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Segunda-feira, 6/10/2008
Miguel Sanches Neto
Julio Daio Borges

Miguel Sanches Neto se consagrou como um dos mais importantes críticos literários contemporâneos, com um histórico de colaborações desde as revistas Bravo! e República até jornais como O Estado de S. Paulo e Jornal da Tarde, passando por semanais como Carta Capital e Veja. Paralelamente, Miguel Sanches Neto despontou como um dos mais promissores escritores da literatura brasileira contemporânea, desde a sua estréia no gênero romance, Chove sobre minha infância (2000), até o romance histórico Um amor anarquista (2005), passando por um certo cronismo em Herdando uma biblioteca (2004), fora incursões pela poesia e pelo infanto-juvenil.

Nesta Entrevista, Miguel fala de sua condição geográfica como escritor do Sul: "Sou um autor periférico, de uma área periférica, que é a criação literária". Também do temperamento que chamou logo a atenção em sua crítica: "Nunca agi por cálculo, porque faço tudo de rompante". Lecionando na universidade, Miguel comenta, ainda, sobre os baixos índices de leitura do brasileiro: "(...) o problema não está no professor, mas no tipo de professor que temos hoje". E fala da importância de se ler seus pares: "Fui descobrindo minha voz em contraposição ao coro dos contemporâneos".

Miguel Sanches Neto olha com desconfiança para generalizações e rótulos: "Acredito cada dia mais na idéia de Jorge Luis Borges de que a literatura contemporânea não existe". Faz a confissão de sua aposta mais alta: "Joguei minha vida na literatura". Enquanto explica a variedade de sua escrita: "(...) a diversidade de minha produção reflete uma alma inquieta". Fala, ainda, de suas crenças pessoais: "Não consigo acreditar em quase nada hoje fora das relações de amor". E encerra com um conselho especial para os jovens escritores: "Tenha renda para não se render". — JDB


1. Miguel, conheci você através do Chove sobre minha infância (2000), então queria começar pela parte biográfica, da sua formação como leitor e escritor. Você sempre cita, em entrevistas, o fato de ter vindo de uma família pobre de agricultores, sem o hábito da leitura etc., e da literatura representar, para você, a realização de um sonho quase impossível — pois, a partir de uma origem iletrada, digamos assim, você alcançou o olimpo da crítica literária e, depois, o reconhecimento definitivo como autor. Logo, eu queria que você contasse como foi sair do zero absoluto, em matéria de literatura, até chegar à consagração como crítico, publicando em praticamente todos os jornais e revistas, até a entrada no panteão de escritores da literatura brasileira contemporânea.

Não creio que tenha chegado a nada que possa ser considerado o olimpo da literatura contemporânea. Sou um autor periférico de uma área periférica, que é a criação literária. O fato de publicar em grandes editoras não significa que participo do centro de campo do poder. Podemos dizer que consegui quebrar muitas barreiras, mas muitas outras continuam existindo. E esta é a marca de trajetórias como a minha. Não temos instituições ou grupos de prestígio que nos apóiem, vamos produzindo uma obra que luta contra todas as improbabilidades. É muito mais difícil, num mundo deslumbrado pela modernidade, manter uma carreira literária a partir da periferia, da roça, como é o meu caso. Venho de pequenas cidades e moro numa cidade de 300 mil habitantes. Ser escritor aqui é quase um milagre. Mas sigo neste caminho de construir uma obra a partir deste deslocamento. Quis deixar bem clara a minha denominação de origem neste primeiro romance, que é altamente autobiográfico. O escritor nasce nos lugares mais improváveis, o que é realmente complicado é manter-se ativo contra tudo e contra todos. Poderia dizer que a minha existência literária é uma negação dos principais conceitos sobre a trajetória do escritor. Conheci a pobreza, e tento fazer deste conhecimento uma postura social heróica de negação dos valores imperantes na nossa sociedade. Dessa forma, sou minhas origens.

2. Conheci você também através do seu jornalismo nas revistas Bravo! e República. Lembro de seus ensaios nervosos, na primeira, em que você, desde ali, falava o que pensava e, ao contrário da imensa maioria dos jornalistas, não ficava fazendo média. Ser direto e, literalmente, crítico foi mais um reflexo da sua personalidade — uma confirmação da sua trajetória como desbravador literário — do que uma atitude estudada, uma estratégia editorial, como em certos "polemistas" que vemos hoje? Ao mesmo tempo, o rabo preso é uma constante no meio jornalístico: em geral, o sujeito consegue um posto por indicação (logo, está ali por acaso, e morre de medo de perder a posição); compra algumas brigas politicamente corretas (só para atrair a audiência), mas dificilmente contraria o leitor médio, porque é pressionado para não deixar cair o Ibope (nem diminuir a circulação)... Nunca te vi fazer esse tipo de concessão. Teve um custo muito alto, para você, não ceder às pressões?

Sou descendente de espanhóis e tenho um sangue muito quente. Nunca agi por cálculo, porque faço tudo de rompante. Fiz muitas matérias polêmicas, em várias áreas, mas sempre por explosão de personalidade, de tal forma que hoje posso ser acusado de ter usado os meios de comunicação para me autodestruir. Não tenho espaço nos grandes veículos para meu trabalho. A cada livro, menos espaço. Vivo de meu trabalho como professor numa universidade média do interior do Paraná. Não ganho os prêmios de prestígio, não sou quase lembrado na distribuição das benesses. Então, mesmo sofrendo acusações de que favoreci na crítica este ou aquele autor com poder, continuo sendo, como no poema de Álvaro de Campos, apenas "um cão tolerado pela gerência". Logo logo alguém vai me enxotar.

3. E no terreno editorial, em si? São raros os self-made men, na literatura brasileira, como você. Aliás, conforme o seu "Decálogo" no Rascunho, os escritores deveriam parar de enviar seus originais para todo mundo, em busca de um padrinho (ou de uma madrinha)... Por que será que continuamos assim? É ainda herança da época da colonização — onde os donatários, das capitanias hereditárias, eram indicados por Portugal? Será que os nossos escritores não entendem que tantos "apadrinhados" nunca emplacaram, por que reconhecimento — de verdade — não se consegue falsificar? Você, no processo de publicação do Chove sobre minha infância, já conhecia o Dalton Trevisan, mas acabou passando pela via-sacra de submeter originais às editoras, como qualquer mortal. Atualmente, com a facilidade de se publicar on-line, os escritores perderam a paciência e querem consagração já ("pra ontem")?

Acho que somos muito afoitos. Eu sou afoito, mas tento controlar. Agora, o compadrio é uma marca do homem nacional. E está maravilhosamente estudado nas Memórias de um sargento de milícias, o delicioso romance romântico, e ao mesmo tempo realista, de Manuel Antônio de Almeida. Na estrutura do Brasil, se dá melhor quem mais confunde a esfera pública com a privada. Estamos sempre buscando meios íntimos para resolver situações públicas. Na área literária, não fugimos disso. Somos compadrescos. Já vi de tudo e cheguei a ceder, com muito escrúpulo, a esta lógica. Hoje, tento ficar no meu canto, fazer meu trabalho sem me entregar a estas relações meio promíscuas. Há uma idéia do Pierre Bourdieu que me marcou muito — ele diz que onde há renda não há venda. Tenho uma renda fora da literatura, o salário de professor; busco me vender o mínimo possível. Nem sempre conseguimos, mas me esforço por esta independência. Por aí você vê que sou um autor periférico por orgulho.

4. Queria fechar este primeiro bloco com a sua atividade de professor de literatura. Aqui no Digestivo existe uma eterna discussão sobre a influência dos professores sobre os hábitos de leitura da população. Alguns acusam a escola, com suas leituras obrigatórias, de afastar os jovens, definitivamente, da literatura. E outros dizem que não é bem assim, que o professor não pode ser culpado de tudo, e que os baixos índices de leitura, do brasileiro em especial, são reflexo de outras influências, como a família (não-leitora), o apelo irresistível do audiovisual, até a própria dispersão da internet. Portanto, eu queria uma opinião sua, como professor (embora você não trabalhe diretamente com formação de leitores), e como leitor inveterado, que cresceu, imagino, sem estímulos, mas que encontrou seu caminho.

Acredito muito no papel formador do professor vocacionado. É de grande importância para um neoleitor encontrar alguém que lhe aponte obras, que lhe dê o exemplo de um prazer conquistado pela leitura. Não existe melhor estratégia de formação do que a descoberta no outro de que algo é tão importante para a pessoa que ela o externa sinceramente. O professor assim orientado é uma peça-chave para a formação do leitor. O problema é que nossos professores, na sua grande maioria, e em todos os níveis, não gostam de literatura e não passam esta idéia para os alunos. Fiz mestrado em literatura com colegas que diziam detestar literatura. Gostavam mesmo é de teoria. Então, o problema não está no professor, mas no tipo de professor que temos hoje. Por isso, não podemos prescindir dos formadores de leitores que não lecionam, pessoas que dedicam a sua vida à leitura — elas devem ter maior visibilidade para fazer este papel que os professores nem sempre fazem por não serem leitores.

5. O Paulo Henriques Britto uma vez comentou, no mesmo Rascunho, que ninguém parecia ter lido os autores contemporâneos como você. No melhor estilo Tom Jobim falando de Chico Buarque, ele quase concluiu: "O Miguel sabe tudo". Ultimamente, você me disse que já não acompanha assim tão de perto. Mas, voltando ao Rascunho, você aconselha lá os jovens escritores a lerem seus pares, até para se situar. Eu acho engraçado que raramente os novatos querem ler os estreantes em livro; fazem cara feia, como se não tivessem nada a ver com isso. Eu li muitos nomes novos, de quem ouvi falar, até para confirmar alguns juízos (a maioria dos elogios era mentira, mas essa é outra história...). Enfim, conte-nos da sua experiência de ler e de ser lido pelos seus colegas. (Eu sempre digo que, se nem o novato compra livros de autores novos, quem vai comprar seu lançamento, quando chegar a hora?)

Durante pouco mais de 10 anos, a partir de 1993, acompanhei o mercado editorial brasileiro. Tenho orgulho de ter lido muitos autores desconhecidos e periféricos e escrito sobre eles. Virei, por isso, o endereço de todo lançamento de jovem. Ler os contemporâneos não foi só uma atividade isenta do crítico que me fiz, e que hoje matei, mas foi também uma estratégia de formação do escritor. Eu ia sentindo o que era o mercado contemporâneo, vendo meu lugar naquilo tudo. Fui descobrindo minha voz em contraposição ao coro dos contemporâneos. Então, fui útil para os outros e tirei proveito pessoal disso. Parei de ler os contemporâneos porque chega uma hora em que devemos ler os clássicos que ainda não lemos. Nosso tempo fica precioso demais para fazer leituras de risco. Acredito cada dia mais na idéia de Jorge Luis Borges de que a literatura contemporânea não existe. Ela só vai existir, como matéria que veio para ficar, daqui a 50 anos. Todos esses autores que lemos hoje como os grandes do momento talvez desapareçam quando desaparecerem as suas intervenções políticas. Nesse sentido é que vejo como uma leitura de risco a leitura dos contemporâneos. Ela é necessária para a nossa formação, mas não deve ser exclusiva.

6. Numa de suas entrevistas, você lembra que Machado de Assis "fez de tudo". E, de fato, é impressionante a sua polivalência, Miguel. Passou, praticamente, por todos os gêneros, publicando, se não me engano, livros em todos eles. Você também nos contou, aqui em São Paulo, que está sempre escrevendo e que, quando aparentemente não avança, muda de projeto. Queria que falasse das dores e dos prazeres das suas realizações em matéria de poesia, conto, romance e, mais recentemente, crônica. (E há, ainda, dos livros infantis.) Percebo que, no mercado editorial, prevalecem, também, alguns clichês — como o de que poesia não vende; livro de contos é mais difícil de divulgar do que romance; todo romancista deveria se transformar em autor infantil (para abocanhar o filão dos paradidáticos) — e assim vai... O quanto disso é verdade e em que medida essas informações podem ser trabalhadas em favor da literatura (e, não, contra)?

Eu me iniciei como poeta, e foi como tal que publiquei o primeiro livro — Inscrições a giz, de 1991. Ele ganhou um prêmio nacional. Depois tentei publicar livros infantis, não consegui. Passei a estudar o conto e a escrever as primeiras ficções — este material sai agora num livro intitulado Primeiros contos. Só depois veio o romance e por fim a crônica. Mas o tempo todo fiz crítica. Acho que sou um ficcionista por natureza, pois tenho propensão para viver várias identidades. Tiro partido disso escrevendo um pouco de tudo. Não acredito que todos devam ser assim; mas não vejo problema em seguir este caminho, tão legítimo como qualquer outro. Joguei minha vida na literatura. Sou escritor e professor de literatura. Escrevo diariamente, ora num gênero ora no outro. Escrevo diários, que talvez nunca publique. Enfim, antes de ser uma postura diante do mercado, a diversidade de minha produção reflete uma alma inquieta, alguém que quer viver tudo de uma única vez.

7. Continuando na relação do autor com a editora, gostaria de falar da sua experiência como presidente da Imprensa Oficial do Paraná. Tenho certeza de que os jovens escritores reclamariam menos, da falta de reconhecimento, se passassem uma temporada "do outro lado do balcão", dentro de uma editora ou mesmo de uma livraria. Claro que a Imprensa Oficial não é uma editora comercial, mas imagino que te revelou muitas das engrenagens que compõem esse sistema, desde a edição, propriamente dita, até a impressão, a distribuição, a divulgação etc. Algo parecido com o que você deve ter descoberto, sobre jornalismo cultural, quando compôs as redações de Bravo! e República. Recomendaria, como eu, esse "estágio" tanto dentro do jornalismo quanto dentro do mercado editorial? Muitos novatos — eu já presenciei — se espantam quando percebem que o escritor tem de trabalhar tanto quanto qualquer outro profissional...

Acho muito importante ter uma outra profissão, no lugar em que for possível ou mais adequado para a pessoa. Viver só da literatura, além de colocar o escritor em situações complicadas, expondo-o aos donos do mercado, ainda empobrece a literatura do cara. A presença no coração selvagem da vida, nos ambientes de trabalho, em situações reais de experiência, é muito importante para nos revelar o mundo e suas grandezas e misérias. Não tenho a menor ilusão de que viverei de literatura, e nem quero isso, embora cada vez queira mais tempo para a literatura. Trabalhe onde trabalhar, o escritor só ganha com isso, principalmente se ele conseguir tempo para ler e escrever. O magistério, neste sentido, foi uma salvação para mim. Nele, faço meu papel de formador, garanto um salário e uma aposentadoria e vivo ativamente na sociedade. A literatura é o lado noturno de tudo isso, mas se alimenta desta luz, muitas vezes crua.

8. Por falar em trabalho, gostaria de abordar as suas pesquisas, mais especificamente, talvez, as que envolveram a composição de Um amor anarquista (2005). No caso de Chove sobre minha infância, você se serviu do material oferecido pela própria vida, uma vez que sua estréia no gênero romance é totalmente autobiográfica. Em Herdando uma biblioteca (2004), você também fala de experiências suas, ainda que inserido no mundo dos livros. Já em Um amor anarquista, você recria uma realidade anterior ao seu nascimento e coloca, dentro dela, personagens que surgem da sua pena de escritor. Faz sentido considerar que o movimento rumo a uma literatura menos autobiográfica — grosso modo da primeira para a terceira pessoa — é indicativo da crescente maturidade do autor? Ainda em relação aos estreantes, eu vejo muitos livros escritos para agradar aos amigos, mas parece cada vez mais raro alguém que, como você, mergulhe num outro tempo e lugar — a exemplo, talvez, dos biógrafos...

Para mim, toda literatura, por mais autobiográfica, é um movimento da primeira para a terceira pessoa, pois mesmo a primeira pessoa, quando em trajes ficcionais, é uma terceira pessoa. Não vejo problema no uso de material memorialístico, até acho que isso é algo positivo. O problema está no salto que não ocorre na maioria dos livros que trabalham com a coisa vivida. Aquilo não passa a ser literatura, continua sendo apenas material de memória. Aí, mesmo que esteja em terceira pessoa, ainda é sinônimo de umbiguismo. Quando se dá a alquimia literária, todo cascalho vindo da realidade se torna arte — um exemplo maravilhoso é Os Sertões, de Euclides da Cunha. Começa como documento científico, termina como a mais alta narrativa literária. Este salto é raro, e é ele que diferencia o meramente autobiográfico ou jornalístico do literário.

9. Em A primeira mulher, seu último romance, senti você meio desencantado com o gênero humano. No livro, quase ninguém presta ou, à primeira vista, quase ninguém parece prestar. Desde o protagonista, que, além de corruptor de menores, é fraco, manipulado por uma ex-namorada, que usa-o, para desenvolver sua carreira política (recorrendo, é claro, a esquemas de corrupção), até os personagens que o cercam, as alunas que só querem saber de convertê-lo em trampolim para o consumo, os amigos, parcos, a família, ausente... Estamos — você acha — condenados ao individualismo, como esse seu anti-herói, isolado, num mundo onde todas as relações funcionam à base de troca, em que muito pouca coisa é verdadeira, a emoção praticamente inexiste e vive-se, como dizia Paulo Francis, "por procuração"? Ariano Suassuna reclama da ausência do gênero épico, no Brasil; a alternativa a isso acaba sendo um "lirismo" cada vez mais crítico, descrente, desesperançado?

O narrador deste livro é um personagem descrente que vai construindo uma frágil esperança. Ele se afastou de tudo, mas o romance mostra um retorno ao centro de sua existência, uma possibilidade de reconstrução da vida. Não o vejo como tão desesperançado no final. É meu livro mais contemporâneo, mas também foi meu livro com menor mídia. Não sei dizer a razão disso. Só posso dizer que foi escrito com as vísceras, como todos os meus livros. Embora não assine embaixo de tudo que diz o narrador, acho que ele tem muito de mim. Não consigo acreditar em quase nada hoje fora das relações de amor. O mundo ficou imenso e altamente interativo, mas cada vez ele nos empurra mais, se queremos sentimentos autênticos, para pequenos grupos, os de nosso afeto. É preciso diminuir o mundo para que ele faça sentido. É preciso fechar-se para o mundo em busca de autenticidade.

10. Gostaria que você deixasse, agora, uma mensagem para quem está começando. Se tivesse a oportunidade de mudar alguma coisa na sua própria trajetória, o que você mudaria (se é que mudaria alguma coisa)? O jornalismo impresso ainda é uma iniciação interessante para os jovens escritores ou você sugeriria, diretamente, as experiências de publicação através da Web? Publicar em livro ainda deve ser um dos maiores objetivos — como foi para muitos — ou é mais importante aprimorar o instrumento eletronicamente, para não se arrepender da estréia depois? Oficinas de texto, você indicaria? Cursos superiores de literatura são para escritores ou mais para professores? A crítica, literária, se aprende na academia ou na prática, na leitura e na resenha, periódica, de livros? O que, enfim, os estreantes poderiam fazer para contribuir, positivamente, na construção da chamada literatura brasileira contemporânea?

Não tenho mensagens para dar assim em forma de conselho. Posso só dizer que um escritor que queira ser escritor de verdade, e não um relações-públicas, deve estar preparado para enfrentar um meio adverso. Se as coisas forem fáceis, desconfie e mude de rumo. Todas as vezes que as coisas ficaram fáceis demais para mim, eu me afastei daquele caminho. É no confronto com o mundo que se amadurece o ser humano que somos e o material literário que podemos tirar disso. Acho importante a pessoa que inicia ter uma profissão paralela — pode ser qualquer uma. Ter renda para não se render. Aí está o segredo da coisa, pelo menos na minha ótica de escritor periférico...

Para ir além





Julio Daio Borges
São Paulo, 6/10/2008

 

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