiros. Existem, hoje, 20 cidades com mais de 10 milhões de habitantes, e quase 450 outras regiões com mais de um milhão de pessoas. Juntos, esses centros abrigam mais de um milhão de pessoas, em um espaço relativamente pequeno.

Metade da população mundial hoje vive em centros urbanos. A perspectiva das Nações Unidas é de que, até 2050, esse número chegue a mais de 8 bilhões de pessoas. Ou seja, 75% da população mundial estará concentrada nas cidades. É um número assustador quando se leva em consideração que, há um século, apenas 10% da população ocupava centros urbanos. Hoje, um em cada três cidadãos no mundo já vive em favelas.

São Paulo e o mundo
A maior e mais desenvolvida cidade da América do Sul é a quinta no mundo em tamanho. São Paulo tem uma região metropolitana do tamanho de Los Angeles ou Xangai. Em se tratando de densidade, são 2.300 pessoas por quilômetro quadrado, metade da densidade de Londres.

Jovem, multicultural e diversa, cerca de 66% da sua população tem menos de 20 anos. A maioria de seus residentes tem uma origem étnica que mistura sangues português, japonês, espanhol e libanês. Em Londres, 27% dos residentes nasceram fora do Reino Unido.

Pobreza, desemprego e inequalidade social são os grandes desafios a serem vencidos pelo coração financeiro do país, que dobrou de tamanho nos últimos 45 anos e cresceu quase 10% só na última década. A velocidade com que São Paulo cresce chega à taxa de 25 habitantes por hora, igual à da Cidade do México e muito maior do que a de Londres (+6).

Seis milhões de carros circulam pelas avenidas paulistas e mil novos carros são registrados a cada dia. Apenas pouco menos da metade das jornadas diárias são feitas através de ônibus, enquanto um pouco a mais da metade são feitas de carros privados. Ao lado de Tóquio e Nova York, a frota particular de helicópteros de São Paulo chega a mais de mil veículos — sendo que não entram nesse cálculo os táxis aéreos que disputam os céus e heliportos paulistanos.

Global Cities
Essas são algumas das facetas apresentadas na exposição Global Cities, uma parceria da Bienal de Veneza e o museu de arte moderna de Londres, Tate Modern. Tomando a capital britânica como ponto de referência e de partida, a exposição traduz em arte dados geográficos e estatísticas socio-econômicas elaborados pela London School of Economics (LSE).

Trata-se de um verdadeiro raio-X desses pulsantes centros urbanos, onde resultados são exibidos em painéis, fotos, vídeos, filmes, instalações, imagens capturadas por satélites e maquetes, montados por artistas e arquitetos do mundo inteiro. Todos os participantes têm um link com esses centros e encontraram inspiração nos efeitos da arquitetura e urbanismo no mundo contemporâneo em que vivemos.

O trabalho tem como meta documentar os desafios enfrentados por dez das mais dinâmicas cidades do mundo. Migrações, mobilidade, integração social, impacto causado pela presença humana e o crescimento sustentável são alguns dos temas abordados através de cinco linhas temáticas: tamanho, densidade, forma, diversidade da população e velocidade de crescimento. A exposição tem como objetivo maior conscientizar os visitantes quanto aos problemas a serem enfrentados — tanto numa escala global quanto humana — e mostrar que é o formato dessas cidades determinará o futuro não só seus milhões de habitantes, mas também a sustentabilidade do planeta.

Para quem está em Londres, vale a pena conferir também os eventos paralelos. Dentre os pontos altos da exposição estão dois filmes fantásticos: London e Robinson in the Space, estilosos retratos do Reino Unido em película, parte documentário, parte ficção — ou quem sabe nem um nem outro. Os dois serão exibidos no dia 22 de julho (o primeiro às 13h e o segundo às 15h), seguidos de um debate com o diretor Patrick Keiller, um das vozes mais distintas do cinema britânico.

O Tate encerra a série de eventos paralelos com a exibição do filme Cosmópolis, um documentário que mostra São Paulo como uma cidade emergente no século XX, uma metrópole gulosa que cresce rapidamente e cospe as mais híbridas culturas. Rodado em 2005, filme de Camilo Tavares, Otavio Cury e Cói Belluzzo traça paralelos entre a história da cidade e os mundos privados de seus moradores. Será exibido no dia 12 de agosto, às 15h, no Tate Modern Starr Auditorium.

Para ir além
Global Cities fica em cartaz até 27 de agosto no Turbine Hall e tem entrada gratuita. Entre os artistas e arquitetos estão Nigel Coates, Rem Koolhaas, Fritz Haug, Nils Norman, Andreas Gursky, Atelier Bow Wow, Eva Koch e Maha Maamoun.

Nota do Editor
Leia também "As cidades e os carros".

Paula Góes
Londres, 9/7/2007

 

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