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Segunda-feira, 8/3/2010 Ron Bumblefoot Thal Rafael Fernandes Ron "Bumblefoot" Thal está se tornando mais conhecido por fazer parte do trio de guitarristas do Guns N' Roses, ao lado de Richard Fortus e do DJ Ashba. Mas sua história começou muito antes disso. Seu primeiro disco, Adventures of Bumblefoot, foi lançado em 1995 e já evidenciava seu jeito peculiar de tocar, com uma sonoridade diferenciada. Ao longo de sua carreira, além das técnicas usuais, começou a tocar uma guitarra fretless, ou seja, sem trastes, em que a escala do braço do instrumento é lisa como num violino ou num violoncelo. Também usa um dedal (sim, aquele mesmo que sua avó usa para costurar) para aumentar as possibilidades sonoras. Mas essa procura por novos caminhos está sempre a favor da música. Álbuns como Normal (2005) e Abnormal (2008) mostram a capacidade de Thal em compor boas canções. São os casos de "Normal", "Dash", "Simple days", "Overloaded", e "Breaking", entre tantas outras, que também evidenciam suas influências diversas, do Beatles ao heavy metal.
01) Seu estilo particular é reconhecível e evidente desde seu primeiro disco, Adventures of Bumblefoot (1995). Você sempre procurou abordagens e sons diferenciados? E quais eram (são) suas influências e referências? Eu comecei tocando guitarra nos anos 70, ainda garoto, com 6 ou 7 anos. As bandas que eu me ligava eram Kiss, Beatles, AC/DC, Ramones, Sex Pistols, (Pink) Floyd, (David) Bowie, Queen, Who, Blondie, Boston, Yes, Billy Joel, Jethro Tull, Kinks, e muitos mais... E depois muito metal "old school", que na época não era "old school", era algo completamente novo. Eu tinha uma coleção de música diversa e era uma esponja a tudo o que eu via, ouvia e sentia. Eu nunca me preocupei em me encaixar ou em não me encaixar, eu apenas fazia minhas próprias coisas e talvez algo disso apareça quando eu faço música, o que pode ser visto como uma coisa boa ou ruim. Eu nunca tentei ser diferente, eu simplesmente tentava ser honesto e real e fazia o que eu verdadeiramente sentia e acreditava. 02) Quando eu ouço sua música eu penso num "caldeirão sonoro". Você pode ir de uma música meio "Sex-Pistols-encontra-guitarrista-virtuoso" como em "Abnormal" até uma balada rock como "Simple days". Isso é um trabalho "conceitual" ou apenas surge em sua mente? Como trabalhar para incorporar tantos estilos diferentes e criar de coisas mais "malucas" a canções mais diretas? Todas essas diferentes bandas e pessoas que eu ouvi me inspiraram por toda a vida; e bandas que eu toquei, pessoas com quem escrevi: todas essas coisas são parte do que sou e as pequenas recordações de cada estrada viajada tendem a aparecer nas músicas em diferentes momentos. Todas peças fundamentais que me tornaram o que eu era, o que quer que eu fosse naquele momento. É assim para todo mundo, eu acho. Você é a soma de sua própria existência e, como você continua vivendo, essa soma aumenta. Eu não penso sobre isso quando estou escrevendo uma música, é mais como se a música viesse para mim de algum lugar e eu tento dar aos outros o que foi dado a mim. 03) Qual é sua história com a guitarra sem trastes? Quando e como você começou a tocar? Teve influência de outros músicos do instrumento? E quando e como você começou a tocar com um dedal? Eu tenho usado o dedal, ou algo similar, desde o final dos anos 80. As notas continuam nas cordas depois que a escala termina [a escala são os espaços entre os trastes no braço da guitarra] e eu queria uma maneira de acessar essas notas sem interferir na maneira natural de tocar na escala. Então eu mantenho um dedal no meu dedo mindinho, na mão da palheta, e o bato na corda para atingir as notas, como se estivéssemos tocando a corda no traste. Você precisa olhar na corda em si ― não na escala ― e observar as divisões pela extensão onde você encontraria as notas. Aconteceu o mesmo para tocar a guitarra sem trastes. A Vigier Guitars é a empresa que faz todas as minhas guitarras, a sem trastes, a com dois braços, a velha "Flying Foot" (pé voador) com as asas (risos). Eu tenho tocado as guitarras sem trastes deles por uma dúzia de anos, fiz muitas das minhas músicas nelas e fiquei satisfeito em poder trazê-las para o Guns N' Roses e para o Chinese Democracy. Tocar na guitarra sem trastes e com o dedal pelo braço da guitarra tem o desafio similar de desenvolver uma boa entonação. Com o tempo sua precisão melhora, como aconteceria ao tocar um violoncelo ou um violino.
Foi fácil, só abaixar a guarda e deixar tudo sair. É libertador. Não esconda nada, apenas diga o que você sente e todas as notas se encaixam. É uma história pessoal sobre estar medicado para depressão, me sentindo "normal" pela primeira vez, mas percebendo que você "amaciou" seu lado criativo que faz você ser o que é. Você então luta com a escolha de com qual versão de você mesmo quer viver: aquela "em paz", mas com um interior silencioso, ou aquela batalhando uma guerra interior, mas repleta de música. Escolhi a guerra. Mas eu vivenciei tanto naquela época e é sobre isso que é o CD Normal. O Abnormal foi o capítulo seguinte da vida, de estar no Guns N' Roses e como eu processei as mudanças que ocorreram à minha volta, como eu repentinamente fui visto por muitos uma criatura diferente, do dia para a noite. 05) Por outro lado, o EP Barefoot, apesar de algumas letras fortes, tem um clima mais solto. E as faixas foram escolhidas pelos fãs. Por que um álbum acústico? E por que deixar os fãs escolherem as músicas? Eu nunca tinha feito um álbum acústico, e na maioria do tempo que estou tocando é desplugado, apenas curtindo com um violão. Eu apenas senti que era a hora de fazer. Saiu mais fácil do que qualquer outro disco que fiz e foi muito divertido reescrever e reinterpretar músicas já existentes para encaixar o violão, e para cantá-las novamente. Sobre os fãs escolherem as músicas, a música é para eles, eles deveriam ter alguma participação nisso. Eu os tive cantando vocais de apoio em discos, escolhendo músicas, lista de músicas para as turnês... É um esforço combinado, o artista e os fãs são duas partes que se juntam para completar o quadro.
Em primeiro lugar, o álbum foi lançado. Ter músicas nas quais eu tive participação sendo lançadas fez com que eu me sentisse mais em casa, não apenas como um convidado. Tocar minhas próprias partes de guitarra, ter partes definidas nas músicas novas para tocar e atualizando meu equipamento para tocar tudo ao vivo com a guitarra de dois braços (um com trastes, outro sem), tudo simplesmente pareceu solidificado. E depois de anos juntos, há mais camaradagem, eu não me sinto mais como "o novo cara" ― e isso não tem nada a ver com alguém ter entrado depois de mim. Nós já vivemos juntos uma parte de vida maior agora. 07) Os fãs do Guns N' Roses estão sempre reclamando sobre como eles querem esse ou aquele membro de volta, ou sobre a escolhas das músicas etc. Como lidar com as expectativas deles e com a repercussão sem sentido? Você pode chorar sobre o que não é ou vir ao show e curtir o que é. Meu interesse é sobre o que é. 08 ) Como foram suas gravações no Chinese Democracy? Quais seus momentos favoritos nelas e que tipo de "legado" você acha que o disco vai deixar para a música? Meus momentos favoritos foram torturar o Caram [Constanzo, produtor do disco] sobre a afinação da guitarra. Nós estávamos usando muitas guitarras diferentes, em muitas faixas, com muita experimentação, então nós tínhamos que checar a afinação constantemente. Caram dizia "OK, cheque a afinação, e então nós faremos essa faixa". Eu dizia "Está afinada, estamos bem", só para sacanear ele. Ele respondia "vamos apenas checar e ter certeza". Eu respondia: "Está afinada, está bom, vamos gravar". E ele dizia: "Vamos lá, apenas cheque". Eu: "Não, estamos bem, manda ver". "POR FAVOR CHEQUE A P*** DA AFINAÇÃO!". "ESTÁ AFINADA!". "AFINE!!!!!". "NÃO!!!". (risos) Uma vez ou outra, só para acabar com ele! (risos) Uma coisa boa do Chinese Democracy é que não foi masterizado para tentar ser o álbum com mais volume de seu tempo, em detrimento das dinâmicas e da clareza, como muitos hoje em dia. Eu espero que outras bandas sigam isso, e comecem a masterizar para ter o melhor som, não o mais alto. Nós temos que voltar à qualidade de som e à "variação dinâmica" [dynamic range]. E se você quiser algo mais alto, é só aumentar no botão de volume. 09) Algum plano para um novo disco solo? Você tem algum material? Se sim, já tem alguma "direção musical"? Eu nunca planejo uma direção, eu apenas deixo a música acontecer com qualquer que seja o clima que vier naturalmente. Eu tenho músicas se agitando em minha mente, mas eu não sinto que é o momento de trabalhar nelas. Eu nunca consigo escrever enquanto estou em turnê, parece sempre ser ou um ou outro, estúdio ou palco. No momento, meu foco é na turnê do Guns N' Roses. 10) Como tem sido essa turnê 2009/2010 do Guns N' Roses até agora? Você pode mencionar os melhores e os piores momentos? Tem sido a melhor. Nós estamos nos superando, tocando o show mais longo da banda em sua história (3 horas e 37 minutos em Tokyo, em Dezembro de 2009), tocando em lugares na Ásia pela primeira vez, fazendo jams espontâneas de covers de AC/DC e Pink Floyd, têm sido realmente bons momentos. Momentos que eu tento não pensar sobre, hmmm... Passar a primeira noite da turnê asiática de cara para baixo num chão de banheiro, vomitando 16 horas seguidas (risos) e ficar dopado de remédios de gripe me sentindo muito doente para me mover, na metade da turnê no Canadá. Mas mesmo isso não parece tão ruim quando eu olho para trás, esse tipo de coisa acontece sempre na estrada. Você não dorme, sua no palco, toca centenas de mãos, congela entrando no ônibus, outra pessoa está doente no ônibus, vai acontecer, você é o próximo (risos). Os melhores momentos para mim são as coisas que cercam o show, os momentos "normais", de apenas curtir com pessoas legais. Uma boa lembrança foi dar uma aula de guitarra como parte de um concurso de uma rádio em Halifax [cidade do Canadá]. Os vencedores foram uma família realmente legal, eu os levei numa visita ao palco antes do show e curti ouvir sobre onde eles vivem em Newfoundland ― pessoas realmente boas. Gostaria muito de fazer coisas como essa durante a turnê sul-americana, espero que haja tempo de fazer isso e que a agenda de viagem permita isso. 11) Quais suas espectativas para o Guns N' Roses em 2010 e 2011? Eu nunca suponho, prevejo ou espero, porque qualquer coisa pode mudar a qualquer hora ― negócios, doença, desastres naturais, desastres não naturais, qualquer coisa. Eu apenas espero que os planos para o futuro imediato, a turnê sul-americana, corram bem. Tudo depois disso é aberto a qualquer coisa ― eu adoraria continuar em turnê, trabalhar em músicas adicionais, mas apenas as coisas que devem acontecer é que vão de fato acontecer, e estou bem com isso. 12) O que você está esperando da turnê sul-americana? E se sinta à vontade para falar qualquer coisa para os fãs brasileiros? Vocês todos têm sido maravilhosos comigo, muito obrigado! Eu sinto que já conheço muitos de vocês, de e-mails e chats, vocês são muito passionais, vocês têm muito coração. Estou contando os dias até que eu possa vê-los cara a cara, até podermos estar juntos nos shows. Vocês têm meu amor, obrigado por tudo. :) Vejo vocês em breve! Nota do Autor Colaborou Bruno do Amaral. Para ir além Turnê Guns N' Roses: de 07 a 16 de março de 2010. Ingressos em www.ticketmaster.com.br. Tungcast Guns N' Roses: Parte 1 e Parte 2. Rafael Fernandes |
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