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Quarta-feira, 1/8/2007 Pedro Doria Julio Daio Borges Cobrindo o Papa pelo Estadão Pedro Doria é uma das vozes mais importantes entre as surgidas na internet brasileira nos últimos anos. Sua atuação no Weblog de NO. e NoMínimo (de 2000 a 2007) ajudaram a moldar a blogosfera brasileira, dando-lhe mais consistência e rigor – e mostrando a força da ferramenta blog, pelo menos meia década antes do seu “descobrimento” pela grande imprensa no Brasil. Graças a seu trabalho em NoMínimo, ainda, Pedro tornou-se referência na cobertura dos conflitos do Oriente Médio (foi editor de Internacional de NO.), igualmente em matéria de tecnologia (aliás, lançou o primeiro “manual de internet” em português brasileiro) e fez sua reportagem mais conhecida (que, posteriormente, se converteu em fenômeno editorial): Bruna Surfistinha. Com o fim do NoMínimo, Pedro Doria pode ser lido hoje em seu blog, em sua coluna semanal no “Link” e em outras seções do Estadão, onde atualmente trabalha. Nesta Entrevista, Pedro aborda a grande discussão a respeito da sobrevivência da velha mídia na internet – e é taxativo: “Redações não vão acabar e blogs não substituirão o jornalismo”. Vaticina, ainda: “Quem apostar contra as redações, vai perder; quem apostar contra os grandes, vai perder também”. Sustenta que “as melhores escolas de jornalismo ainda são as redações” e que seus melhores professores, portanto, foram “os jornalistas mais velhos”. Reclama que, embora hoje sobre muita tecnologia nos veículos, faltem “cabeças brancas”. Sobre o NoMínimo, arrisca uma última profecia: “Se pudéssemos trabalhar de graça e não tivéssemos todos filhos para sustentar, o site seria fatalmente muito lucrativo daqui a dez anos e pagaria seus custos até lá”. Sobre a experiência do Weblog, diz que nunca pôde reclamar: “Sou hiper-reconhecido, bicho(...) e tenho bons leitores”. Critica, no Brasil, a “falta de uma cultura de discussão”, acha que para escrever na internet tem de se ter “crosta” e, não, “pele”, e completa que “todo jornalista é um pouco egocêntrico e um pouco masoquista”. Pedro Doria revela ainda como chegou à sua famosa Bruna: “Num determinado momento, quis escrever sobre sexo e queria um tipo de reportagem que não fosse nem picante, nem moralista”. Reconstitui a carreira de seu empreendimento na internet e no universo da sexualidade humana – o LAD, com Marcos Moura –, e fala um pouco ainda de seu novo livro sobre o mesmo assunto, Eu gosto de uma coisa errada, pela Ediouro. Recapitula sua vivência nos EUA – no final dos anos 80, início dos 90 –, quando descobriu a internet, rememora sua breve passagem pelo curso de engenharia da UFRJ e termina com conselhos para os jovens jornalistas. Pedro repete que “repórter sem sorte morre pagão”; sua modéstia, naturalmente, o impede de enxergar que houve bem mais que sorte nas suas realizações... – JDB 1. Pedro, para começar, a pergunta que não quer calar: sobre o NoMínimo. O que houve? Pessoalmente, achei que houve primeiro uma falta de informação – sobre o porquê do fim do site –, aí a blogosfera começou a especular... As grandes perguntas ainda são: sobre as razões do término – a divulgada falta de “patrocínio” (ou de “interesse”) –, foram as mesmas do fim do NO., em 2002? Se sim, por que o NoMínimo caiu na mesma armadilha de seu antecessor? Se não, vai haver novo “enxugamento” e vem aí, então, o alardeado NoMicro? Outra justificativa dada referia-se aos altos custos de infra-estrutura... Eu imagino que a audiência do NoMínimo implicasse num custo alto de hospedagem (que o portal, hospedeiro, não queria mais pagar); e eu imagino que ter uma redação – e que redação(!), com todos aqueles medalhões... – custasse caro demais para um site. Estou certo nessas assunções? O NoMicro, por ter uma estrutura mais assemelhada à de um portal de blogs – e, portanto, mais “colaborativa” –, resolveria, finalmente, a equação que inviabilizou o NoMínimo e até o NO.? Julio, tem aquilo que posso falar e aquilo que não posso. Então minha resposta virá pela metade. Estamos vivendo um período raro de mudanças violentas na tecnologia de comunicação. Imprensa é apenas um dos braços desta coisa, comunicação, junto com arte, com entretenimento, propaganda etc. A Internet fez com que muitos, conhecendo um pouquinho de Rede, saíssem condenando a imprensa à morte. Estes recitam a meia dúzia de slogans que lhes conforta – “AdSense sustentará quem for competente” é um deles – mas trata-se de slogans datados. Ano que vem o slogan será outro. Não percebem o que é efêmero e o que continuará. Algo tipo AdSense existirá por muito tempo. Mas não será jamais a única, tampouco a maior, fonte de renda de um site profissional. Primeiro, à parte menos relevante. O NO. pertencia a três sócios: o Garantia Participações, o Grupo La Fonte e o CVC. São grupos grandes, tinham vários negócios em comum, incluindo-se aí empresas de telecomunicação. Em um determinado momento, se desentenderam a respeito de o que esperavam da NO. e o negócio se desfez. Triste para quem estava vivendo um processo bastante criativo de experiência com o novo meio, por certo, mas é do jogo. A Brasil Telecom (BT) tinha um portal, o iBest, para o qual queria conteúdo. Um grupo de jornalistas que pertenceu à NO. juntou-se para criar um site – o NoMínimo – que tinha como cliente a BT. Com o passar do tempo, a BT comprou o iG e renovou o contrato com o NoMínimo. Quando estava para expirar o último contrato, o iG comunicou – sempre tudo corretamente do ponto de vista legal – que não tinha mais interesse em continuar o negócio. O problema do NoMínimo não era ser muito caro. O iG tem muitas contas a pagar, inclua-se aí alguns blogs bastante caros. É o posicionamento editorial e legítimo do portal que estava em jogo. Nós não correspondíamos ao que eles esperavam, não fornecíamos o tipo de conteúdo que queriam. Queriam outros jornalistas. E foram investir seu dinheiro noutros negócios. É assim mesmo que funciona. NoMicro? Talvez. Quem sabe? Agora, sobre imprensa. Redações não vão acabar e blogs não substituirão o jornalismo. O público sempre vai buscar uma referência, um ponto, no qual encontrará de forma organizada o noticiário do momento que inclua política, esportes, economia, o que for. Este conteúdo será produzido por jornalistas especializados – em política, em esportes etc. Pode vir a ser um site, um podcast, um jornal impresso, um canal de tevê, seja lá o que for. Mas haverá uma redação ali composta por jornalistas produzindo aquilo. A formação do jornalista provavelmente mudará, acho que a exigência do diploma ficará obsoleta, mas ele continuará aprendendo seu ofício ali, fazendo entre pessoas que sabem fazer. Continuará a ser necessário ter gente especializada, em quantidade, para produzir um relato do mundo agrupado num mesmo local. Se um bando de blogueiros se reunirem pra fazer isto, terão montado uma redação e serão jornalistas, mesmo que decidam usar outros nomes para “redação” e “jornalista”. O problema do NoMínimo jamais foi ter uma redação. Olhe o investimento que o New York Times faz em sua redação on-line. A Rede Globo acaba de pôr o G1 no ar. Eles não estão jogando dinheiro fora. Estão preparando a transformação de seu negócio. Jornalismo continuará sendo caro de produzir enquanto você precisar de gente espalhada pelo mundo. Custos caem mas salários continuarão necessários. A imprensa continuará sendo um negócio de cachorro grande. Podem vir a surgir novos cachorros grandes – caso do Google –, mas continuará sendo um jogo de muito dinheiro. Não é a primeira vez que uma nova mídia ou um novo produto entram no jogo. Dou dois exemplos. A televisão estreou no Brasil em 1950. Como no caso da Internet, foi preciso que as pessoas se adaptassem a um aparelho e uma infra-estrutura de distribuição de dados caríssima teve de ser construída enquanto a própria mídia se desenvolvia. Demorou algo entre 20 e 30 anos para o processo se consolidar, na segunda metade dos anos 1970. Praticamente todos os grupos pioneiros faliram. O jornal O Globo sustentou a Rede Globo por dez anos, enquanto ela fechava no vermelho. Mas aquilo, no futuro, daria dinheiro à beça. E o baronato da imprensa o sabia. Segundo exemplo: não havia o hábito, no Brasil, de ler uma revista semanal de noticiário. A Abril colocou a Veja nas bancas. Quase faliu, enquanto o público se habituava ao produto. O Pato Donald literalmente sustentou a Veja por 11 anos. Hoje, a Veja representa 60% dos lucros da Abril. Isto, perceba, não tem nada a ver com a Veja ser boa ou ruim, de direita ou de esquerda. Ela tem concorrentes: CartaCapital, IstoÉ, Época. Aquele modelo de revista colou e anda sendo melhor negócio do que os jornais impressos. Quem apostar contra as redações vai perder. A grande mudança que a Internet propiciará é maior variedade nas fontes de informação. Teremos muitos blogs e sites especializados sobre muitos assuntos. Como todo negócio novo em mídia, custarão a ganhar legitimidade e credibilidade perante seus leitores. Quem acha que a revolução não será televisionada repete um slogan bonito mas não compreende a capacidade da mídia de se transformar e cooptar. Não importa quanto dinheiro você ganha no AdSense. O dia em que um grande grupo achar que você é interessante para compor seu cardápio, vai oferecer um salário irrecusável. E seu nível de visibilidade será extrapolado a um imenso universo de leitores/espectadores. 2. Queria que você falasse, agora, um pouco do seu trabalho em cada um deles. No NO., você era editor de Internacional – como foi essa experiência? Mesmo esse ciclo tendo se encerrado em 2002, muita gente boa me falava que, no NoMínimo, você continuava sendo possivelmente a maior autoridade, da “nova” geração (esta em torno de 30), em Internacional, na internet brasileira. Como é se manter a par de assuntos tão intrincados quanto a problemática do Oriente Médio? E como é manter o interesse do leitor de internet – jovem, dispersivo, ansioso – em temas que exigem bagagem, concentração e até alguma serenidade? Eu tenho curiosidade, por exemplo, em saber o que te levou para a área de Internacional, porque você começou – e se tornou uma referência nela – com menos de 30 anos... Com menos de 30 (ou, às vezes, até mais), na blogosfera brasileira, a gente só encontra bravateiros, que não leram nenhum livro a respeito e que ficam regurgitando as manchetes dos jornais... – como você conseguiu fugir do fanfarronismo on-line? Gosto muito das suas entrevistas, Julio. E é uma honra ser entrevistado por você porque o Digestivo Cultural repercute muito na Internet tupinambá. Mas seu estilo de perguntas é uma armadilha – são elogios demais por centímetro quadrado. Agradeço: só que, menos. Não é assim. Sou repórter e treinado como repórter numa escola que forma gente com capacidade de aprender sobre questões novas há pelo menos um século e meio. Minha escola são as redações, são os jornalistas mais velhos. É só isso, não tem mistério e somos vários em todas as redações. Gosto de política americana. Morei muito tempo nos EUA, quando criança, quando adolescente, gosto do lugar. Me sinto em casa no norte da Califórnia. Entendo tanto aquele mundo quanto entendo o Rio de Janeiro. Também passei parte da adolescência envolvido com grupos jovens judaicos. Não sou judeu, tenho ascendência judaica, mas eram meus amigos de escola e de faculdade. Estes dois universos, EUA e Oriente Médio, fazem parte do meu mundo, sempre fizeram por conta da história pessoal. Comecei a cobrir Internacional para a NO., em 2000, quando as eleições presidenciais desandaram na Flórida. Sabia fazer uma busca no Google, havia sido alfabetizado em inglês, acompanhava política dos EUA, e as duas coisas, naquela época, fizeram diferença para encontrar muita informação e conseguir algumas boas entrevistas. Hoje, você entra em qualquer redação e qualquer jovem repórter fala bem inglês e sabe usar o Google. Então foi sorte. Sorte de estar em NO. e sorte de ter as ferramentas para produzir aquilo. Repórter sem sorte morre pagão. Aí, em princípios de 2001, fui efetivado como editor de “Inter”. Veio o Onze de Setembro e, então, a Guerra do Afeganistão. Foi a primeira vez em que tive que lidar com algo que não conhecia. Comecei a ler. Comprei livros na Amazon, passava o dia lendo on-line. Até hoje sou capaz de dizer da divisão étnica e religiosa afegã, conheço as personagens, as batalhas perdidas por Alexandre ou Império Britânico ou Soviéticos e conto lendas regionais. Foi um momento de obsessão e é um país dos mais fascinantes que existem no planeta. Na época, a imprensa estava perdidinha, não sabia usar Internet, contava com as agências de notícia. Mas uma reportagem num jornal australiano aqui, outra num paquistanês ali, uma terceira num russo – tudo isto, costurando, permitia fazer um relato diário da guerra que tinha início, meio e fim. Se você lesse nos jornais brasileiros, estava tudo confuso. Mas, no NO., a história seguia contada. Como fiz? Fiz o que a blogosfera americana fez na mesma época. A diferença é que, em 2001, eu era o único fazendo aqui. Não estava inventando rigorosamente nenhum método. Estava copiando. Hoje, não só blogueiros como jornalistas conhecem a capacidade de edição e de costura de informações publicadas em vários cantos que a Internet nos permite fazer. 3. Particularmente, aprecio muito a sua cobertura, em paralelo, de internet. Considero você uma das maiores autoridades no assunto, de novo (desde o seu primeiríssimo livro, aquele que inaugurou a discussão nesse formato, aliás)... Como tem sido, então, acompanhar a evolução da internet, fora e dentro do Brasil, nestes anos todos? Como autor de Manual para a Internet, de 1995(!), você acha que a internet vem cumprindo as expectativas alimentadas em relação a ela? E a cobertura da imprensa brasileira – sobre o que acontece na internet –, melhorou? No pós-Bolha, eu sentia, por exemplo, que quem falava sobre internet, ainda com algum entusiasmo, era considerado meio maluco... Você sentia isso também? Como é ter insistido nessa seara, há mais de uma década, e, de repente, “ter razão” (sobre o futuro, sobre as transformações no jornalismo, sobre os blogs...)? Afinal – assim como você percebeu que os conflitos do Oriente Médio seriam centrais neste novo milênio –, você igualmente apostou na mídia certa... Você sente que está colhendo, finalmente, o que plantou? Novamente: sorte. Morei em Palo Alto, meio do Vale do Silício, entre 1989 e 90. Meu pai é professor universitário, estava como visitante na Universidade de Stanford. Qual era a maneira de se informar a respeito do Brasil? Internet. Havia uma lista chamada Brasnet na qual pessoas transcreviam matérias das revistas, dos jornais, discutia-se o país. Não havia Web, não havia interface gráfica, era tudo terminal Unix, Usenet e listas de mensagens. Então, quando voltei para o Brasil, continuei acessando a Rede, por linha discada, via Laboratório Nacional de Computação Científica, LNCC. Quando a Internet estourou, pintou a chance de escrever um manual. Em dois meses, o livrinho estava pronto e nas livrarias. A imprensa, tanto brasileira quanto estrangeira, reage ao dia. Além disto, tem o cacoete de desconfiar de quaisquer novidades. No dia seguinte ao estouro da bolha, muita gente estava dizendo que aquilo tinha acabado. Mas nenhum jornal saiu da Rede. Continuaram todos lá. E, aos poucos, retomaram seus investimentos on-line. Não sei se “tive razão”. Com o tempo, investirão ainda mais. Tive razão ao lado de uma legião de pessoas. Só no site em que trabalhava, o NoMínimo, era uma penca de gente muito boa. O Eco, outro site que nasceu com gente do NO., nasceu na Internet, não em revista. Neste meio tempo, veio o escândalo do Mensalão e a grande imprensa descobriu que blogs informavam, via Noblat. A Internet é uma história em curso. No estágio atual, todos no meio sabem que ela aumentará sua relevância. Ninguém sabe que Internet existirá no futuro, qual será o peso de áudio, qual o de vídeo, qual o de texto; ninguém sabe que tipo de comunidades se firmarão; qual a participação de blogs no mar de informação. Ninguém sabe se acessaremos a Internet com computadores, tevês, celulares, iPods ou seja lá que gadgets serão inventados. O que sabemos é que o leitor/espectador participará mais. E que a Internet provavelmente será o principal meio de informação por um bom tempo. Mas isto ainda não aconteceu e não sabemos quando acontecerá. 4. E eu ia perguntar por que você não empreendeu, também, na internet – porque você também teve “a visão” etc. Mas aí me lembrei do LAD e lembrei que você empreendeu, sim, em internet, junto com o Marcus Moura... Como foi essa experiência, Pedro? Eu acho que seria interessante falar dela antes, até, do que falar da sua descoberta do fenômeno Bruna Surfistinha; e antes, até, do que falar do seu novo livro (sobre os hábitos sexuais do brasileiro na internet, digamos assim)... Eu já ouvi muita gente dizer que sexo, na Web, é um negócio da China – mas, agora, eu queria ouvir de alguém que, efetivamente, montou um site e, mais do que isso, assinou embaixo... Você acha que o LAD, hoje – em plena Web 2.0 –, teria uma sobrevida maior? A decisão de interromper sua atualização foi mais pessoal ou mais profissional? Você tem a impressão – entrando, um pouco, no seu livro agora (mas nem tanto) – de que sexo virtual é um assunto sério, mas que, ao mesmo tempo, não é levado a sério (como deveria), no Brasil? O LAD foi divertido e trabalhoso, tanto para mim, quanto para o Marcus. Não houve um único mês no qual o site não tenha tido mais leitores do que no anterior. O projeto inicial era fazer uma revista masculina. Teria as mulheres nuas, mas também comida, livros, cinema – o que você encontra numa Playboy. A moça das segundas, que ainda tenho no blog, nasceu no LAD. Depois, tentei a mesma fórmula de blog masculino em NoMínimo, com o Papo de homem. Um dos problemas do negócio é copyright. Mulheres bonitas nuas custam dinheiro. Alguns sites, profissionais, permitem que blogueiros divulguem suas fotos em troca de links para venda de assinaturas. É um modelo interessante, mas seu blog terá as mesmas fotografias que todo mundo. O barato é conteúdo inédito. Então o problema do LAD foi este: para fazer a Playboy da blogosfera era preciso virar Hugh Hefner. Isto custa dinheiro. No barato, 1.000 reais por ensaio. E são precisos muitos ensaios para angariar assinantes, visitas. Há quatro anos, a Internet não era grande o bastante. Hoje, talvez seja. Se sexo dá dinheiro? Dá. Mas é um negócio difícil no qual você tem que concorrer com muita gente graúda. A não ser que parta para o sexo explícito, mas aí já escapa ao meu interesse. Se o velho Hef me parece uma figura fascinante, Larry Flynt não me atrai em nada. 5. Outra pergunta que não quer calar: sobre a Bruna Surfistinha. Penso que você já deve ter respondido a todas as provocações possíveis e imagináveis... mas me surpreendeu uma afirmação, na apresentação do seu novo blog, sobre a Bruna ser “a coisa mais importante” da sua carreira. É sério isso? (Eu sei que você é, igualmente, um grande gozador...) Independentemente da inteligência da sua resposta, eu tenho a impressão de que você – para o bem e para o mal – decidiu assumir que era “o pai da criança”. Eu tenho sérias reservas a ela como escritora, claro, mas reconheço que foi um fenômeno editorial. A Bruna Surfistinha, no final das contas, foi boa ou foi ruim para o Pedro Doria? Eu sei também que não tem uma resposta certa aqui, mas eu gostaria de ouvir o testemunho de quem esteve no olho do furacão... Por um momento, passou pela sua cabeça que você poderia ter ficado rico (ou não)? A Bruna é um autêntico fenômeno de internet (ou nem tanto)? Você apostaria em novos fenômenos editoriais, a partir da blogosfera brasileira? Imagina – é claro que é brincadeira. Mas a história da Bruna foi certamente minha reportagem que mais repercutiu. Reportagem que repercute é sempre bom para repórter. Não tive a chance de ficar milionário, mas ajudou na carreira o que já é bastante bom. A Bruna não ficou milionária. E não acho que ela seja um fenômeno da Internet. Ao menos, não apenas da Internet. Eu queria contar a história de uma garota de programa. Encontrei Bruna num site que reunia clientes de prostitutas que as resenhavam. Bem Internet 2.0, com notas e tudo. Ela era a mais bem cotada – procurei-a, ela topou. O que me impressionou, nas resenhas, é que ela era a garota de programa mais popular de São Paulo não por algo que fizesse na cama mas porque, após a transa, era carinhosa, dengosa ou, como eles chamavam, “namoradinha”. O que eu queria entender é como uma menina de 19 anos conseguia fazer isso. São cinco, seis clientes por dia – ser carinhosa e dengosa com todos, se entregar mais do que transar, é um esforço emocional violento. Eu queria entender como ela conseguia. O custo pessoal só podia ser alto. Foi em torno desta questão que minha reportagem girou. E acho que era este ponto que fazia daquela reportagem original. O resto da imprensa foi atrás da Bruna por conta da reportagem de NoMínimo mas a questão se perdeu. Virou a garota de programa com blog. Mas é porque foram pro clichê. O blog era interessante, muitos clientes voltavam lá para saber que nota receberam, mas era um detalhe na história. Por que do sucesso editorial da Bruna? Por um terceiro motivo. Pelo mesmo motivo que revistas femininas que trazem dicas de sexo vendem como água nas bancas de revista. Sexo não é mais pecado para ninguém. Pelo contrário, vivemos num mundo em que sua capacidade na cama é um valor. Pessoalmente, acho muito melhor do que aquele mundo no qual virgindade era valorizada. Mas inventou-se um tipo de sexo que, aparentemente, mede-se. Pelo número de orgasmos, de acrobacias, de técnicas, de parceiros. Sexo não é isso. Sexo é aquilo que a Bruna vendia – a trepada e o momento do depois. Por isso que era uma excelente profissional numa profissão que não costuma lá ser muito reconhecida... Este sexo que se avalia, que se valoriza, não existe, é uma abstração. Mas gera, de formas diferentes entre homens e mulheres, uma série de inseguranças. É este intangível que vende a revista feminina e o Kama Sutra. O que a editora da Bruna fez? Produziu um livro que pegava uma garota de programa conhecida e a punha para explicar o que uma "garota de programa" sabe que a mulher comum não sabe. Seja você boa de cama como uma puta. Vendeu pra cacete. 6. E o seu livro, como está indo? Como está sendo – eu gostaria, particularmente, de saber – a recepção, em papel, de algo publicado anteriormente (ou quase 100%) na internet? Você pretende continuar com esse “jornalismo literário”, digamos assim, sobre sexo e comportamento? Ou você acha que era mais a cara do NoMínimo – que resenhava, por exemplo, capas de Playboy e tinha, até, um direcionamento maior para o público adulto masculino? Eu sei que você passou aquele tempo nos EUA, e que acompanha bem de perto a imprensa de lá (conhecendo sua história etc.)... Acha que – conforme uma tese, inclusive, do Ruy Castro – aquele jornalismo sofisticado, para um público mais adulto, deixou de existir e muitas revistas – como a Playboy (até no Brasil) – sofreram as conseqüências? Acha, enfim, que é possível ressuscitar esse tipo de jornalismo, para um certo público – cujo gosto, de repente, se tornou politicamente incorreto, não muito simpático às tais minorias e, mesmo, démodé, em meio ao populismo e ao nivelamento por baixo do resto da imprensa? O livro vai bem, vende sempre e pinga um dinheirinho no fim do mês. Num determinado momento, quis escrever sobre sexo e queria um tipo de reportagem que não fosse nem picante, nem moralista. Que fosse apenas descritiva, apenas contasse como é fazer um filme pornô, a vida de uma prostituta, a vida de seus clientes, um clube de suingue etc. Em NoMínimo, eu tinha carta branca de meus editores para fazer a reportagem que quisesse, como quisesse, era um sonho jornalístico que tive o prazer de viver. Minha reportagem favorita, a mais prazerosa, que me deu prêmio, não teve nada a ver com sexo. Chamou-se “Uma estrada à margem da história”, é um texto longo à beça que tem gente que diz que não dá pra fazer na Internet, e que conta a história de uma cidadezinha na fronteira do Pará com o Mato Grosso, nascida nos anos 70 de onde era Amazônia virgem, à beira da Cuiabá-Santarém. É um Brasil que pouca gente conhece. Tem uma saga, ali, que começa no Regime Militar, pega malária, alcoolismo, matanças, MST, Igreja, Neopentecostais, branco, índio, negro, o ciclo do ouro, da madeira, da soja... Jornalismo literário está vivendo um ótimo período. Tem muita gente boa fazendo. Há mais abertura para ele nas várias redações do que houve nos últimos vinte anos. Se voltarei a fazer jornalismo literário? Carreira de jornalista a gente não consegue controlar, muito. A gente faz o que nos pagam para fazer. Certamente é uma coisa que me dá prazer. Mas blog me dá muito prazer também. Textos mais explicativos de política externa, ou de ciência, ou de Internet/tecnologia. Muitas coisas me dão prazer. 7. E a Piauí, o que você está achando dela? Pensa que a revista é um bom lugar para pautas como as do seu livro? Quando vamos te ver nas páginas dessa publicação? Aliás, entre as especulações sobre uma possível continuidade do NoMínimo, estava a de justamente uma fusão com a Piauí – essa informação procede? Muita gente lembrou, também, que a Piauí foi formada com um pessoal, gabaritadíssimo, do próprio NoMínimo – Mario Sergio Conti, Marcos Sá Corrêa, entre outros... A ausência de um projeto comum, ou simplesmente a morte do NoMínimo, é um indício de que não há lugar para duas publicações, desse nível, no Brasil? Alguma tese sua a respeito? Por outro lado: como blogueiro militante – no melhor sentido do termo –, não acha que, de repente, essa postura, de colocar-se numa espécie de “olimpo”, numa “torre de marfim”, não combina muito com a era da hiperconectividade, da “conversação”, do cada vez menor número de “graus de separação”? Porque, muitas vezes, eu tenho a impressão de que quem mantiver esse “distanciamento”, em relação ao leitor, vai sucumbir – você não acha? Há lugar para um NoMínimo. Se pudéssemos trabalhar de graça e não tivéssemos todos filhos para sustentar, o site seria fatalmente muito lucrativo daqui a dez anos e pagaria seus custos até lá. Crescia a cada mês e muitos portais se interessaram. Faltou tempo para negociar tudo, não interessados. Não dá pra viver mais que um mês sem salário. Quanto à Piauí: é a melhor coisa publicada pela imprensa brasileira, hoje. E lá dentro trabalham algumas das pessoas que me ensinaram pra cacete. 8. Voltando à blogosfera brasileira... Eu sempre admirei sua disposição, incansável, em responder e em debater com os comentaristas do Weblog do NoMínimo. Admirei, igualmente, o seu entusiasmo e a sua disposição em ajudar a construir uma blogosfera que fosse relevante, consistente e que pudesse, realmente, fazer frente à imprensa (como acontece nos Estados Unidos)... Mas lembro, agora, daquele seu desabafo, em que cobrava, num artigo, os “blogs [brasileiros] de informação”... Você sente que mudou alguma coisa, na blogosfera daqui, depois daquela sua bronca? Continuamos mais na opinião do que na informação, em matéria de blogs? Teve gente que, por exemplo, já reconheceu o seu pioneirismo nesse setor? Ou a grande massa dos jornalistas (e blogueiros) preferiu fingir que a história dos blogs, no Brasil, é coisa do ano passado (ou retrasado)? E, finalmente, como você avalia a nossa blogosfera hoje, combinando pioneiros como você – que resistiram –, e “arrivistas” – como jornalistas do mainstream e outros profissionais de outros setores? Sou hiper-reconhecido, bicho. Não tenho queixa alguma neste sentido. Muitos dos pioneiros da blogosfera brasileira não são reconhecidos. No meu caso, estando em NO. e NoMínimo, lugares que os blogueiros liam, tive muita visibilidade. Jornalista sem sorte morre pagão, já disse. Quando escrevi aquele artigo, ainda não existiam os muitos jornalistas que blogam, hoje. Ainda assim, creio que uma blogosfera mais saudável, no padrão americano, ainda falta. Nos EUA, blogueiros não se limitam a comentar o que encontram na imprensa. Incluem mais informação, interpretam, questionam dados. Levantam suas próprias pautas. Agora há pouco, mesmo, um escândalo envolvendo o procurador geral da república, lá, nasceu num blog. Você não vê isto, no Brasil. E blog de jornalista não vale. Uma blogosfera saudável tem de ser mais diversa. Não acho que substituirá a imprensa, mas compõe um ambiente para discussão. Mas, enfim, esta ainda é uma história em curso. No fim das contas, tem a ver com o fato de termos pouca gente on-line, no Brasil. Não tem massa de leitores e não criou ainda uma blogosfera informativa de peso. Com o tempo, melhorará. Quanto ao contato com leitores, através de caixas de comentários agitadas, isto ainda é novo para jornalistas, para todos nós. Viemos de outra cultura – sinto isto até mesmo em mim, que já fui criado um bocado dentro da Internet. É bom porque é democrático. Bom porque complementa a informação, corrige um detalhe. Corrige todos os detalhes. Quando é feito em alto nível, ótimo. Eu posso reclamar muito pouco, tenho bons leitores. Muitos à esquerda reclamam muito, dizendo que meus leitores são todos reacionários. Os de direita reclamam que tem muito comunista no blog. Então acho que tem algo de certo acontecendo, ainda mais hoje em dia. A Internet facilita o isolamento de grupos nos quais se reitera a opinião um do outro. Ambientes onde há discordância, no entanto, são os melhores. Mas é ruim porque o leitor, às vezes, é de uma agressão, de uma violência, atroz. Se discorda de você, tem uns que começam questionando sua capacidade profissional, reclamam que você está manipulando dados, seguem duvidando de seu caráter e terminam na sua mãe, na sua mulher. E tudo porque, dados os mesmos fatos, chegaram a conclusões diferentes. Como se não pudéssemos todos, honestamente, chegar a conclusões diferentes. Não temos, no Brasil, muita cultura de discussão. Talvez porque é uma democracia recente, ainda, e ainda assim o maior período contínuo de democracia de nossa história. Num momento em que muitos dizem que direita e esquerda não existem, jamais tivemos tantos colunistas marcadamente de direita e marcadamente de esquerda travando uma guerra ideológica declarada e, em muitos momentos, de uma extrema deselegância. No caso de alguns, em ambos os lados do espectro ideológico, trata-se de pura má fé, jogo pra uma platéia ansiosa por esta discussão meio superficial. Mas o problema não é apenas brasileiro. Há um período de divisões em todo mundo, de extremismos em muitas áreas. No caso dos leitores de blog, às vezes são de uma falta de educação chocante, que muito dificilmente cometeriam frente a frente. O anonimato da Internet permite covardia. Conheço jornalistas que quiseram muito ter blogs e, quando viram como é, pularam fora. Não agüentaram o tranco do leitor. Não porque não querem ser corrigidos. Mas porque a barra pesa. Você tem que ter crosta ao invés de pele para escrever na Internet. Na hora do balanço, acho que vale cada segundo. Todo jornalista é um pouco egocêntrico e um pouco masoquista, se é que ambas as coisas possam conviver numa pessoa só. 9. Uma pergunta que eu ia fazer no começo mas que acabou ficando mais para o final: ainda existe algum resquício do estudante de engenharia da UFRJ no jornalista Pedro Doria? Não acha que, por mais que você tenha se afastado da engenharia, essa sua ligação ancestral com tecnologia acaba te salvando da “obsolescência” que hoje atinge muitos jornalistas? Li, uma vez, uma ótima entrevista sua, em que você sugeria que fossem repensados os cursos de comunicação... Depois de mais esse aviso seu, acha que algumas “fichas” caíram na academia – ou estamos ainda longe? Em outra ocasião, eu li que o profissional de jornalismo do futuro vai ter de, obrigatoriamente, misturar humanismo com tecnologia; e, ainda, que os melhores profissionais serão aqueles que mais souberem combinar as duas coisas... É por aí? Assim: como é que um sujeito como o Robert Fisk, quando vem ao Brasil, tem a cara de pau de afirmar, para o Marcelo Tas, que, como jornalista, ele não precisa do Google? Não concordo que a obsolescência atinge muitos jornalistas. É um período de transformação para todas as profissões e isto cria muita insegurança. Mas, nos últimos anos, a tecnologia tem sido aceita de cada vez mais bom grado. As redações são mais jovens, hoje, do que eram quando comecei, há 13 anos. Houve muita renovação – até demais. Cabeça branca faz falta. Tecnologia não substitui experiência, complementa. E, como disse lá atrás, esta não é a primeira, nem a segunda, grande revolução tecnológica que a imprensa pegou nos últimos anos. Houve a tevê e houve o rádio só para citar as mais evidentes. Houve também os terminais de notícia direta para grupos financeiros, mudanças na tecnologia de impressão. Há experiência acumulada na lida com estas coisas. A turma que está chegando às faculdades já vem pronta e inovadora tecnologicamente e aquilo que tem que aprender, aprenderá por conta própria. A Internet facilita o autodidatismo. O melhor que os cursos de comunicação poderiam fazer, para dar apoio, é se transformar em cursos que ensinem fundamentos de economia, de ciência, de matemática, de história, de português, de inglês, de literatura, de ciência política, de biologia. Botar um sujeito na praça que seja capaz de compreender minimamente o mundo já é bom demais. Ele saberá complementar as informações das quais precisará. Quanto ao engenheiro em mim, sei alguma programação, compreendo como funciona a tecnologia e isso permite botar um blog no ar, imaginar determinadas soluções para determinados problemas, tem um lado prático que ajuda o jornalista. Mas não sou engenheiro. O engenheiro é treinado para ser um resolvedor de problemas, uma pessoa muito pragmática, cartesiana, eficiente. Não sou nada disso. Sou confuso. Não larguei engenharia à toa. E, Julio, tenho certeza de que o Robert Fisk não precisa mesmo do Google. Quem precisa do Google sou eu. O Fisk escreve sobre Oriente Médio, fala árabe e hebraico, tem acesso às maiores mentes da região, conhece a cultura que quase incorporou, vive há várias décadas por lá. Robert Fisk precisa de telefone e de sua agenda de telefones. Precisa estar no local onde as coisas acontecem. Lá, certamente saberá contar o clima de como é. Saberá encontrar as provas de que o míssil era americano. Talvez aconteça de apanhar de uma turba enfurecida com ocidentais. Mas que outro repórter saberá dizer ao Ocidente como pensa o árabe que não gosta do Ocidente? Só conheço ele. Fisk será sempre passional e, muitas vezes, francamente anti-Israel – e, nestes momentos, sempre vou xingar muito a partidarização de Robert Fisk. Mas ele é um repórter extremamente corajoso, um homem que conhece profundamente o assunto do qual trata e que escreve bem como os diabos. Repórteres como Robert Fisk nunca mais existirão. Ele é fruto de seu tempo e de uma tradição de repórteres formados numa determinada cultura britânica ainda imperial que produziu, também, pessoas de esquerda. Repórteres como ele, políticos como Tony Benn, são espécimes em extinção. Mas isto não quer dizer que estejam obsoletos. Têm muito a dizer e ainda dizem. Robert Fisk pode não precisar do Google, mas ele é tão relevante na sopa de informação produzida por lá que Robert Fisk dá 2,5 milhões de respostas no Google. É o Google que precisa de Robert Fisk. 10. Para terminar, em meio a tantas incertezas, sobre o mercado para profissionais de jornalismo, o que você diria para quem está prestando vestibular, está estudando ou acaba de se formar? Você apostou na internet desde o início, sofreu alguns reveses, mas se consagrou como uma das principais vozes da Web brasileira – o que aconselharia, portanto, ao jovem que está se lançando nesse mar de informação? Ele ainda deve colocar suas fichas na imprensa-impressa ou deve se lançar, de cabeça, na Web? Eu sempre sugiro ao aspirante que monte um blog nos primeiros anos da faculdade e que, trabalhando bem, saia dela como uma referência na internet – você concorda comigo que isso é possível? Quando até o proprietário do New York Times diz que não sabe se vai continuar imprimindo o jornal daqui a cinco anos, por que, no Brasil, os cursos de jornalismo continuam empurrando os jovens para a grande mídia – não seria o mesmo que, cinco anos atrás, direcionar os jovens músicos para as grandes gravadoras? Eu sugeriria algumas coisas. Montar um blog é uma boa – mas não apenas para escrever. Escrever aprende-se com editor corrigindo. Ninguém aprende a escrever em blog. Aprender a tecnologia é mais importante. Saber escrever HTML, instalar plugins, mexer nos plugins. Entender como construir uma página, que tipo de títulos escrever para ampliar o acesso dos mecanismos de busca. Aprender a lidar com usuários/leitores. Compreender mais profundamente a Internet. Em gente da minha geração, perdoa-se não compreender as profundezas desse bicho. É obrigação de quem está para vir. Aprender business é importante e pode se tornar útil. Seremos todos mais autônomos, mesmo quando funcionários de grandes grupos. Compreender o business da mídia, como funciona publicidade, como funciona o mercado publicitário, onde estão os problemas. É importante porque enfrentaremos um período de muitas inovações e quem compreender o business terá idéias. Quem tiver idéias, vai se dar bem. Conhecer a história da imprensa, como cada onda de tecnologia impactou, o que se pensou. Muitas coisas se repetem. Uma das modas de anos atrás era dizer que, na Web, texto tinha que ser curto. Já falavam que o leitor não tinha tempo de ler coisas longas nos anos 1920, quando inventaram a Time e as Seleções de Readers’ Digest. Hoje, ninguém mais fala que não pode texto longo na Web. Claro que pode. Essas modas, estas soluções mágicas, se repetem ciclicamente. A atual é blog e AdSense. “Blogs e AdSense resolverão a imprensa”. Que nada – e olha que adoro blogs. AdSense é ótimo para fazer parte duma sopa de fontes de financiamento. Quem cair no conto de que é solução, e que banner está obsoleto, vai enriquecer o Google e ganhar uns tostões que desaparecerão na próxima moda. A publicidade está se descolando do jornalismo, encontra novos meios de propaganda na Web sem precisar se atrelar à imprensa. Ainda não sabemos se vai dar certo ou se não e qual o impacto na imprensa. Tem uma roleta russa que acaba de sair para pegarmos. No fim, nada é mais importante que aprender jornalismo. Experiência numa redação de verdade, de jornal impresso, de televisão, é sempre muito bom. É a melhor escola de jornalismo. Eu estou numa das melhores – se não for a melhor – que existe no Brasil, a do Estadão. E adoro o ambiente de redação. Sabe, o jornal impresso talvez acabe. As grandes gravadoras talvez acabem. O negócio da mídia mudará. Mas o negócio da mídia ainda será um negócio que mexerá com quantidades obscenas de dinheiro e que estará nas mãos de grupos grandes. Haverá mais espaço para pequenos? Sim, creio que sim. Mas quem apostar contra os grandes vai perder. Para ir além Pedro Doria Weblog Julio Daio Borges |
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