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Segunda-feira, 7/9/2009
Mulher-Gato by Lebre
Marcel Plasse

Megan Fox como Mulher-Gato? O que houve com Johnny Depp como o Charada? E quem lembra da seleção de Philip Seymour Hoffman para o papel de Pinguim?

Sabe o que aconteceu com esse elenco? O mesmo que fez Robin Williams ter que vir a público dizer que jamais pensou em viver a cantora/caloura Susan Boyle nos cinemas.

A internet é como um vírus, espalha suas informações de forma rápida e incontrolável. Junte esse potencial pandêmico com a cultura das celebridades, que trata fofocas como notícias, e o efeito é garantido: qualquer boato ganha tratamento de versão definitiva.

Cada vez mais, as pessoas têm usado a internet como sua principal fonte de informação. Mas são os sites da imprensa tradicional os mais acessados por quem procura notícias. A razão nem é tanto "a marca", como diriam os profissionais de marketing, mas a confiança na apuração de fatos por jornalistas acostumados ao trabalho de reportagem.

Um editor responsável prefere não publicar ou então atrasar um fechamento, mesmo que isso dê prejuízo financeiro, à alternativa de passar uma informação falsa, resultado de uma notícia sem apuração devida das fontes ou plantada por fontes não confiáveis.

Infelizmente, os sites e blogs são muitas vezes escritos por adolescentes, estagiários e diletantes sem formação em jornalismo, e se autoalimentam ― isto é, citam outros sites como origens de notícias, que na verdade nunca tiveram origem, pois nunca foram notícia. Como oposto exato do ideal jornalístico, na Web a prioridade é publicar primeiro, não publicar corretamente.

O sensacionalismo, claro, não é uma invenção dos blogs e o termo "imprensa amarela" (ou marrom, no Brasil) ainda se aplica a muita tinta gasta para colorir fofocas impressas como jornal. O perigo acontece quando se juntam a má imprensa e a rapidez nos teclados dos redatores da Web. Baixa autoestima, complexo de inferioridade diante da mídia impressa ou simples inexperiência têm rendido créditos e mais créditos na internet à informações vindas de jornais e revistas notoriamente conhecidos por ter inventado o método de apuração que os blogs copiaram: publicar antes, averiguar depois.

Duas horas antes do desmentido, as palavras Megan Fox e Catwoman davam 120 mil hits no Google em 26 de agosto. Em português, Megan Fox e Mulher-Gato somavam 33 mil hits. Boa parte desses links, quando não assumia a autoria do "furo", citava outro site ou aludia ao tablóide britânico The Sun como fonte original da notícia.

Se fosse uma experiência pavloviana, seria possível dizer que os ratinhos de laboratório agiram ao estímulo conforme o esperado.

Qualquer jornalista experiente veria que a informação do tablóide The Sun não tinha fonte alguma ― nem mesmo anônima. E o jornal foi ainda além, publicando que a atriz já teria, inclusive, assinado o contrato e as filmagens começariam no ano que vem.

Claro que não há nada assinado. Ainda não há roteiro, muito menos cronograma de filmagem ou preocupação com elenco. Ninguém sabe nem sequer qual será o vilão da continuação de Cavaleiro das Trevas. Ninguém, a não ser o tablóide The Sun.

Os executivos da Warner tiveram que vir a público confirmar o que, por sinal, "todo mundo" já sabia, inclusive quem publicou a "informação". As palavras do assessor de imprensa do estúdio: "É um boato. Não é verdade. Não há roteiro. Não existe um projeto para que se comece a escolher um elenco".

A desinformação é uma tática interessante. Fere a credibilidade de quem a transmite e planta ideias no inconsciente coletivo. Teve site que conclamou seus leitores a opinar sobre a escolha da atriz para o papel. Em poucos minutos, milhares de pessoas em todo o mundo passaram a pensar em Megan Fox como Mulher Gato. E será que a produção do filme também não pensou, depois disso?

Há uma expressão brasileira que resume bem o que ocorreu: "plantar verde para colher maduro". Não se sabe se quem "plantou" a notícia ganhou por isso, mas quem a retransmitiu trabalhou de graça para cumprir uma agenda desconhecida.

O que vimos foi uma experiência de propagação, que foi efetivamente levada a contento pelas cobaias, e cujo resultado reforça o estereótipo de que blogs e sites não são confiáveis.

O "gato por lebre" da Mulher-Gato é quase uma fábula com moral da história. Mas será que a teia da Web vai ficar menos emaranhada por conta disso? Difícil. Vícios e costumes não somem da noite para o dia. E, com a abolição da necessidade de diploma de jornalismo para se exercer a profissão, notícias falsas tendem a se tornar cada dia mais comuns.

Ontem era Robin Williams como Susan Boyle. Hoje é Megan Fox como Mulher-Gato. Amanhã será algo mais sério, um escândalo capaz de arruinar uma reputação.

A internet é como um bangue-bangue em que o tecladista de cada site quer sacar primeiro que o outro. Até o público se cansar desses duelos de mentirinha, em que ele próprio é a vítima das balas perdidas.

Nota do Editor
Texto gentilmente cedido pelo autor. Originalmente publicado no site Pipoca Moderna.

Marcel Plasse
São Paulo, 7/9/2009

 

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