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Segunda-feira, 6/4/2009
As redes sociais como filtros
Raquel Recuero

Uma das funções que está cada vez mais aparente na apropriação dos sites de redes sociais é seu uso como filtro de informações. As redes sociais conectadas através da internet começam, cada vez mais, a funcionar como uma rede de informações, qualificada, que filtra, recomenda, discute e qualifica a informação que circula no ciberespaço.

A discussão sobre a função do gatekeeper remonta à década de 40 e 50, principalmente pelo trabalho de Kurt Lewin, que apresentou a proposta da associação do fluxo de informações em um dado sistema com a presença de determinados filtros (gatekeepers), que permitiriam ou impediriam a circulação de determinadas informações. No jornalismo, a idéia do gatekeeper é relacionada também com a comunicação de massa e o poder sobre a informação deixado a cargo da mídia, mas perde força. Com a complexificação e a ampliação das conexões entre os atores nas redes sociais, principalmente pela internet, que proporcionou um canal que está sempre aberto para o tráfego de informações, a discussão sobre o gatekeeping começou a beirar a superfície novamente.

Um dos primeiros motivos é o elemento complicador da internet como meio: a supervia de informações. A Rede proporciona uma imensa quantidade de informações disponíveis e acessíveis, que correm pelo ciberespaço. Como uma releitura da gigantesca biblioteca de Babel borgiana, é um universo de informações que se tornam invisíveis pela dificuldade de organização e hierarquização, pela dificuldade de encontrar o que é relevante. Quando tudo é acessível, pouco é relevante.

Neste universo, as redes sociais parecem organizar-se como filtros, no sentido de auxiliar na organização dessas informações. Como? As redes passam a eleger e atuar como gatekeepers. Através da seleção e da publicação de informações especializadas e localizadas, os atores sociais estão construindo relevância, a partir de valores sociais como reputação. Nichos de pessoas interessadas em determinados assuntos vão produzir informações relevantes, detalhadas e novas. Esses atores vão filtrar as informações do ciberespaço e publicá-las, para quem quiser ouvir/ler. Através da escolha de seus próprios gatekeepers, os demais atores vão construir uma leitura focada das informações que lhes são importantes. Essa leitura é assim, personalizada, através da escolha de suas próprias fontes informativas.

Vários exemplos dessas atuações já foram especificados pela literatura. Mas além do jornalismo cidadão ou participativo, construído pela ação dos atores sociais, o papel de gatekeeper a que me refiro parece ser ainda mais amplo. Quando um determinado ator social seleciona sua lista de leituras de feeds, por exemplo, está filtrando as informações a partir de outros filtros. E se as republicar em outras ferramentas, também será, ele mesmo, um filtro para os demais. O papel da rede social vai ainda mais longe: além de filtrar, ela qualifica, complementa, discute. Uma informação que é passada adiante no Twitter, por exemplo, raramente o é sem uma qualificação, um julgamento de valor ou observação daquele que a passa. O próprio "retweet" é um instrumento que qualifica uma informação, lida e considerada relevante pela rede. Mesmo um feed que é repartido com a rede social é valorizado. Trata-se, assim, de uma nova estrutura informacional, onde o trabalho de filtragem de informações é realizado pelos próprios atores para os próprios atores sociais. Cada informação pode ser trazida à luz, desconstruída, discutida, repassada e debatida por ação dessas redes em uma dimensão completamente nova e em escala quase planetária.

Um dos grandes questionamentos que permeia esta mudança é, justamente, seu impacto na mídia tradicional e no jornalismo. Não sabemos bem, ainda, como essas redes poderão atuar junto aos veículos informativos tradicionais. Mas sabemos que uma grande parte da informação que começa a ser veiculada e considerada relevante pelas redes sociais off-line está vindo dessa efervescência informacional dos espaços on-line e dos novos gatekeepers.

Nota do Editor
Texto gentilmente cedido pela autora. Originalmente publicado no site Jornalistas na Web. Raquel Recuero é doutora em Comunicação, professora e pesquisadora da Universidade Católica de Pelotas e do CNPq e consultora em mídias sociais. Mantém o blog Social Media.

Raquel Recuero
Pelotas, 6/4/2009

 

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